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VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA

Cachorro, cavalo e até jabuti; relembre casos de animais atingidos por bala perdida no Rio de Janeiro

28 de fevereiro de 2024
5 min. de leitura
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Foto: Reprodução

Como se não bastassem as inúmeras vítimas de balas pedidas, incluindo crianças, durante operações policiais em favelas do Rio, animais também vem sendo vitimados na guerra entre polícia e bandido. Mais recentemente, a gatinha Malu foi atingida por um tiro de fuzil na boca na madrugada dessa terça-feira durante um confronto entre policiais e traficantes no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Apesar do ferimento, o animal passa bem e se recupera em casa. O projétil está alojado no trato digestivo.

No ano passado, um cachorro da raça shih-tzu, chamado Duque, foi atingido por duas balas perdidas quando estava na varanda de um apartamento, durante um intenso tiroteio na região da Taquara, na Zona Oeste. O animal foi atingido por duas balas de fuzil.

Em 2018, uma jabuti de 20 anos teve que ser sacrificada depois que teve o casco perfurado após ser atingida por uma bala perdida no quintal de casa.

Segundo a tutora do animal, que pediu para não ser identificada, policiais atiraram contra um homem que estava fugindo numa rua do bairro de Higienópolis, na Zona Norte, onde ela mora com a mãe. Com medo dos disparos, ela e a mãe se trancaram dentro de casa. Ainda de acordo com a tutora do animal, o suspeito foi baleado no quintal da sua casa e foi levado pelos policiais na viatura. Ao saírem de casa, as duas perceberam que o jabuti foi baleado na ação.

“Corremos para o veterinário, mas a bala era do tipo que estilhaça dentro do corpo e tivemos que sacrificá-la. Tem marca de uns dois tiros no meu quintal, poderia ter pego em nós. O policial quando pediu para abrir o portão não deu informações para nos tranquilizar e nos certificar que estávamos seguras”, contou.

Em 2014, o cavalo Empezão foi encontrado com a pata traseira baleada dentro de um valão, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Três veterinários recomendaram a morte induzida. Contra a medida, o doutor João Wassida levou o animal para o abrigo e cuidou dele.

“Até hoje não sei como ele sobreviveu. Assim que desceu do caminhão que o transportou para cá, Empezão perdeu parte do osso. Primeiro, estanquei a hemorragia, improvisei uma tala com madeira e o mediquei com antibióticos e analgésicos”, conta o veterinário, que trabalha na Suipa há 20 anos, cuidando dos animais.

Malu

Eram cerca de 4h da manhã quando a dona de casa Maria Lucia de Almeida Rosa, de 60 anos, acordou com a filha Ana Luiza aos gritos. As duas moram na Rua Dr. Miguel Vieira Ferreira, em Ramos, próximo ao Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. A jovem dormia quando foi acordada por um barulho. Até então, Ana Luiza não fazia ideia do que poderia ser. Mas, ao longe, já conseguia ouvir os tiros entre policiais e traficantes que faziam uma operação na região. Ana estranhou o fato de o animal pular na cama, já que ela não tem o hábito de dormir com a tutora. Ao acender a luz, ela percebeu que havia algo de errado.

“Minha filha viu que no chão tinha sangue e que a Malu estava ferida. Ela se desesperou e me acordou aos gritos”, relata Maria Lucia, explicando que a gata costuma passar a noite na área de serviço.

As duas então saíram às pressas para levar a gatinha até uma clínica veterinária, na Penha.

“Malu estava com muita dor, miava muito. Colocamos ela na caixa de transporte e pedimos um carro de aplicativo para nos levar até a clínica. Não havia nenhuma movimentação policial na nossa rua”, conta Maria Lucia.

Foi ao dar entrada na clínica, que Maria Lucia e a filha tomaram conhecimento do que realmente tinha acontecido com a gata. Após o animal ser sedado, o veterinário constatou ao examiná-la que havia uma bala presa à língua da gatinha. O veterinário disse à tutora acreditar que se trata de uma bala de fuzil.

“Não fazíamos ideia de que ela tinha sido atingida por uma bala perdida. Como ela já tinha sido atropelada e precisou colocar uma placa de metal no maxilar, achei que tivesse acontecido algo em decorrência dessa cirurgia. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. A bala poderia ter atingido uma de nós”, afirma a dona de casa.

A casa da família fica a cerca de um quilômetro e meio de distância da Alvorada, uma das principais entradas do Complexo do Alemão, que fica na Estrada do Itararé.

Mas, antes que o projétil fosse removido, a bala se deslocou e acabou indo parar no estômago da gata. Apesar do ferimento, o animal foi medicado e não deve passar por cirurgia. O veterinário acredita que a bala seja expelida naturalmente nos próximos dois dias. Caso contrário, deverá ser submetida a uma cirurgia.

“Estamos aflitas, mas ela está bem. Já não está com dor. Inclusive, já conseguiu comer o sachê. Estamos confiantes de que vai ficar bem”, diz a tutora.

Malu, que deve ter aproximadamente três anos, foi resgatada há um ano pela família da Maria Lucia. Não é a primeira vez que ela passa por uma situação delicada. Ao sair de casa, antes do local ser telado, ela foi atropelada e precisou reconstruir o maxilar. Além dela, a dona de casa tem outros quatro felinos. Todos foram abandonados na porta da casa da dona de casa:

“Quem gosta de animal sabe o quanto é delicado passar por isso. Mais ainda quando vemos um animal ser abandonado, mal tratado. Eu sofro. Malu já gastou duas vidas. Espero que não gaste mais nenhuma”.

Maria Lucia e a filha moram na região há 16 anos e por duas vezes já encontraram cápsulas de bala no terraço da casa:

“A gente só torce para que ninguém seja vitimado por isso”.

Fonte: Extra

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