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CONSCIENTIZAÇÃO

Dia das crianças: animal não é brinquedo, é vida

A importância da adoção consciente por trás da boa intenção de presentear crianças com animais

12 de outubro de 2025
Renata Rocha
8 min. de leitura
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Foto: Freepik

O “miau” de um filhote de gato chegando na família com um laço de fita colorida enfeitando seus pelos fofinhos ou um latido de um cachorrinho peludo saindo de dentro de uma caixa embrulhada para presente, parece ser uma surpresa bem intencionada, emocionante e inesquecível. No Dia das Crianças, comemorado no dia 12 de outubro no Brasil, é até comum ver elas “ganhando” um pet, mas, será que é mesmo uma boa ideia?

Apesar de existir estudos científicos comprovados de que a interação entre animais e crianças agrega benefícios saudáveis para ambas as partes, segundo conteúdos publicados aqui no site da ANDA,  (leia: Estudo revela que crescer com cães pode reduzir risco de asma nas crianças   leia também: Interação entre animais e crianças cria laços saudáveis de amor e respeito à vida) é ideal realizar um planejamento para a chegada de um animal em casa e na família para que o risco de abandono após uma decisão por impulso seja reduzida ou melhor ainda, evitada.

“As pessoas quando vão adotar um animalzinho precisam colocar muitas coisas em questão. Então assim, é aquilo que eu sempre falo: você não é obrigado a ter, mas se tem, você precisa cuidar dele como você cuidaria do seu filhinho humano” aconselha Anelisa de Oliveira, presidente da Associação Protetora dos Animais de Tangará da Serra (APATAS), localizada na cidade de Tangará da Serra, Mato Grosso.

Anelisa, iniciou na causa animal há 17 anos resgatando animais domésticos em situação de rua e dá algumas dicas para a família que deseja adotar um animal doméstico:

  • Ter um bom espaço e quintal fechado sem acesso para a rua;
  • Se a casa for alugada, certificar se haverá possibilidade de levar o animal em caso de mudança;
  • Se conscientizar que plantas e objetos do local podem ser destruídos e que o animal leva um tempo para aprender e se acostumar;
  • Atenção e cuidado especial se tiver crianças, idosos ou até mesmo outro animal em casa;
  • Tempo disponível para cuidados diários;
  • Verificar a disponibilidade financeira para gastos com alimentação e veterinário;
  • Se precaver caso a criança da casa tem alergia ou outro tipo de problema que impeça o contato com animais (neste caso é melhor não adotar, segundo Anelisa);
  • E o mais importante, entender que a responsabilidade é para a vida toda.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 30 milhões de animais estão abandonados no Brasil ficando sujeitos a maus-tratos, e mundialmente, 200 milhões vivem nas ruas, de acordo com a  World Health Organisation (WHO).

Existe um movimento anual criado em 2015 no estado do Ceará pelos ativistas protetores Francisco Alex Carlos Paiva e Drika Moraes, denominado “Dezembro Verde”, o nome faz relação com o Dia Internacional dos Direitos Animais comemorado no dia 10 de dezembro que se tornou também a data simbólica para esta mobilização.

Pesquisas que impulsionaram a fundação do projeto apontam o mês de dezembro como o período que mais registra números de abandonos de animais no Brasil, acredita-se que tais situações muitas vezes são motivadas por ações impulsivas em datas comemorativas como o dias das crianças e o natal. Entre outros motivos, estão também: férias, viagens e mudanças de rotina.

Diante disso, é reforçada a necessidade de refletir e se atentar a detalhes importantes antes de tomar a decisão de levar um animalzinho para a residência, pois, garantir que a adoção responsável seja realizada de forma segura é indispensável para o bem-estar dele.

Outro contraste da realidade sobre a relação entre animal e criança é o que vemos frequentemente nos noticiários. Em alguns casos, testemunhamos histórias felizes de um salvando a vida do outro (veja: “”Corajoso” criança acessa fresta entre muros e resgata filhotes após pedido de ajuda de cadela” e “Cão segura carrinho de bebê que estava deslizando sozinho e salva criança”) e em outros, nos deparamos com notícias tristes (veja também: “Cachorro é espancado por crianças com cabo de vassoura” e “Criança de 9 anos tortura e mata 23 animais”). A partir dessa perspectiva, podemos perceber a preocupação em despertar a consciência ainda na infância sobre a importância da causa animal.

O QUE DIZ AS LEIS?

  • A lei n° 9.605/1998 “Lei de Crimes Ambientais” busca proteger o meio ambiente e garantir a responsabilização por danos causados a ele.
  • A lei n° 15.046/2024 “Lei Sansão”, aumentou as penas para crimes de maus-tratos contra cães e gatos, estabelecendo reclusão de 2 a 5 anos, multa e proibição de guarda. A lei altera a legislação anterior e a pena pode ser aumentada em até 1/3 se o crime resultar na morte do animal.
  • A lei n° 15.046/2024 autoriza a criação do “Cadastro Nacional de Animais Domésticos” que visa combater zoonoses, promover o bem-estar animal, facilitar a localização de animais perdidos e fiscalizar maus-tratos.
Foto: Freepik

CONSCIENTIZANDO AS CRIANÇAS

No dia 30 de setembro deste ano, a prefeitura de Cuiabá, Mato Grosso, envolveu 380 alunos do 1º ao 5º ano do período vespertino da EMEB Maria Elazir Correia de Figueiredo, localizada no bairro São João Del Rei, no lançamento do projeto “Educa Pet”, uma iniciativa que busca mediar essa conscientização da criançada sobre a importância com o cuidado e bem-estar animal.

Na ocasião, a responsável pelo projeto Morgana Ens, diretora técnica do Bem-Estar Animal de Cuiabá, orientou os pequeninos sobre a gravidade dos maus-tratos aos animais instigando eles a responderem um quiz de perguntas, afim de  alertar sobre o compromisso de proteção com os seres inocentes.

Ela também ensinou os protetores mirins identificarem e denunciarem a um adulto situações de abandono e maus-tratos, além de dar dicas sobre alimentação adequada, banho, consultas veterinárias, passeios seguros com a coleira de identificação e a importância da adoção e castração. “A castração é a única forma de controlar a reprodução dos animais e evitar o abandono. Se o cachorrinho não for castrado, a família deve procurar a Prefeitura e solicitar o procedimento” instruiu Morgana.

Os futuros defensores da causa animal, se mostraram engajados no propósito e a inauguração foi um sucesso. “Entendi que temos que cuidar deles. Não pode matar. Eu vou colocar água, ração, dar banho neles e deixar eles felizes” conta a aluna do 2° ano Vitória Eloísa sobre o que aprendeu na palestra. (Fonte: Prefeitura de Cuiabá – MT)

Os defensores da causa animal de todo Brasil estão se mobilizando e se reinventando para que esta educação seja feita desde a fase inicial da vida das pessoas. Além do “Educa Pet” em Cuiabá, Mato Grosso, também em setembro deste ano, foi a vez do projeto “Veterinário Mirim” em Lagoa da Prata, Minas Gerais e em maio do ano passado o projeto “Educapet Kids” em Itanhaém, São Paulo. Todos juntos por uma só razão: a vida digna dos animais não humanos.

João André, de 3 anos, com um de seus cães. Foto: Arquivo Pessoal

ADOÇÃO RESPONSÁVEL

Jordana Bueno, mãe do João André de 3 anos, brinca que os animais “adotaram” ela e toda família, já que tal decisão não partiu por conta própria e também não teve uma preparação antes. Ela tem 3 cachorros em casa, a Menina, o Zé Bonitinho e a Menina Branca, todos foram abandonados anteriormente e ela se viu na obrigação de cuidar deles quando os encontrou em situação debilitada em fases diferentes da vida, inclusive em uma delas, estava no final da gestação do João onde se sensibilizou ainda mais. Jordana relata que apesar do seu filho gostar e ter uma boa relação com os cachorros, nenhuma responsabilidade com os cuidados básicos dos cães são direcionados a ele, “o João não consegue cuidar porque ele ainda criança, mas ele ama os bichinhos dele. O adulto quer deixar para a criança cuidar, deve haver mais conscientização, todos os meus cachorros foram abandonados, nenhum eu adotei porque eu queria” desabafa. Ela também afirma que a interação entre eles é monitorada por ela: “A Menina Branca é chamada assim pelo João porque ela tem o pescoço e as patas brancas, diferente da Menina. Ela é carinhosa com ele mas como ela é grande, ela pula e derruba ele, porém eles se entendem. Com ele, ela não é brava, só é com desconhecidos” ressalta Jordana sobre o motivo de estar sempre por perto nos momentos em que eles brincam juntos.

Mesmo tendo sido pega de surpresa, Jordana garante que agora eles estão em segurança no seu lar: “a minha casa tem um quintal enorme para eles brincarem e todos estão felizes para sempre aqui. Fazem muita bagunça, mordem chinelos, mas é um lar de amor e carinho. Não deixo faltar nada, tem sempre água limpinha e a ração que eles gostam” completa.

Portanto, no Dia das Crianças, pode até ser uma boa ideia adotar um gatinho ou cãozinho, desde que o preparo ideal seja feito e que todos os envolvidos sejam responsáveis e realize esse ato de maneira consciente. Desta forma, animal e criança ficarão felizes e a real boa intenção mesmo estará em presentear o filho ou familiar com um amor que dura a vida inteira.

DENÚNCIA/SERVIÇO

Em caso de flagrante ou emergência ligue para a polícia militar: 190

Para denúncias anônimas ou não emergenciais ligue para o Disk-Denúncia: 181 ou 197 (em estados do centro-oeste)

No caso de animais silvestres ligue para o IBAMA: 0800 61 8080 ou acesse o site www.ibama.gov.br/denúncias

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