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IMPACTO POSITIVO

Os castores podem nos ajudar a nos adaptar às mudanças climáticas

15 de março de 2025
Jack Marley
5 min. de leitura
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Foto: Enel Lepik | Wikimedia Commons

Os castores, esses roedores de dentes de ferro com talento para a engenharia hidráulica, podem retornar legalmente às bacias fluviais da Inglaterra após uma ausência de 500 anos.

O Castor fiber vem retornando nos últimos 20 anos graças a reintroduções não autorizadas. Mas, até algumas semanas atrás, um cercado era o único local onde esses mamíferos semiaquáticos podiam viver legalmente no Reino Unido.

Governos sucessivos hesitaram em conceder licenças para a soltura de castores, devido à sua capacidade de transformar o ambiente de maneiras imprevisíveis. No entanto, quando se trata de mitigar e se adaptar às mudanças climáticas, essa é a sua maior vantagem.

Quando o reinado do Tyrannosaurus rex terminou abruptamente há 66 milhões de anos, um “castor pré-histórico” estava em ascensão, segundo Stephen Brusatte, paleontólogo da Universidade de Edimburgo.

“Não era uma boa época para estar vivo”, diz ele. Um asteroide colidiu com a Terra com a fúria equivalente a vários milhões de bombas nucleares. Mas o Kimbetopsalis simmonsae, com seus incisivos protuberantes e apetite por folhas e galhos, sobreviveu.

Em poucos centenas de milhares de anos, florestas exuberantes retornaram. Preenchendo os nichos vagos deixados pelos dinossauros extintos, surgiram mamíferos como o Kimbetopsalis.

“Essa explosão de evolução levou aos primatas, que eventualmente levaram a nós”, afirma Brusatte.

Os ancestrais dos castores enfrentaram uma extinção em massa para ajudar os mamíferos a ressurgirem das cinzas. O que os castores modernos poderiam fazer durante outra era de crise planetária?

Represando o carbono

Proteções legais e materiais sintéticos que reduziram a demanda por peles quentes permitiram que os castores reconquistassem seus antigos territórios na Europa e na América do Norte.

Esses roedores, famosos por seu trabalho árduo, não perderam tempo em retomar suas atividades: represando riachos para criar lagoas onde constroem suas tocas em formato de cúpula, protegidas de predadores que espreitam nas margens.

Uma toca de castor em um lago perto de Bad Freienwalde, no nordeste da Alemanha. Foto: Ebenart/Shutterstock

Esse comportamento tem um efeito impressionante no ambiente ao redor – talvez até no clima. Isso porque as represas de castores retêm grandes quantidades de sedimentos ricos em carbono que, de outra forma, poderiam aquecer a atmosfera, diz Christine E. Hatch, professora de geociências na Universidade de Massachusetts Amherst.

No entanto, é preciso encarar essa boa notícia com cautela. As emissões de CO₂ provenientes da atividade humana provavelmente ultrapassaram 40 bilhões de toneladas no ano passado – um novo recorde anual. Esperar que os castores compensem nossas emissões é irreal, para não dizer injusto.

Os castores podem ser habilidosos em armazenar carbono nos pântanos que criam, mas esse benefício está sendo anulado por mecanismos de retroalimentação desencadeados pelas mudanças climáticas. Por exemplo, o aquecimento do Ártico está permitindo que os castores se expandam para o norte. Aqui, suas atividades podem acelerar o derretimento do permafrost, que mantém aprisionado o metano, um gás que aquece o planeta, segundo Helen Wheeler, professora de ecologia da vida selvagem na Universidade Anglia Ruskin.

Abrigo contra a tempestade

Onde os castores realmente brilham é na sua habilidade de restaurar paisagens degradadas.

“Engenheiros renomados, os castores parecem capazes de represar qualquer riacho, construindo estruturas com troncos e lama que podem alagar grandes áreas”, diz Hatch.

“À medida que as mudanças climáticas causam tempestades extremas em algumas regiões e secas intensas em outras, cientistas estão descobrindo que as intervenções naturais dos castores em pequena escala são valiosas.”

As mudanças promovidas pelos castores ajudam o solo a reter água e liberá-la lentamente, o que reduz enchentes e ameniza períodos de seca. Compare isso com inovações humanas, como o asfalto, que irradia calor e permite que a água da chuva escoe rapidamente em enxurradas.

Enquanto as barragens de concreto construídas pelos humanos impedem a migração de peixes de água doce – alguns dos animais mais ameaçados do planeta –, as represas de castores não apresentam esse obstáculo.

“Uma das razões pode ser que os peixes conseguem descansar em piscinas de água parada e em complexos de lagoas mais frias depois de superar as partes mais altas das represas”, diz Hatch.

No entanto, os pântanos criados pelos castores são extremamente eficazes em bloquear uma coisa: incêndios florestais.

“Estudos recentes no oeste dos EUA descobriram que a vegetação nos corredores fluviais represados por castores é mais resistente ao fogo do que em áreas sem castores, porque é bem irrigada e exuberante, tornando-se menos inflamável”, afirma Hatch.

Todas essas qualidades fazem dos pântanos dos castores um refúgio fantástico para uma variedade de espécies selvagens, especialmente à medida que os ecossistemas próximos são abalados e distorcidos pelo aumento das temperaturas e pelos eventos climáticos extremos. Até mesmo nossas cidades e vilarejos poderiam se tornar mais habitáveis com a ajuda deles, já que a água evaporando dessas lagoas resfria o ar durante ondas de calor e absorve o excesso de água durante enchentes.

Os geógrafos Joshua Larsen (Universidade de Birmingham), Annegret Larsen (Universidade de Wageningen) e Matthew Dennis (Universidade de Manchester) são um pouco mais cautelosos.

“A menos que os corpos d’água sejam muito grandes ou numerosos, esse [efeito] tende a diminuir rapidamente com a distância da água. Isso tornaria difícil contar com as lagoas de castores para benefícios de resfriamento em assentamentos humanos”, afirmam.

Ainda assim, permitir que os castores recuperem uma fração de sua antiga abundância ajudará a reduzir a severidade dos impactos do aquecimento global.

“Os castores estão mostrando que seus impactos podem oferecer níveis adicionais de resiliência dos ecossistemas a um clima em mudança, algo que seria sensato adotarmos”, acrescentam.

Traduzido de The Conversation

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