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Teatro, e-book e gata comunitária incentivam crianças a respeitarem os animais

5 de maio de 2015
8 min. de leitura
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Por Fátima Checco (da Redação)
A ANDA abre espaço para uma série de reportagens que abordará a proteção animal na infância, pois, é nessa fase que boa parte de nossa personalidade se forma. Muitas das experiências que temos quando crianças nos marcam para o resto da vida. Aliás, é lá na infância que muitos ativistas começaram a abraçar a causa animal mesmo sem se dar conta disso. Por isso, alimentar as crianças com atividades, livros, filmes e tudo o que possa motivar o amor e respeito aos animais é essencial para um futuro em que a natureza seja protegida e os bichos fiquem livres da escravidão.
Educadores com visão futurística percebem o quanto é importante falar de meio ambiente englobando tudo que está em torno da criança e não só de rios, praias e florestas, como se a natureza só existisse distante dela ou só onde ela passa as férias. A Educação Ambiental moderna entende que a criança precisa ser motivada a respeitar a borboleta que pousa em seu quintal, as árvores das calçadas, os passarinhos que moram na cidade e os cães e gatos que vê na rua. Tudo faz parte da natureza: nós, as águas, as florestas, os demais animais… tudo. Ensinar a preservar apenas rios e florestas é ensinar pela metade porque grande parte das criaturas nasce e cresce nas grandes cidades.
Essa série vai mostrar iniciativas que trabalham proteção animal com crianças em escolas, comunidades ou eventos. Haverá dicas de livros e filmes que podem sensibilizar as crianças nesse sentido. Aliás, quantos de nós não tiveram esse “despertar para a causa animal” a partir de algum filme ou livro onde um bichinho era o protagonista?
Como vemos pelas notícias, há um crescente número de pessoas se envolvendo com a causa animal ou, pelo menos, prestando ajuda a animais eventualmente. Chovem denúncias e resgates. São pessoas de várias idades e profissões, além de policiais e bombeiros que têm socorrido animais em situações extremas como nunca víamos acontecer anos atrás. São manifestações pelos direitos animais em toda parte do planeta. No entanto, vai depender das gerações futuras a criação de leis, de posturas e de uma nova visão. Que essa nova série da Anda inspire a todos (educadores, pais, avós, tios, protetores e simpatizantes da causa) a envolver as crianças numa atmosfera de comunhão com a natureza e respeito aos animais, afinal, uma coisa não é possível sem a outra!
Capítulo quatro
Teatro e e-book infantis incentivam ao veganismo

Cena da peça
Cena da peça “Solua, um vampirinho vegano” (Foto: Divulgação)

Que tal convencer um fazendeiro, uma tribo indígena e um gato a se tornarem veganos? Difícil? Pois essa é a missão de “Solua, um vampirinho vegano”, cuja história está disponível em e-book a apenas R$ 7, escrito pela multiterapeuta e psicopedagoga Lou de Olivier. Além de incentivar as crianças a respeitar a natureza, os animais e ensinar sobre alimentação vegana, a renda do e-book ajuda entidades como Gatomóvel Educação Ambiental (auxilio a animais abandonados) e Associação de Pais Inspirare (Portadores de Autismo, Dislexia e TDAH). Pode ser adquirido pelo link.
A peça de mesmo nome e que se baseou no primeiro episódio do e-book foi encenada no ano passado em SP e deve voltar às escolas e teatros, reformulada, ainda este ano. Nela, Lou interpreta Dona Vampiruska, mãe de Solua. O segundo episódio é tocante: Solua entrevista vacas, porcos, galinhas e peixes para saber como se sentem sendo usados como alimento dos humanos. Mas segundo a autora, a linguagem é branda: “Escrevi o texto de forma a agradar a todas as idades porque sei que os pais assistindo poderão se conscientizar e proporcionar uma alimentação saudável e livre de crueldade aos seus filhos e a eles próprios”.
“Solua, um vampirinho vegano”
“Solua, um vampirinho vegano” (Foto: Divulgação)

Lou é vegana há cinco anos: “Antes fui vegetariana por dez anos. Desde criança eu já não comia frango, peixe nem porco. Comia pouca carne bovina também. Não gostava de leite. A consciência total veio quando cursei Medicina Comportamental e um pouco de Nutrição. Foi então que conheci os bastidores da alimentação. Não dá para conhecer esses lugares e continuar se alimentando como se não soubesse de nada. Fui me aprofundando nos estudos e divulgando tudo que eu descobria. Até que resolvi lançar o Solua, um vampiro de bem com a natureza e que defende o veganismo”.
Lou é autora de nove livros didáticos e de duas peças encenadas no Brasil e Portugal. Ela tem só um gato em casa, mas ajuda a manter outros treze e um cachorro. Tudo o que faz artisticamente procurar reverter renda para entidades de animais carentes e crianças especiais. Tem projeto de transformar “Solua” em filme. Para conhecer melhor os projetos de Lou Olivier e contratar a peça do vampirinho vegano é só acessar o link.
Gatinha conquistou professores e alunos
Gata Branca com seus guardiões
Gata Branca com seus guardiões (Foto: Divulgação)

Pura inspiração esse exemplo! A gatinha de nome Branca foi adotada pelos funcionários da EMEI Prof. Carlos Corrêa Vianna de Bauru (Interior de SP), que atende crianças de 1 a 5 anos. Já se passaram dez anos desde que ela foi abandonada na escola e de lá para cá só enriqueceu o aprendizado das crianças. “O abandono acabou gerando uma agitação grande entre os alunos, funcionários e pais que se deparavam com a gatinha miando muito, extremamente faminta e assustada. Eu, como diretora da escola, precisava tomar uma atitude. Não poderia jamais dar um mau exemplo colocando a gatinha para fora do portão e reforçar um erro outrora cometido por alguém. Era preciso dialogar com todos os envolvidos”, conta Rosana Aparecida Orcini Bernardi.
Foi assim que começou a história dessa gatinha comunitária. Rosana percebeu que ao invés de um problema, tinha a oportunidade de ensinar respeito aos animais, numa vivência prática. “Pensei que as crianças poderiam, naquele momento, refletir sobre o abandono e conhecer o significado do termo Posse Responsável. Num primeiro momento matamos a fome e sede da Branca e, num segundo momento, reuni os professores expondo que tínhamos um problema (um animal em local inadequado), mas também uma oportunidade de ensino tirando as crianças do senso comum de que um animalzinho é um ser da natureza e que, por isso, pode se virar sozinho”, explica.
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Foto: Divulgação

Com os argumentos de Rosana, a assembleia resultou na adoção de Branca. A segunda etapa era convencer os pais de que a presença de Branca na escola seria positiva. Os receios mais predominantes giravam em torno da saúde das crianças, alergias e dejetos da gatinha. “Convidei os pais a verem a higiene do local, o uso da vassoura de fogo na areia do playground e a caixinha sanitária da Branca. Na matrícula e rematrícula tornamos os pais cientes, por meio de declaração, que as crianças teriam contato com a gatinha e no texto expusemos que esta é uma orientação de cunho pedagógico contido em documento oficial do Ministério da Educação e Cultura. E assim deu tudo certo para as crianças e para a Branca”, conta a diretora.
Gata motiva a prática da cidadania
Branca acabou servindo até mesmo de incentivo para as crianças mais novas, de 2 a 3 anos, aceitarem a escola. “Percebemos que Branca podia acalmar as crianças que, ao iniciar a vida escolar, entravam em crise de choro. Procurar a gatinha, dar ração e cuidar dela fazia com que várias crianças gostassem de ficar na escola”, salienta.
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Foto: Divulgação

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Mas não foi só isso. A missão de Branca foi além. A gatinha motivou ainda um programa voltado para proteção e respeito aos animais e uma carta endereçada à prefeitura com os anseios dos pais. “Esse projeto faz parte do currículo escolar da turma do Jardim II. As crianças assistem o vídeo ‘Fulaninho, o cão que ninguém queria’ do Instituto Nina Rosa e recebem a visita de funcionários do Centro de Controle de Zoonoses para conversar sobre o assunto”.
A Escola também envolve os pais pedindo que respondam pesquisa sobre suas percepções sobre o tema: o que é posse responsável, o que fazem diante de um animal abandonado ou vítima de maus tratos, se conhecem o serviço do CCZ e o que esperam que seja feito para minimizar o problema do abandono no bairro. “Com posse destas informações, as professoras tabulam as respostas e juntamente com as crianças levam a carta de intenção da comunidade para o prefeito. Tentamos envolver no projeto os alunos, as famílias e as autoridades”. Quem diria que uma pequena gatinha seria capaz de promover tanto progresso. Que sirva de inspiração!
Conheça outras iniciativas inspiradoras com crianças nos capítulos anteriores dessa série:
– Sobre a ONG MICA que ensina amor e respeito aos animais por meio de oficinas e concursos de arte
– Palestra sobre proteção animal para crianças e jovens, e dicas de livros que estimulam o respeito pelos animais
– Sobre iniciativa de posse responsável em escolas municipais e dica de livro que conta história de cãozinho de rua e livro de Paul McCartney

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