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CALOR EXTREMO

Massas de ar quente estão se movendo mais devagar e prolongando ondas de calor, diz estudo

Cientistas analisaram dados de quatro décadas e culpam a mudança climática pelo agravamento das sequências de dias com alta temperatura

2 de abril de 2024
Rafael Garcia, de O Globo
4 min. de leitura
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Foto: Paulo Pinto | Agência Brasil

A ciência já mostrou que a mudança climática está tornando mais frequentes e mais amplas as ondas de calor (sequências de dias com temperatura muito alta). As massas de ar quentes estão também se deslocando mais longe, e um novo estudo aponta outra variável que faz o fenômeno se agravar: essas bolhas de alta temperatura se movendo mais devagar que antes no solo terrestre.

Essa constatação significa que, além de as ondas de calor estarem mais intensas, quando elas atingem uma área habitada, elas levam mais tempo para sair dali, como se tivessem “estacionado” no lugar. Essa descrição mais detalhada de como fenômeno está se transformando é objeto de um artigo publicado hoje na revista Science Advances por um grupo de cientistas de universidades chinesas e americanas.

O trabalho que chegou a essa conclusão, liderado pelo climatólogo Ming Luo, da Universidade Sun Yat-sen, de Cantão, na China, analisou quatro décadas registros de temperatura e variáveis atmosféricas em todo o planeta, entre 1979 e 2022. Durante esse período, a velocidade média de deslocamento das frentes de ar quente que caracterizam as ondas de calor (com temperaturas tipicamente acima dos 30°C) caiu aproximadamente de 360 para 325 quilômetros por dia, mostram os números dos cientistas, uma mudança aparentemente pequena, mas com resultados preocupantes nos casos mais extremos.

Além de criar uma reconstrução mais detalhada de como as frentes de calor viajam ao longo da terra, os pesquisadores usaram os dados para montar uma simulação climática. A ideia era usar modelo computacional para mostrar como a Terra se comportaria em relação a esse fenômeno, caso a concentração de CO2 não estivesse aumentando.

O resultado desse experimento computacional deu confiança aos autores do trabalho para afirmar a mudança climática está por trás dessa desaceleração das massas de calor.

“A redução significativa na tendência da velocidade de deslocamento e o aumento nas tendências de frequência e de distância percorrida são provavelmente causados pela forçante antropogênica ao longo das décadas”, escreve Ming com seus coautores. Em outras palavras: a culpa é da emissão humana de gases do efeito estufa.

O problema, diz o climatólogo, tem consequências importantes para saúde humana, para a agricultura e para a biodiversidade do planeta. Os pesquisadores conseguiram estabelecer uma relação entre velocidade e distância percorrida pelas ondas de calor, e a conclusão significa que o provérbio “devagar se vai ao longe”, infelizmente, se aplica bem a elas.

Impacto regional

Ming também constatou um aumento de 0,9°C nas temperaturas recordes atingidas durante ondas de calor, um aumento na frequência delas (de 75 para 98 ondas de calor por década) e na duração média (de 8 para 12 dias). As zonas de latitude temperada foram as mais afetadas particularmente nos verões da Europa e da Ásia.

A América do Sul, também viu um agravamento do fenômeno, mas principalmente na distância que as ondas de calor percorrem no continente.

Um aspecto importante do estudo é que ele detectou que a desaceleração das frentes de ar quente ocorreu com mais intensidade nas últimas duas décadas do que durantes a duas décadas anteriores. Isso significa que a tendência de reduzir a velocidade está aumentando.

O recado do estudo, previsivelmente, é o de que o problema é grave, mas a humanidade tem a chance de evitar que ele se agrave ainda mais,

“Nosso resultados sugerem que as ondas de calor contíguas que viajam mais longe e andam mais devagar vão causar impactos mais devastadores em sistemas naturais e sociais no futuro, se a emissão de gases de efeito estufa continuar aumentando e nenhuma medida efetiva for tomada para mitigação”, escrevem Ming e sua equipe.

Fonte: Um Só Planeta

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