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Uso de peles de animais na moda: consumidor e marcas sem ética

16 de maio de 2011
4 min. de leitura
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O ethos da moda está na mudança, em produtos com estética efêmera. Mas o efêmero está cada vez mais fora de contexto para o século XXI, em que se busca romper com a cultura do descartável, do produto sem durabilidade e antiético.

O termo moda foi apropriado pelo vestuário, embora o seu significado seja muito mais amplo e aplicado a outras áreas. Mas quando se fala em moda, os produtos para o vestuário são a principal referência.

A moda para o vestuário é orientada pelas tendências criadas pelos sites e birôs especializados, a partir de estudos comportamentais realizados durante viagens pelo mundo em que se observam as pessoas nas ruas, exposições, shows, celebridades, entre outros. Além disso, existem matérias primas em abundância, ou novos materiais para serem usados na indústria da moda. Ou seja, as tendências para a moda têm diversas origens, que são levantadas, prescritas e transcritas em grandes desfiles de moda, revistas especializadas e sites na internet.

O percurso da origem das tendências de moda tem como finalidade entender porque voltou a ser proposto o uso de peles verdadeiras para o vestuário num contexto em que paradoxalmente se propõe uma moda sustentável.

De um lado Marc Jacobs, Zac Posen e Louis Vuitton exibiram peles nas passarelas e por outro lado Stella McCartney não usa peles e até a marca Chanel, que tem como criador o estilista Karl Lagerfeld — chamado de “kaiser da moda” — se rendeu ao clamor ecologicamente correto. Ele criou para a Chanel, em seu desfile de inverno de 2010, peças com peles falsas. Depois disso, elas foram aceitas no circuito de luxo. No entanto, é principalmente no mercado de luxo que as peles de animais continuam a ser usadas.

Se as peles de animais para o vestuário são propostas é porque existe consumidor que usa peles. Então quem é esse consumidor?

Não é preciso refletir muito para se descrever esse tipo de consumidor. Ele é egoísta, não se importa com os outros (humanos, animais, nem com a natureza), quer status (se considera um ser superior e usa símbolos como as peles para demonstrar isso), não tem consciência (segue valores tradicionais sem interesse em questioná-los). Além destas características poderia se elencar outras, mas não é o que se pretende aqui. O que se pretende é afirmar que ao contrário do que foi publicado na revista Veja SP, depois da polêmica sobre algumas marcas, que a indústria da moda não sobrevive sem pele de animais, a moda não precisa usar peles de animais.

A indústria têxtil oferece atualmente diversos materiais e tecidos que aquecem, são estéticos e mais fáceis de manter a limpeza do que as peles de animais. Isso sem contar com a questão ética, que é a mais importante. Afinal, o que justificaria o uso de peles? É a demanda de uma sociedade que supervaloriza o ter em detrimento do ser. Que usa objetos para preencher o vazio de uma existência que foi construída com valores ligados ao consumo para alcançar o bem estar e a felicidade.

Esses valores vêm sendo desconstruídos, mas ainda estamos vivenciando o início da mudança. Para Fritjof Capra, “há soluções para os principais problemas de nosso tempo, algumas delas até mesmo simples. Mas requerem uma mudança radical em nossas percepções, no nosso pensamento e nos nossos valores”. Capra afirma que estamos no princípio dessa mudança fundamental de visão de mundo na ciência e na sociedade, que ele compara com a revolução copernicana. Contudo, o reconhecimento de que é necessária uma profunda mudança de percepção e de pensamento para garantir a sobrevivência humana ainda não atingiu a maioria dos lideres das corporações, nem os administradores e professores das grandes universidades.

Os cursos de moda têm grande influência na formação dos criadores que serão responsáveis pelos projetos de produtos do vestuário e determinarão o uso, ou não, peles de animais. Atuar junto aos estudantes e escolas de moda parece ser um caminho para que os futuros profissionais tenham uma visão mais consciente do mundo e que contribuam para que a moda caminhe para uma mudança, caso contrário, a moda, que prescreve o vestuário, pode estar a caminho do fim! Pois não haverá mais espaço para “Estilo caçador”, “Pelemania”, etc.

Por mais que os criadores e as marcas tentem justificar o uso de qualquer tipo de pele de animal, inclusive o couro, que se torna resíduo da indústria da carne, existem argumentos éticos muito mais consistentes para que a indústria da moda deixe definitivamente de usar peles de animais. Estas peles devem ser usadas unicamente pelo seu proprietário original: o animal. Este sim deve desfilar a sua beleza pelas passarelas da natureza sob a luz do sol e ao som dos pássaros, das águas, do vento… Todos os animais têm direito de viver a sua vida em liberdade e que os escravos da moda despertem para a sua própria liberdade!

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