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ESTUDO

Animais atropelados que não morrem na pista: qual o tamanho do problema?

Animais que morrem fora da rodovia após a colisão, ou que as carcaças ficam presas ao veículo, dificilmente são contabilizados quando se estuda o atropelamento de fauna.

17 de março de 2024
Talita Menger
3 min. de leitura
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Teiú atropelado: carcaça difícil de ser vista – Foto: Talita Menger | Fauna News

Pesquisadores na Espanha estão buscando entender os vieses que afetam as estimativas de fatalidades de fauna em rodovias. Além dos problemas mais comumente abordados, relacionados à persistência e detecção de carcaças, eles dão destaque a um outro problema, já citado aqui na coluna Fauna e Transportes (vale a pena reler), mas menos estudado e compreendido: eventos de colisão veículo-animal para os quais não se sabe o destino das carcaças.

A razão mais lembrada para esse problema está relacionada com o fato de que animais atingidos em uma colisão podem continuar se movendo após o ocorrido antes de eventualmente morrer. Se um animal se move para fora da pista, isso dificulta ou até inviabiliza que essa carcaça seja encontrada em um monitoramento da rodovia. Além disso, em uma nota científica publicada esta semana, os pesquisadores destacam que animais que não morrem no instante da colisão não são as únicas fontes desse viés. Alguns animais podem ser lançados para fora da estrada no instante da colisão e outros podem ficar presos na dianteira dos veículos, ficando indisponíveis para serem detectados na pista. Os pesquisadores chamam conjuntamente esse problema de “viés de localização das carcaças”.

Mas qual é a proporção de carcaças que vai parar fora da área amostrada e qual a maior causa disso?

Não sabemos exatamente. E ainda, isso deve variar de acordo com as espécies e com as condições da rodovia, devido a características como o tamanho corporal das espécies e a velocidade da via. Essas questões precisam ainda de muita investigação. Mas temos algumas pistas, como é o caso de um estudo de 2004 realizado na Inglaterra, que verificou que 24% das raposas atropeladas eram encontradas fora da pista da rodovia.

Esse problema, embora conhecido, é pouco compreendido e praticamente não é incorporado em estimativas de fatalidades em rodovias. Considerando que para avaliá-lo seria necessário “seguir” a carcaça no momento da colisão, é fácil entender o porquê dessa dificuldade. Entretanto, quantificar a proporção de carcaças que tem esse destino é extremamente importante para saber o real número de animais mortos nas colisões com veículos e dimensionar o impacto das rodovias.

Pensando nisso, os pesquisadores do projeto espanhol deram um primeiro passo em direção à uma melhor compreensão do problema. Entre 2019 e 2023, eles coletaram informações de atropelamentos de fauna ocasionados por eles mesmos, seguindo o destino das carcaças após o evento. Eles categorizaram o destino das colisões em quatro possibilidades:

  • animal atropelado na pista;
  • animal se feriu e escapou para longe da rodovia;
  • animal arremessado para fora da rodovia e;
  • animal ficou preso no veículo.

Além disso, distribuíram questionários entre colegas para coletar essas mesmas informações a respeito de atropelamentos de fauna que eles vivenciaram.

Resultados da pesquisa

Com o compilado das colisões vivenciadas pelos próprios autores e pelos entrevistados, os pesquisadores conseguiram ter algumas percepções iniciais sobre o problema da localização das carcaças. Eles coletaram 150 observações de colisões, sendo que 39% resultaram em carcaças fora da área do pavimento da rodovia. Dentro dessas, 11% foram o caso de animal ferido que escapou para longe (maioria mamíferos de médio e grande porte e serpentes), 23% foram da categoria de animal arremessado para fora (maioria pequenos pássaros) e 5% da categoria de animal preso no veículo (todos pequenos pássaros ou morcegos).

Embora ainda sejam poucos dados, eles nos revelam que o problema não pode ser negligenciado e que os grupos faunísticos não são igualmente afetados. É bastante relevante que esse viés seja considerado nas estimativas de fatalidades para gerar uma melhor compreensão do impacto das rodovias e comparações mais justas.

A estrada a ser percorrida para considerar esse problema nas estimativas é longa e com muitos desafios, mas é preciso viajá-la aos poucos. Os pesquisadores do projeto citado seguem coletando informações em mais entrevistas para aumentar seu banco de dados, conforme descrevem na nota. Outras iniciativas para investigar mais a fundo essa questão e desenvolver métodos que considerem esse viés nas estimativas são bem-vindas e necessárias para seguirmos melhorando a compreensão e a mitigação do impacto das colisões entre veículos e fauna.

Fonte: Fauna News

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