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Fiocruz e o caso dos beagles do Instituto Royal

28 de outubro de 2013
4 min. de leitura
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Marilia Yamashita
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Quando veio a tona o caso do Instituto Royal, vieram a público, via redes sociais, diversas imagens, frases de protesto, informações controversas em prol e a favor. Dentre elas, uma imagem, cujo conteúdo era o nome de empresas ligadas ou relacionadas aos financiamentos recebidos pelo Instituto Royal.

Como no caso desse Instituto, que tem como clientes pessoas jurídicas que demandam seus serviços científicos, não haveria como boicota-la diretamente. E o boicote, até onde sei, é uma das formas mais efetivas de se chamar a atenção do mercado para determinadas demandas. Uma das alternativas cogitadas, desse modo, seria verificar quem são seus parceiros e clientes e aí sim promover o boicote ao instituto, por meio da pressão a essas empresas: “não consumirei seus produtos a menos que procurem um fornecedor/parceiro que adote linhas de pesquisa sem o uso de cobaias”.

Entretanto, o Instituto negava veementemente a liberação de sua lista de clientes, assim como retirou seu portal do ar, impedindo qualquer investigação por meio deste. O que sobrou foi verificar qual tipo de ligação as empresas na fotografia teriam realmente com a Royal, uma vez que a imagem não vinha de nenhuma fonte oficial. Mandei dessa forma e-mails e/ou mensagens através da página de facebook a todas as empresas com as quais consegui contato. Somente algumas responderam: A Bunge e a Apis Flora negavam veementemente sua ligação com o Instituto e chegaram a emitir comunicado em suas páginas no Facebook. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entretando, mandou a seguinte mensagem:

(Foto:Divulgação)
(Foto:Divulgação)

O posicionamento da Fundação foi este, respondido alguns dias depois com extrema franqueza tanto para mim quanto para uma amiga que também havia lhes encaminhado mensagem:

(Foto: Divulgação)
(Foto: Divulgação)

Confesso ter ficado estarrecida. A Fundação Oswaldo Cruz é uma instituição pública de renome internacional, financiada pelo Governo. Conforme seu próprio site na internet, os conceitos que pautam sua atuação são “promover a saúde e o desenvolvimento social, gerar e difundir conhecimento científico e tecnológico, ser um agente da cidadania”. Sua Visão, administrativamente, é “Ser instituição pública e estratégica de saúde, reconhecida pela sociedade brasileira e de outros países por sua capacidade de colocar a ciência, a tecnologia, a inovação, a educação e a produção tecnológica de serviços e insumos estratégicos para a promoção da saúde da população, a redução das desigualdades e iniquidades sociais, a consolidação e o fortalecimento do SUS, a elaboração e o aperfeiçoamento de políticas públicas de saúde.” Entre os valores pautados para sua atuação estão “8 – Redução das iniquidades;9 – Compromisso com as principais metas de transformação social do Estado brasileiro e; 10 – Compromisso socioambiental”.

Como se isso não bastasse para gerarmos uma reflexão acerca da antítese que todas essas declarações em que se baseia o funcionamento da Fundação têm com o fato de criarem e serem fornecedores de animais para outras instituições, inclusive a Royal, na mensagem encaminhada via Facebook, eles ainda declaram que estão ligados ao

Centro Brasileiro de Validação de Métodos Alternativos (BracVam), que teria como objetivo validar métodos que dispensem o uso de animais. Logo, a Fiocruz não deveria ser a primeira a não comercializar com outros laboratórios animais para testes, mas sugerir e apontar os métodos alternativos existentes? E como ter compromisso sociambiental se cometem a iniqüidade de comercializar vidas para institutos que cometem crueldades em nome da ciência ? Para transformar o Estado Brasileiro, é preciso transformar valores, dinamismo no agir, e para isso trazer tecnologia nova e multiplicar conhecimento na área de estudos científicos sem o uso de animais. Da mesma forma que o Peta por exemplo, já faz fomentando estudos e artigos sobre o assunto.

Quanto ao BracVam, do qual participam a Anvisa, a Fiocruz e o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), este foi criado em 2011 e ainda não possui um site próprio em que possamos ver as evoluções gerais e implementações que esse Centro trouxe ao Brasil. Quando de seu lançamento, o MCT destinou cerca de R$700 mil ao Bracvam, mas não localizei nenhuma matéria ou divulgação de como foi utilizado este dinheiro. Em matéria da Folha de SP de julho do ano passado, informavam que o Bracvam estava na fase de credenciar laboratórios no Brasil aptos a realizar outros métodos.

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