As alterações climáticas e as intervenções humanas nos rios, como a construção de redes de barragens ou o desvio dos cursos originais, estão causando uma diminuição de caudais, mas também episódios de inundações inesperados em muitos rios do mundo. Este desequilíbrio crescente está, por sua vez, afetando a cadeia alimentar baseada nestes ecossistemas, o que faz antever mais conflitos no futuro, à medida que as alterações climáticas se intensificarem.
O alerta é de um grupo de investigadores norte-americanos, das universidades de Yale e do estado do Arizona, que analisaram 36 grandes rios e respectivos afluentes na América do Norte e detectaram estas tendências.
A dimensão da cadeia alimentar que tem por base os rios ou ribeiros depende essencialmente da sua dimensão (comprimento) e não dos recursos aí existentes, explicam os investigadores, cujos estudos foram coordenados por John Sabo, da universidade do estado do Arizona.
“As inundações e as secas encurtam a cadeia alimentar [nos rios], mas fazem-no de forma diferente”, explica o coordenador do estudo, sublinhando que, no primeiro caso, são os elementos no meio da cadeia que desaparecem, descendo os peixes, que estão no topo, umas quantas posições na hierarquia.
“As secas levam ao fim do predador do topo: os peixes. Em ambos os casos, a cadeia encurta-se, mas os efeitos da seca são mais catastróficos para os peixes e são também mais duradouros”, adianta John Sabo, que é especialista em ecologia e ciências do ambiente.
Os peixes maiores, que estão no topo da cadeia alimentar nestes ecossistemas são os mais vulneráveis às variações que ocorrem nos caudais dos rios.
As alterações climáticas, cujos efeitos vão intensificar-se ao longo das próximas décadas, terão também impactos crescentes no equilíbrio da cadeia alimentar, avisa a equipe.
“Mesmo nos grandes rios do mundo há cada vez mais episódios de seca e os modelos climáticos fazem antever que muitos rios vão sofrer maior variabilidade de caudal”, afirma o coordenador do estudo, notando que os resultados da sua equipa “sugerem que estas alterações hidrológicas vão empobrecer as cadeias alimentares nos rios e aumentar as probabilidades de se perderem muitos peixes predadores no topo dos ecossistemas aquáticos”.
As consequências a outros níveis, como social e humano, poderão passar pela intensificação dos conflitos sobre a utilização dos recursos hídricos entre diferentes comunidades.
Fonte: DN Portugal