A pesca acontece há 10 anos, todo mundo sabe, mas a fiscalização não consegue flagrar nenhum infrator matando os botos na Amazônia (apesar dos relatos dos ribeirinhos e até dos rastros deixados como prova da barbárie). A carne do bicho normalmente é usada como isca para facilitar a captura do piracatinga.
“A pesca acontece há anos de forma velada. Fiscalizar é muito difícil pela imensidão dos rios e igarapés”, justifica Andrey Silva, analista do Ibama em Tefé, no Amazonas, cidade onde o órgão ambiental já encontrou carcaças de botos mortos e gaiolas.
Como o piracatinga é necrófago (se alimenta de detritos e restos de carnes em putrefação), o uso da carne dos botos facilita a sua captura. No início do mês passado, moradores do Peru relataram ter encontrado 200 botos mortos. Também existe a prática da venda de olhos do boto-cor-de-rosa como amuletos em mercados do Norte do Brasil.
Além disso, segundo Miriam Marmontel, pesquisadora de mamíferos aquáticos no Instituto Mamirauá, em Tefé, o piracatinga é apreciado na culinária colombiana e, no ano 2000, houve uma pesca em excesso da espécie no país. “Isso fez com que eles buscassem outros locais para suprir a demanda”, diz ela.
A partir daí, o Brasil entrou no mercado. A pesquisadora estima que no município colombiano de Letícia, por exemplo, cerca de 90% do piracatinga vendido tenha vindo do território brasileiro. Ou seja, essas pressões de todos os lados acabam por ameaçar dizimar as espécies de boto.
“Falta fiscalização para prevenir a diminuição drástica da população de botos”, diz Vera da Silva, coordenadora do Laboratório de Mamíferos aquáticos do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). A pesquisadora trabalha tentando conscientizar os pescadores. “Mas eles alegam que com a carne de um boto adulto, que pesa de 150 a 200 quilos, é possível pescar de 300 a 600 quilos de piracatinga em duas horas”, diz.
A caça de botos é considerada crime ambiental, com pena que vai de seis meses a um ano de detenção. A punição pode ser multiplicada três vezes, caso a caça seja comercial.
Fonte: EPTV