(da Redação)
Apesar de todas as manifestações de indignação de consumidores e defensores de animais feitas contra a M. Officer, após publicação na ANDA da declaração de Carlos Miéle, dono da grife, de que “os animais de cativeiro são criados para esse propósito. Acho que tudo neles tem de ser consumido, até o osso”, a marca divulgou um comunicado oficial reafirmando que irá continuar usando peles verdadeiras, a menos que o mundo deixe de consumir carne.
Como justificativa para o uso da crueldade em suas peças, a empresa, desprovida de argumentação ética, se apoiou no hábito alimentar da maioria da população. A arrogância e falta de respeito com consumidores e a vida animal colocam a M. Oficcer na contramão de marcas como Stella McCartney e John Bartlett, além de ir de encontro à postura consciente das grifes nacionais Iódice, Colcci e Arezzo que afirmaram em comunicados oficiais que não mais usarão em suas coleções peles de animais. Até o estilista Karl Lagerfeld, conhecido como “kaiser da moda”, apresentou apenas peles sintéticas em seu desfile de inverno de 2010.
Na Europa, os estilistas estão cada dia mais precupados com a ética e sustentabilidade. Em setembro, a semana de moda de Londres terá um espaço exclusivo para as marcas ecológicas – Esthetica.
Em outubro, é a vez de Paris mostrar ao mundo que a inconsciência não tem espaço na moda. Pela quarta vez será realizada a semana de moda exclusiva para marcas adeptas do comércio ético.
Enquanto isso, aqui no Brasil, Carlos Miéle divulga um comunicado desalinhado com a consciência e a tendência mundial.
A coleção da M. Officer que tenta impor o uso de peles verdadeiras num país tropical, mostra o quão distante está a marca das novas tecnologias disponíveis na moda. Hoje existe uma imensa gama de tecidos inteligentes e peles sintéticas disponíveis no mercado. Mas o estilista Carlos Miéle e sua M. Officer baseiam o crescimento da empresa em uma escolha violenta, insustentável, antiquada e brega. A concepção da marca é: já que a violência existe, então façamos dinheiro com ela.
Reproduzimos abaixo na íntegra o comunicado da empresa. Um texto longo cheio de desculpas incoerentes que em resumo reafirma que animal de cativeiro tem de ser consumido, até o osso. O texto beira a provocação quando diz que a M. Officer é “absolutamente contra qualquer tipo de maus-tratos aos animais”.
“O fundamental em uma democracia é que todos tenham o direito de expressar suas opiniões, sem que elas sejam manipuladas ou descontextualizadas. Todos os animais criados são igualmente sensíveis e têm os mesmos direitos. Concordamos e apoiamos qualquer mudança de hábito e leis que sejam para a melhoria do planeta. A questão da preservação destes animais é complexa e só poderia ser alcançada através de um consenso dos Governos Mundiais e Leis que proíbam a criação para o consumo alimentar da carne de qualquer animal e, controlem a sua comercialização em restaurantes, supermercados e outros distribuidores da cadeia.
O consumo de carne é um hábito que está nas raízes da nossa história e essa mudança teria que ser muito bem estudada, considerando a luta contra a fome e a desnutrição, que já afetam milhões de pessoas no mundo, além das conseqüências econômicas, como o aumento do desemprego. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne ABIEC, atualmente o Brasil é “o país número 1 em exportação e o 2º país em consumo de carne bovina” no mundo. Conforme publicado pelo Estadão.com.br, o “Brasil deve virar o maior exportador de frango”.
Matéria publicada pelo Jornal do Comércio informou que “o consumo per capita de carne de coelho em alguns países da Europa é maior do que qualquer outra carne”. “No Brasil são consumidas 12 toneladas de carne de coelho por ano. É um alimento de alto nível nutricional e a tendência é que a cunicultura aumente no país”, segundo matéria publicada pelo Diário Maringá. A sociedade se alimenta da carne animal e utiliza a pele para fazer sapatos, bolsas e peças de vestuário desde os primórdios da humanidade. Com a evolução da sociedade foram feitas leis para a proteção dos animais, porém, se as leis vigentes não são eficazes, somos a favor da revisão das mesmas ou que novas leis, mais eficientes, sejam criadas.
Na nossa opinião é preciso ter leis mais rígidas e um controle mais eficaz para certificarem que o abate seja feito apenas para o consumo da carne. A pele do boi, do peixe, do coelho só deveria ser obtida como subproduto da produção da carne, que é melhor ser utilizado do que desperdiçado. Outros subprodutos de origem animal e que não são usados para a alimentação ou vestuário, deveriam ser utilizados por outras indústrias. “Atualmente os produtores abatem o animal e descartam a pele. Isso é errado, o objetivo é industrializar a pele”, comenta Amauri da Silva, diretor da FEI (Fazenda Experimental de Iguatemi), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), em matéria publicada pelo Diário Maringá.
De acordo com um conceito mundial, não é positivo desperdiçar nenhum subproduto após o abate do animal para o consumo da carne. Permitindo com que esses subprodutos se tornem lixo, que precisa ser tratado e transportado, poluímos o meio ambiente, afetamos diretamente todos os animais e os seres humanos e ainda teríamos que substituí-lo por outras matérias-primas.
A grande maioria das empresas internacionais que estão no Brasil ou não, também utiliza peles de animais para a confecção de bolsas, sapatos e acessórios. Logo, temos um problema de dimensão global, onde Leis que sejam instituídas em um país deverão também ser válidas em todos os outros.
Somos absolutamente contra qualquer tipo de maus-tratos aos animais e apoiamos incondicionalmente qualquer solução inteligente, mudanças, leis e órgãos oficiais de controle para as questões que afligem o meio-ambiente e a vida no planeta.
Pedimos que qualquer pessoa que venha a reproduzir essas palavras faça isso as preservando na íntegra desse texto, sem que elas sejam descontextualizadas e utilizadas para a manipulação de pessoas desinformadas. Essa é uma atitude que só atrapalha o amadurecimento da discussão sobre novas idéias e propostas e, com isso, os maiores prejudicados são os animais. Equipe M.Officer”