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VIDA SAUDÁVEL

Churrascaria Picanhas Grill vira vegana no Rio Grande do Sul

2 de outubro de 2021
Elys Marina | Redação ANDA
5 min. de leitura
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Félix Zucco | Agência RBS

Evandro Rodrigues não esquece a primeira vez que almoçou na casa da sua namorada. Zelinda Lima elaborou pratos de que gostava e tinha prática em executar, como glúten temperado, mas esse tipo de alimentação era totalmente incomum para ele. O namorado trabalhava em uma churrascaria e pegou gosto por esse tipo de alimentação.

Evandro tinha um sonho de abrir o seu próprio restaurante. E juntos, eles conseguiram criar um restaurante vegano no Rio Grande do Sul que está chamando muito a atenção dos clientes. A dieta sem uso de ingredientes de origem animal é defendida como uma maneira sustentável de alimentação e respeito com a vida animal. Mas antes do cardápio vegano, muita coisa aconteceu.

A namorada de Evandro vivia em uma realidade bem diferente da dele. Há mais de 30 anos, Zelinda se tornou vegetariana por influência da filosofia Hare Krishna.

Não há nenhuma chance de que ela volte a um cardápio com ingredientes de origem animal e, como consequência ela nunca experimentou nada do que ele preparava para os clientes. E com o passar do tempo, Zelinda criou grande experiência para a cozinha vegetariana. Na verdade, a técnica era uma necessidade.

“Cansei de passar fome por não achar restaurantes com comida vegetariana no passado”, diz. Assim, ela sonhava em facilitar a vida de outros vegetarianos e veganos de Porto Alegre, capital de um estado que se gaba do churrasco. Mesmo assim, apoiou o sonho de ter uma churrascaria de Evandro, mas com condições.

Mesmo com a carne de origem animal, o restaurante também serviria opções vegetarianas e veganas. Quem quisesse, podia fazer o pedido que ali estaria o prato bem executado.

Félix Zucco | Agência RBS

O casal usou toda a sua economia, pediram dinheiro emprestado e abriram as portas do Picanhas Grill, na capital gaúcha. Como acontece com muitos restaurantes, o início foi difícil. Os clientes não apareciam e ainda era preciso reformar o salão.

Mas com o passar do tempo os clientes foram aumentando, as obras foram concluídas, e as dívidas foram quitadas e muitos vegetarianos apareceram em busca das receitas sem carne. Até que más notícias começaram a circular pela televisão e na boca dos clientes. Um vírus altamente contagioso e fatal se espalhava na China, Europa, e ameaçava contaminar os brasileiros.

O Picanhas, então com filas de dobrar a esquina, teve que fechar as portas para o público em respeito às medidas sanitárias e passou a atender apenas por aplicativo, ou seja, por delivery.

Em junho do ano passado, o casal teve uma ideia. “Por que não aproveitar e mudar nosso negócio?”, perguntaram um para o outro. Assim, a churrascaria virou vegana.

A alimentação vegetariana extingue o consumo de carne animal. Mas, há os vegetarianos chamados ovolactovegetarianos, que consomem produtos derivados, como ovo, leite e queijo. Outra parte dos vegetarianos costuma restringir apenas a alimentação, mas costumam utilizar produtos derivados de origem animal, e são chamados vegetarianos restritos. Já o estilo de vida vegetariano chamado vegano não come ingredientes de origem animal e nem usa produtos desenvolvidos com sofrimento de algum animal (por exemplo: cosméticos testados em coelhos).

São hábitos de vida com diversas motivações. Podem ser contra o assassinato de animais, o modelo agropecuário de ocupação da terra, princípios pessoais, crença. O Picanhas Grill reabriu para o público no mês passado como um restaurante na categoria vegana, mas com um letreiro na fachada quase igual ao original: Picanhas Grill Veg. O nome carnívoro ficou como uma homenagem ao trabalho do casal para criar um restaurante sem “ter 1 real, bah!”.

Félix Zucco | Agência RBS

O rodízio é servido como uma churrascaria tradicional. Há um buffet com saladas e outras opções, uma grelha e um garçom que vai de mesa em mesa com um espeto com mais comida. No cardápio, couve-flor à milanesa, estrogonofe de glúten, seitan (proteína de glúten), calabresa, bife à parmegiana, polenta, pão de alho, abacaxi assado com canela, coxinhas, pastéis e cheddar vegano e cachorro quente. Tudo sem leite, ovo ou queijo. De sobremesa, maçã caramelizada, carrapinha (amendoim com chocolate), bolos e mousses. Para Zelinda, a dieta vegana é uma maneira de evitar o sofrimento animal. “Eu aprendi que toda a vida de um ser vivo deve ser respeitada na filosofia hare krishna”, diz.

Nos últimos anos, ela afirma que a população está mais consciente sobre alimentação com a ajuda da internet. Sendo assim, a sociedade está sendo educada para criar mais produtos, restaurantes e a reconhecer o veganismo como uma opção sustentável.

“Eu conheci jovens que nunca provaram carne. Na minha época não era assim”, diz. Quando “saiu do armário” como vegana, a finada mãe a levou ao médico para checar se ela estava bem de saúde. Como se provou com exames que estava tudo bem, a mãe se convenceu e boa parte da família de Zelinda se tornou vegana ou vegetariana.

Evandro também viu benefício em ter uma vida e alimentação saudável. “Bah, tu come um Xis e fica estufado, não dorme direito. O paladar também só consegue sentir gosto de carne e mais nada. Com vegano, tu come e fica tranquilo”, diz. Mais de 100 pessoas compareceram na reinauguração. “Um pessoal chegava bem ali perto da grelha pra ver se não era carne mesmo”, brinca Evandro.

Para não ter problemas com aglomerações, o Picanhas funciona com reservas. O horário é das 10h30 às 15h30, com atendimento de no máximo 40 clientes por vez. O rodízio vegano sai por R$ 56.

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