Por Dr. Pedro A. Ynterian – Presidente, Projeto GAP Internacional (em colaboração com a ANDA)
Na última semana de agosto, estará no Brasil o Professor Peter Singer (PhD), filósofo e bioeticista, para uma palestra dentro do Projeto Fronteiras do Pensamento. Poucos sabem, até os que escrevem sobre ele e comentam suas ideias, que uma de suas grandes conquistas foi a fundação do Projeto GAP (Great Ape Project) na década de 90 nos Estados Unidos, junto com um grupo destacado de antropólogos, advogados, filósofos e primatólogos.
O autor do livro clássico na defesa dos animais – “Animal Liberation” – voltou seu olhar e sua mente, em 1994, para nossos irmãos chimpanzés, gorilas, bonobos e orangotangos, denunciando para o mundo o extermínio que acontecia com aquelas espécies, que compartilham com o gênero humano um DNA muito próximo de 100%.
Quando a voz e a escrita de Peter Singer levantou a discussão sobre o tema, o mundo surpreso percebeu o mal que estava sendo praticado aos nossos irmãos primatas, sem que alguém reagisse contra isso.
O Projeto GAP, que agora tem sua sede no Brasil e se espalha pelo mundo, em defesa dos direitos dos grandes símios, vai receber o seu fundador em seu berço: o Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba, onde 50 chimpanzés e um grupo de humanos darão as boas vindas a quem tanto devem, por deflagrar a luta e reafirmar a consciência da proteção a todos os seres abaixo da linhagem humana.
Peter Singer escreveu, em 2003, no livro editado pelo Projeto GAP, denunciando as torturas e a reclusão desumana de centenas de chimpanzés em centros de experiência biomédica nos Estados Unidos, “Recognition for the Uncounted”: “A próxima década será um tempo crucial para os grandes primatas. Uma razão para isto é que o tamanho das populações remanescentes de chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos inevitavelmente será decidido. O mundo tomará uma séria decisão acerca da proteção deles e seus habitats na África e Indonésia, ou primatas em vida livre chegarão a ser minúsculos grupos protegidos só em pequenas reservas e marchando inexoravelmente à sua extinção em qualquer parte.” E continua: “A próxima década também será crucial para o movimento em ascensão que garante os direitos básicos aos grandes primatas. Esse movimento lançado na publicação “The Great Ape Project” em 1993, converteu o Projeto GAP numa organização internacional com representações através da Europa, Ásia, América do Norte, América Latina e defensores em muitos outros locais.”
Esta década está chegando ao seu fim neste ano. Peter Singer foi visionário, mas não calculou que os interesses poderosos encobertos no Especismo lutariam com “unhas e dentes” para que só os humanos tivessem direitos reais neste mundo, e todos os seres inferiores continuassem a ser explorados por eles.
Porém, muito se tem conseguido nesta década memorável. Nós, no Brasil, conseguimos o que ninguém conseguiu no mundo: acabar com a exploração nos circos e nos espetáculos de entretenimento usando nossos irmãos primatas.
Peter Singer poderá ver com seus próprios olhos – durante sua visita em 29 de agosto – como sua profecia de 2003 foi cumprida aqui. E que os quatro santuários brasileiros de grandes primatas, afiliados ao Projeto GAP, que ele inspirou, resgataram mais de 80 de nossos irmãos injustiçados e explorados, que hoje podem viver com decência, amor, respeito e em comunidades deles próprios.
Uma pequena parte da imensa obra que Peter Singer e seus colaboradores pretendiam fazer em 1993, quando o Projeto foi iniciado, atualmente está realizada. E se nós pudemos fazer isso, muitos outros, em outras latitudes do Planeta, também poderão consegui-lo.
Talvez a nova década que agora começa será a consolidação final desta luta e em 2023, em algum lugar do mundo, possamos gritar aos quatro ventos: Os Direitos dos Grandes Primatas Existem!