Por David Arioch
No Brasil, botos continuam sendo mortos para serem usados como isca de pesca da piracatinga, uma espécie de peixe que ganhou valor comercial principalmente nos últimos dez anos.
Endêmico da Amazônia, o que facilita a matança de botos é a ausência de fiscalização, ainda que seja um animal protegido pela legislação brasileira desde 1987.
Normalmente arpões e redes são utilizados na captura e na morte dos botos, e o que intensifica a preocupação é que se trata de um animal dócil com capacidade de viver até 30 anos e com baixo índice de reprodução.
Após o abate, pedaços de botos são colocados em caixas que funcionam como pequenos currais fluviais, que atraem as piracatingas, que costumam se alimentar de restos de outros animais. Então é feita a captura e o abate dos peixes visados comercialmente.
Em 2014, o Ministério do Meio Ambiente estabeleceu uma moratória para tentar acabar com a pesca de piracatinga. No entanto, tudo indica que não foi o suficiente para coibir, de fato, a matança de botos.
E uma prova dessa ineficiência é que no último dia 11, de acordo com a Portaria nº 19/2019, publicada no diário eletrônico do Ministério Público Federal (MPF), o procurador da República Valdir Monteiro Júnior solicitou envio de ofício ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), pedindo documentos comprovando a instalação de bases de fiscalização onde os botos são vulneráveis.
“Informe se já existe algum tipo de cooperação para a fiscalização com outros órgãos públicos ambientais (federais, estaduais ou municipais), empresas privadas ou organização não governamental ou forças armadas acerca do enfrentamento da matança de botos-vermelhos na Amazônia para servirem de iscas para a pesca maciça e ilegal da espécie da piracatinga”, cobra em trecho da portaria.
Além disso, a piracatinga, que tem sua pesca associada à matança de botos, é um peixe apontado como tendo alta concentração de mercúrio no organismo. E por esse motivo em 2017 o governo colombiano proibiu a comercialização da espécie após resultados de análises feitas pela Universidade de Los Andes.