Na contramão do mundo, o Brasil teve um aumento de 9,5% nas emissões de gases poluentes em 2020, em plena pandemia de covid-19, segundo dados do relatório do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima divulgados na última quinta-feira (28/10).
Já a média global de emissões sofreu uma redução de 7%, por causa das paralisações de voos, indústrias e serviços ao longo do ano passado.
A divulgação dos dados ocorre às vésperas da COP26, a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que acontece entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia.
O país está na contramão das suas metas de redução de gases do efeito estufa. Segundo as novas estimativas do SEEG, o Brasil liberou 2,16 bilhões de toneladas de gás carbônico em 2020, contra 1,97 bilhão em 2019.
É o maior nível de emissões em 14 anos — desde 2006. E o maior responsável foi o aumento no desmatamento em 2020, que foi grande o suficiente a ponto de compensar as reduções nas emissões causadas pela paralisação da economia durante a pandemia.
Em um ano em que milhões de pessoas tiveram que trabalhar de casa, serviços foram interrompidos e voos internacionais foram suspensos, era de se esperar uma redução nas emissões no mundo. E foi o que aconteceu na maior parte dos países, mas não no Brasil.
Segundo os dados do SEEG, a poluição provocada pelo setor de energia diminuiu 4,5% no país durante a pandemia, mas os aumentos no desmatamento das florestas e nas emissões provocadas pela agropecuária foram grandes a ponto de anular essa redução na poluição energética.
Brasil é 4º no mundo em ranking de emissão de gases poluentes desde 1850
Outra pesquisa divulgada pela BBC também na quinta-feira (28/10) mostra que o acumulado histórico de emissões de gás carbônico põe o Brasil entre os maiores poluidores do mundo.
No estudo, que leva em consideração pela primeira vez o desmatamento ao contabilizar a liberação de CO2, o Brasil aparece em quarto lugar no ranking de emissões desde 1850.
A China, gigante emergente que só pretende começar a reduzir suas emissões a partir de 2030, é apontada como o segundo maior emissor de gases do efeito estufa no acumulado histórico, atrás dos Estados Unidos.
O levantamento foi feito pelo think tank internacional Carbon Brief e leva em conta dados de emissões de queima de combustível fóssil, mudanças no uso do solo, produção de cimento e desmatamento de 1850 a 2021.
Pesquisas anteriores consideravam no cálculo as emissões decorrentes de queima de combustível, sem incluir a poluição provocada pela destruição de florestas.
A mudança de metodologia altera a lista de top 20 maiores poluidores históricos. Pesquisa de 2019 da Carbon Brief, que só considerava emissões por queima de combustível, apontava EUA, China, Rússia, Alemanha e Reino Unido com os cinco maiores emissores.
O estudo atualizado, publicado em outubro, inclui Brasil e Indonésia entre os grandes emissores, por causa da liberação de CO2 na atmosfera decorrente de desmatamento e manuseio do solo ao longo dos últimos 171 anos.
Conforme esse novo ranking, os cinco países que mais poluíram desde a Revolução Industrial, de 1850 a 2021, são: EUA, China, Rússia, Brasil e Indonésia. No Brasil e na Indonésia, a maior parte das emissões vem da derrubada de florestas e uso do solo para pecuária e agricultura, não da queima de combustíveis fósseis, como ocorre com os demais grandes poluidores.
Portanto, conforme ambientalistas, pesquisas que não consideram emissões decorrentes de desmatamento, negligenciam as peculiaridades da poluição brasileira.
Segundo Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, organização que calcula anualmente as emissões no Brasil, nos últimos 30 anos, cerca de 80% das emissões do país foram decorrentes de desmatamento e uso do solo para pecuária.
Bolsonaro não participa da COP26
Enquanto o mundo se dirige para Glasgow, na Escócia, para participar da COP26, a 26ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, o presidente Jair Bolsonaro optou por homenagear militares que lutaram na Segunda Guerra Mundial, na Itália, e fazer uma visita à cidade de seus antepassados, no norte do país europeu.
O presidente inicia sua viagem pela Itália na sexta-feira. Ele participa no sábado e domingo da cúpula do G20, em Roma.
O vice-presidente Hamilton Mourão justificou a ausência de Bolsonaro na COP 26 afirmando que “todo mundo vai jogar pedra nele”. A principal autoridade brasileira na conferência será o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.