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"Não gosta de escravidão? Então não tenha escravos, oras."

25 de dezembro de 2014
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É muito comum carnistas (defensores do consumo de produtos de origem animal e opositores do veganismo) reagirem à conscientização vegana reivindicando o direito de continuarem consumindo produtos de origem animal sem serem questionados sobre tal hábito. Tentam colocar “cada um no seu quadrado”, ao dizerem que os veganos “respeitem as diferenças” e idealizarem uma situação de ordem forçada, na qual “vocês vegans ficam com seus vegetais e nós ‘carnívoros’ ficamos com nossa carne, leite, ovos etc.”. Dizem pregar a “harmonia” entre veganos e não veganos, quando o que realmente estão tentando fazer é que os veganos consintam e permitam a perpetuação da exploração animal.
O discurso carnista em questão pode ser muito bem comparado a uma frase que provavelmente foi dita muitas vezes durante o século 19: “Não gosta de escravidão? Então não tenha escravos, oras.” Ou seja, a ordem é que, se os emancipacionistas não gostam da opressão, que não oprimam então, mas deixem os seus opositores escravistas continuarem oprimindo “em paz”.
Nas duas situações – o consumo de produtos animais e a “posse” de escravos –, o discurso político dos abolicionistas é confundido com uma mera questão de gostos e preferências pessoais. É como se estes estivessem tentando impor aos não abolicionistas que “gostem” da mesma coisa que eles “gostam”. Nisso o ato de explorar é tratado como um problema de “gostar ou não gostar” de explorar seres vulneráveis ou participar da exploração deles, e não uma questão moral, de ser ou não ético fazê-lo.
Fica claro, nessa atitude, o desconhecimento, por parte dos carnistas, da íntegra da problemática ética da exploração animal. E, ao contrário do que eles desejam, a exigência do silêncio e recolhimento aos veganos reforça ainda mais a necessidade de continuarmos promovendo o convite à conscientização. Ou seja, quanto mais dizem “Cada um no seu quadrado, vocês com seus vegetais e nós com a carne”, mais temos razão de continuar os esforços de educação vegana.
Não é porque há carnistas tentando nos calar e reduzir nossos argumentos a uma mera questão de gosto que realmente vamos acatar esse silenciamento. Pelo contrário, estão dando mais um motivo para a persistência e fortalecimento da educação abolicionista. Diante dessa confusão entre imperativo ético e gosto pessoal, precisamos deixar claro, aos conscientizáveis, que a oposição do veganismo aos produtos animais não é uma mera preferência, algo parecido com gostar mais da cor azul ou da verde. Os direitos dos animais não humanos não são algo para se gostar ou não gostar, mas sim para se respeitar, da mesma forma que não se pode “gostar” ou “não gostar” de tratar com o mesmo respeito os seres humanos.

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