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RISCO

Gases de efeito estufa provocam prejuízos irreparáveis à vegetação

Algumas espécies podem levar milhões de anos para se recuperar, aponta cientistas

12 de agosto de 2024
Paloma Oliveto
4 min. de leitura
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Parque Nacional de Itatiaia, RJ. Foto: João P. Burini | Wikimedia Commons

Em um planeta cada vez mais afetado pelas mudanças climáticas, um estudo multinacional aponta para os riscos que alterações significativas nos padrões de temperatura e precipitação podem representar para a vegetação. Ao estudar os três eventos mais significativos do tipo, incluindo a extinção em massa dos períodos Permiano-Triássico, os cientistas constataram que algumas espécies podem demorar milhões de anos para se recuperar.

“Hoje, enfrentamos uma grande crise bioclimática global”, diz Loïc Pellissier, professor de Ecossistemas e Evolução da Paisagem no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH) e principal autor do artigo, publicado na revista Science. “Nosso estudo demonstra o papel do funcionamento da vegetação para se recuperar de mudanças climáticas abruptas”, aponta.

Pellissier destaca que as situações estudadas pelos cientistas foram provocadas pela liberação de gases de efeito estufa por eventos vulcânicos. “Atualmente, a atividade humana tem levado à emissão desses gases em uma taxa mais rápida do que qualquer vulcanismo. Também somos a principal causa do desmatamento global, o que reduz fortemente a capacidade dos ecossistemas naturais de regular o clima. Este estudo, na minha perspectiva, serve como um chamado de atenção para a comunidade global.”

Vulcanismo

A história geológica da Terra é marcada por períodos de erupções vulcânicas catastróficas, que liberaram quantidades gigantescas de carbono na atmosfera e nos oceanos. O aumento do CO2 desencadeou um rápido aquecimento climático, que resultou em extinções em massa em ecossistemas terrestres e marinhos. O pior deles foi há 252 milhões de anos, nos períodos Permiano-Triássico, no que ficou conhecido como o Siberian Traps

Agora, os cientistas da ETH de Zurique e colaboradores da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, entre outras instituições da Suíça, estudaram como a vegetação responde e evolui em resposta a grandes alterações climáticas. Também investigaram o potencial das mudanças afetarem o sistema natural de regulação carbono-clima.

A equipe se baseou em análises geoquímicas de isótopos em sedimentos e comparou os dados com um modelo especialmente projetado para esse estudo. O programa incluía uma representação da vegetação e o papel desempenhado pelas espécies na regulação do sistema climático geológico.

O modelo demonstrou como o planeta responde à intensa liberação de carbono da atividade vulcânica em diferentes cenários. Um deles, o de Siberian Traps. “Esse evento liberou cerca de 40 mil gigatoneladas (Gt) de carbono ao longo de 200 mil anos. O aumento resultante nas temperaturas médias globais entre 5ºC e 10°C causou o evento de extinção mais severo da Terra no registro geológico”, disse, em nota, Taras Gerya, coautora do estudo.

Regulação

Julian Rogger, da ETH Zurique, que liderou o estudo, diz que a recuperação da vegetação após o Siberian Traps levou vários milhões de anos. “Durante esse tempo, o sistema de regulação clima-carbono da Terra teria sido fraco e ineficiente, resultando em aquecimento climático de longo prazo”, explica.

Os pesquisadores descobriram que a gravidade desses eventos é determinada pela rapidez com que o carbono emitido pode ser devolvido ao interior da Terra — sequestrado pelos processos que desagregam e decompõem rochas e minerais ou pela produção do carbono orgânico, removendo o gás da atmosfera. Os cientistas também constataram que a adaptação da vegetação ao aumento de temperatura está diretamente associada ao tempo em que o clima leva até voltar ao equilíbrio.

Segundo os autores do estudo, algumas espécies se adaptaram aos três eventos analisados evoluindo, e outras migrando geograficamente para regiões mais frias. Porém, alguns episódios geológicos foram tão catastróficos que alguns vegetais simplesmente não tiveram tempo suficiente para agir. “As consequências disso deixaram sua marca geoquímica na evolução climática por milhares, possivelmente milhões, de anos”, ressalta Rogger.

A pesquisa também descobriu que uma interrupção da vegetação aumentou a duração e a gravidade do aquecimento climático no passado geológico. “Em alguns casos, pode ter levado milhões de anos para atingir um novo equilíbrio climático estável devido à capacidade reduzida da vegetação de regular o ciclo de carbono da Terra”, diz Loïc Pellissier, explicando que o mesmo poderá acontecer, caso as emissões de gases de efeito estufa continuem aumentando.

Fonte: Correio Braziliense

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