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ECOSSISTEMA

Cidades submarinas, corais podem desaparecer em um mundo mais quente — mas há esperança à vista

Ricos ecossistemas submersos, os recifes de corais sofrem os efeitos do aquecimento global, mas eles resistem e já contam com a tecnologia para sua recuperação

3 de abril de 2024
Vanessa Oliveira
4 min. de leitura
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Foto: The Ocean Agency | Ocean Image Bank

Só muda a escala: assim como a água ajuda a regular a temperatura do corpo humano, os oceanos são aliados na manutenção do equilíbrio climático do planeta. Ao funcionar como grandes sumidouros, eles absorvem cerca de um terço das emissões de gases de efeito estufa, vilões do aquecimento global. Mas, ao mesmo tempo em que atuam como heróis do clima, também se tornam vítimas dele. Cada grau de temperatura a mais no termômetro afeta especialmente um dos berçários da vida marinha: os corais.

Base dos recifes tropicais, que estão entre os hábitats com maior biodiversidade no mundo, os corais padecem com a poluição, o aquecimento e a acidificação provocada pelo acúmulo de CO2 nas águas. Quando afetados, esses seres que nos hipnotizam com sua vitalidade multicolorida sofrem um fenômeno chamado branqueamento: eles expulsam as zooxantelas – algas que habitam os pólipos em simbiose – e, com isso, acabam perdendo o aspecto vibrante. Além disso, sucumbem por falta de alimento, já que a fotossíntese realizada pelas algas é sua fonte de energia. O que sobra? Um esqueleto fraco, que deixa de suportar toda a biodiversidade de antes. Por vezes, e com ajuda da restauração, ele pode se recuperar. Nem sempre é o caso.

De acordo com um balanço de 2020 publicado pela Rede Global de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN), o planeta perdeu cerca de 14% dessas estruturas vivas em apenas uma década. Embora cubram menos de 1% do fundo do oceano, esses impressionantes ecossistemas, quando morrem, geram consequências desastrosas. Isso porque mais de 25% da vida marinha oceânica e mais de meio bilhão de pessoas dependem atualmente de recifes saudáveis, que também atuam como barreiras contra inundações.

Desde o final da década de 1980, cientistas observaram ao menos seis eventos distintos de branqueamento em massa. Um dos mais graves se abateu sobre a Grande Barreira de Corais Australiana, em 2022. Mais de 90% dos 2,3 mil km do sistema – o maior do mundo – foram atingidos. Se nada for feito, estima-se que o planeta perderá entre 70% e 90% dos seus recifes até ao final do século. A julgar pelo ritmo do aquecimento das águas, o perigo é iminente: em abril, maio, junho, julho e agosto de 2023, a temperatura da superfície do oceano foi a mais quente já registrada para cada mês desde 1979, de acordo com dados do sistema europeu de monitoramento global Copernicus.

Já há recuperações em curso. Nos recifes de corais do Sudeste Asiático, esforços governamentais se voltam para áreas-chave, como o Parque Nacional de Komodo, onde os danos refletem décadas da prática de pesca com explosivos, que pulveriza os esqueletos dos corais. No geral, a cartilha para reverter este cenário sombrio segue a mesma das demais frentes de combate às mudanças climáticas: cabe aos países agirem energicamente a fim de frear as emissões de gases de efeito estufa e outros poluentes.

A ciência e a pesquisa têm cumprido sua parte, e especialistas recorrem à inovação para gerar soluções baseadas na natureza. A startup brasileira Biofábrica de Corais, por exemplo, usa biotecnologia para criar berçários e promover a restauração dos recifes. Valem, inclusive, alternativas mais simples, como o experimento recente realizado na costa da Flórida, que protegeu corais com guarda-sóis para reduzir o estresse luminoso, em aceno à geoengenharia.

Enquanto isso, a natureza se defende. Os exemplares do Mar Vermelho apresentam uma resistência notável e parecem imunes aos efeitos do aquecimento global. Pesquisadores tentam compreender essa capacidade biológica, esperando que a estratégia se aplique aos recifes de outras partes do mundo. No Instituto Australiano de Ciências Marinhas, cientistas buscam criar corais que suportem temperaturas mais altas da água, na esperança de salvar a Grande Barreira de Corais.

Como em um pedido de ajuda, em meio ao mar de esqueletos de corais esbranquiçados pelo mundo, alguns começam a brilhar intensamente. Estudiosos desse fenômeno especulam que a fluorescência é proveniente de cromoproteínas que podem servir como uma camada semelhante a um filtro solar. Uma tática de autoproteção que sinaliza à humanidade: é tempo de assumir a responsabilidade e mudar as ações prejudiciais, antes que seja tarde.

Fonte: Um Só Planeta

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