Por Fátima Chuecco (da Redação)
O julgamento de Dalva Lina da Silva, conhecida como “a matadora de animais”, previsto para acontecer no dia 4 de maio, foi remarcado para o próximo dia 20, às 17h30, no Foro Criminal da Barra Funda (SP). Dalva é acusada de crimes contra a fauna. Uma testemunha chave não compareceu ao julgamento, mas Dalva estava lá e evitou passar pelo grupo de 15 pessoas que foram ao Foro na esperança de assistir ao julgamento.
Os manifestantes, no entanto, sequer puderam entrar na Vara onde Dalva se encontrava – ficaram aguardando por notícias no corredor – e foram obrigados a cobrir ou vestir do avesso camisetas que faziam menção à causa animal com dizeres do tipo “libertação animal”. No dia 20 espera-se que o Caso Dalva finalmente tenha um desfecho o mais digno possível para os 37 animais cruelmente mortos dois anos atrás com injeção letal aplicada em seus corações, incluindo uma cachorrinha com 18 perfurações no peito.
Acompanhe a entrevista com o advogado de acusação
Segundo o advogado de acusação Rodrigo Barbosa Carneiro, Dalva tem alegado que não matou nenhum dos animais encontrados. Ela disse que podem ter jogado os bichos na porta dela para incriminá-la. No entanto, um vídeo gravado por detetive particular contratado pela ONG Adote um Gatinho, que move a ação, mostra uma cachorrinha de lacinho rosa sendo entregue na casa dela horas antes de ser morta. A própria Dalva recebe o animal e o coloca para dentro. Na época do crime Dalva chegou a confessar, inclusive para a mídia, que havia matado parte dos animais encontrados nos sacos de lixo para “evitar que sofressem” já que ela não tinha para quem doá-los e nem como mantê-los. Mas depois mudou a versão.
ANDA – Por que o julgamento teve de ser adiado?
Rodrigo – Foi oferecida à juíza do caso uma nova denúncia que trata dos remédios aplicados nos bichos, mas o perito nesse assunto não foi notificado pessoalmente e não ficou ciente do julgamento.
ANDA – Exatamente o que Dalva diz sobre os animais encontrados na porta dela?
Rodrigo – Que não sabe como eles foram parar lá e que não matou nenhum deles. Já disse também que puseram na porta dela. A Defesa diz que ela sempre foi protetora e ajudou os bichos.
ANDA – Mas e o vídeo da cachorrinha entregue nas mãos dela, que prova que o animal estava com ela quando foi morto? Esse vídeo foi entregue à juíza?
Rodrigo – Dalva não tem explicação para esse vídeo. Às vezes mostra-se confusa. E a juíza está de posse dessa e de outras evidências.
ANDA – Em que condições estavam os animais mortos?
Rodrigo – Os laudos detectaram vários animais saudáveis, alguns já até castrados. A motivação não sei, mas eles foram simplesmente executados.
ANDA – Por que a filha dela, que residia com ela, não foi indiciada?
Rodrigo – Após investigação da polícia não foram achadas provas que pudessem incriminá-la. Ela disse que tudo acontecia num cômodo fechado e ela não via nem escutava nada porque estudava e trabalhava.
ANDA – Voce é advogado e testemunha?
Rodrigo – Sim, porque na noite que aconteceram os crimes o detetive nos comunicou e compareci ao local. Eu vi os animais na calçada. Cheguei junto com a polícia. Fui representando a ONG Adote um Gatinho e, inclusive, fiquei responsável pelos animais encontrados vivos na casa.
ANDA – E o que aconteceu com eles?
Rodrigo – Tivemos autorização judicial para doar os sete gatos e um cachorro.
ANDA – Você acredita que existe chance da Dalva ser condenada mesmo com as leis que temos atualmente e cujas penas costumam ser brandas para quem mata animais?
Rodrigo – A gente acredita que ela será condenada. As provas estão reunidas e há muitas evidências.
ANDA – Por que está demorando tanto para esse caso ser julgado?
Rodrigo – A juíza do caso é muito criteriosa e está analisando com cuidado todas as provas. Além disso, nesses dois anos houve bastante investigação da polícia civil.
ANDA – Existiu até o momento alguma corrente tratando da hipótese da Dalva ser uma psicopata?
Rodrigo – Dentro do processo não porque ela se comporta normalmente nas audiências e tem uma vida social normal. Nem defesa ou acusação se apoiaram nisso. O que existe é fora do processo as pessoas comparando o perfil dela com o de psicopatas.
ANDA – Mas se ela for psicopata pode continuar agindo dessa forma a vida toda. Não existe no Brasil a possibilidade de, por exemplo, proibir a Dalva de ter novos animais? Na Inglaterra quem maltrata ou mata animais assina um termo em que se compromete a não tutelar mais nenhum animal.
Rodrigo – Não. O que pode acontecer é que se amanhã, depois de uma condenação, ela voltar a recolher ou receber animais, poderá ser investigada de novo.
ANDA – Então, se as pessoas começarem a ver Dalva pegando animais podem denunciar?
Rodrigo – Recolher ou receber animais não é crime, mas no caso dela, que já foi investigada por isso cabe uma denúncia porque ela é uma pessoa de atitude suspeita.
ANDA – Só para ficar bem claro… então as pessoas que residem perto dela, aqui em SP ou no Paraná, podem denunciar se a virem recolhendo animais?
Rodrigo – Podem e devem. É um dever e direito do cidadão.
Indignação da porta do Foro Criminal
Roseli Albuquerque, professora aposentada, esteve na casa da Dalva no dia dos crimes. Ela, o marido e a filha se envolveram emocionalmente no caso porque sempre gostaram e tiveram animais. Ela é protetora desde pequena e a filha é veterinária. “Nunca tinha ouvido falar de um caso desse nível. Não conseguimos contato com a Dalva, mas participamos de vários protestos. O certo é que existisse uma lei rígida e que ela ficasse presa. Acredito que ela fazia isso por maldade. Ela é uma pessoa ruim. Por isso, outra pena que talvez pudesse ser aplicada, se a cadeia não for possível, é ela ser obrigada a limpar canil, mas uma pessoa dessas não tem conserto”.
Maria José Ferreira, conhecida como Zezé Protetora dos Animais, da União SRD, também participou dos protestos na frente da casa da Dalva e acompanha o caso desde o começo: “Nunca perdi a Dalva de vista, nunca. Sou protetora há 11 anos e nunca soube de um caso tão grave. Extrapolou. Meu coração quase que não aguentou saber de tanta dor. Foi feita uma estimativa que ela pode estar fazendo isso há dez anos, o que resultaria na morte de milhares de animais de uma forma muito trágica e dolorosa. Deveria dar cadeia. Mas caso ela não seja presa, precisa ser monitorada. Nós, protetores, precisamos nos unir e cuidar disso. Uma vez psicopata, sempre psicopata. Os próprios psiquiatras dizem que não têm cura. Ela vai continuar matando porque isso faz parte do ritual de vida dela”.
A professora Daniele Fragoso veio de Itapecerica da Serra especialmente para o julgamento da Dalva. Ela diz que ficou muito chocada com o caso: “A frieza da Dalva, o descaso com que as leis tratam episódios desse tipo, o comportamento de uma pessoa capaz de chegar a um crime desse tamanho, tudo isso me chocou e, por isso, fiz questão de acompanhar o caso mais de perto. Na minha opinião, a solução seria mudar as leis para privá-la de ter acesso aos animais porque a mentalidade dela não vai mudar, isso não vai acontecer nunca”.
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