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PROTEÇÃO E RESTAURAÇÃO

Mais que um trabalho, uma missão: jardineiros de corais, a nova profissão que surgiu da crise climática

Os oceanos e os recifes de corais, ameaçados pelas mudanças climáticas, encontram uma esperança em uma nova profissão: os jardineiros de corais. veja do que se trata.

20 de fevereiro de 2024
Cindy Fernández
4 min. de leitura
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Foto: Ryan Borne

A vida marinha tece o tecido invisível que sustenta o nosso planeta. 90% da vida na Terra encontra-se no vasto oceano e os recifes de corais, apesar de cobrirem apenas 0,2% do fundo do mar, abrigam mais de um quarto de todas as espécies.

Não é de surpreender que os corais sejam considerados guardiões da biodiversidade e pilares dos ecossistemas aquáticos. No entanto, por trás da sua deslumbrante beleza subaquática escondem-se as sombras de uma crise silenciosa: o desaparecimento progressivo destes organismos vitais.

Em resposta à crescente crise dos corais, uma nova profissão surgiu e está ganhando força: os jardineiros de corais, ou “Coral Gardeners“. Estes defensores dos oceanos dedicam-se ao cultivo de corais com o objetivo de ajudar os recifes a se recuperarem dos danos causados pelo aquecimento global e por outros fatores de stress.

Cientistas estimam que entre 70% e 90% dos recifes de coral existentes em todo o planeta poderão desaparecer nos próximos 20 anos. As causas são a pesca exagerada, a poluição e, acima de tudo, a mudança climática, que provoca aquecimento e acidificação dos oceanos.

Desde 2017, a associação de jardineiros da Polinésia “Los colores perdidos”, criada por Titouan Bernicot, um jovem de apenas 18 anos, conseguiu plantar mais de 100 mil corais, constituindo um marco nos esforços para restaurar a saúde dos ecossistemas marinhos. Mas seu compromisso não para aqui; eles perseveram na sua ambiciosa missão de atingir a meta de um milhão de corais plantados.

“Ninguém pensou que um dia seríamos capazes de responder à pergunta ‘O que você quer fazer?’ dizendo ‘Quero me tornar um jardineiro de corais’”, diz Bernicot. “Não era um trabalho, mas agora é real.”

O nome da associação faz referência à dolorosa realidade do branqueamento que os corais sofrem antes de morrerem. Este fenômeno, impulsionado principalmente pelo aumento da temperatura da água, desencadeia um processo devastador em que os corais expelem as algas simbióticas que lhes fornecem a sua cor e os nutrientes característicos.

Corais ficando cada vez mais brancos

A causa subjacente do branqueamento dos corais é tão complexa quanto o próprio coral: os corais são criaturas um tanto fantásticas, compostos por milhares de pólipos que lhe dão vida e a bela cor. Um pólipo é um pequeno animal com esqueleto calcário que vem da família das águas-vivas. Esses pólipos se alimentam de microplâncton e excrementos de microalgas, as chamadas zooxantelas, com as quais vivem em simbiose.

Porém, quando a temperatura do mar atinge níveis críticos, em torno de 28°C, as zooxantelas começam a produzir substâncias tóxicas prejudiciais aos pólipos. Em resposta a esta ameaça, os pólipos expulsam as zooxantelas, privando-se assim da sua principal fonte de alimento, levando ao branqueamento dos corais e à fome dos pólipos.

Em 2016, o maior recife do mundo, a ‘Grande Barreira de Corais’, na costa oeste da Austrália, foi severamente afetado pelo branqueamento, causando a pior destruição já registrada: 90% desta gigantesca formação oceânica ficou branca.

Se as temperaturas permanecerem elevadas, os pólipos não podem regressar, levando à deterioração e eventual morte do coral. Quando um coral morre, a restauração do recife torna-se uma tarefa monumental e, em muitos casos, quase impossível.

Como é o trabalho dos jardineiros de corais

Os jardineiros de corais possuem um método inovador para restaurar recifes. Primeiro, eles coletam fragmentos de corais danificados, os limpam e depois os prendem a varas de bambu antes de serem “plantados” a uma profundidade de 2 metros, onde ficam protegidos das correntes.

Os corais permanecem nessas “fazendas aquáticas” por aproximadamente um mês, tempo necessário para se adaptarem ao novo ambiente.

Os jardineiros de corais reciclam cordas velhas e outros detritos abandonados no mar – que muitas vezes prejudicam os corais – para criar os viveiros. Lá, pequenos fragmentos de coral podem crescer em um ambiente subaquático protegido.

Depois de atingirem tamanho e condição saudáveis, são reintroduzidos em ambientes naturais onde podem continuar seu crescimento. Posteriormente, os corais regenerados e fortalecidos são replantados em recifes danificados ou mortos.

Para realizar este trabalho, os jardineiros de corais observam e documentam meticulosamente o crescimento das mudas, adquirindo conhecimentos valiosos sobre a vida dos corais. O objetivo é descobrir quais espécies são menos sensíveis ao aumento da temperatura e da acidez da água.

Ao aumentar a conscientização sobre a crise dos corais, Bernicot espera inspirar as pessoas a participarem ativamente na salvação dos recifes. Através do site Coral Gardeners é possível adotar um coral por 25 euros, dar-lhe um nome e acompanhar o seu crescimento, graças ao cuidado dedicado dos jardineiros de corais.

Fonte: Tempo

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