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MEIO AMBIENTE

Mudanças climáticas estão diminuindo a frequência das chuvas fortes e passageiras na Amazônia, aponta estudo científico

O estudo inédito feito por cientistas da USP aponta a diminuição dos Sistemas Convectivos de Mesoescala (aglomerados de nuvens profundas que, em geral, possuem tempo de vida entre 6 e 12 horas), esse fenômeno é responsável por 40% das chuvas na Amazônia.

17 de maio de 2023
Por João Serra
4 min. de leitura
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Foto: Reprodução da Internet

Diariamente cientistas buscam  por explicações para as alterações que ocorrem no ambiente natural. As mudanças climáticas, intensificadas pelas ações predatórias do homem, têm contribuído para tal.

Um estudo feito pela Universidade de São Paulo (USP), publicado na revista Climates Dynamics, mostra que o aglomerado de tempestade (as chuvas fortes e passageiras, que ocorrem em minutos ou horas e se estendem por alguns quilômetros de distâncias, tem diminuído a frequência, na Amazônia) . Essas chuvas são como as conhecidas “chuvas de Belém” e uma explicação para isso são os efeitos das  mudanças climáticas na região.

Essas chuvas, segundo os cientistas, são responsáveis por 40% das chuvas que caem na Amazônia. Os próprios pesquisadores dizem que se trata de um estudo inédito que relaciona os Sistemas Convectivos de Mesoescala (aglomerados de nuvens profundas que, em geral, possuem tempo de vida entre 6 e 12 horas) –  SCM´s, com mudanças climáticas.

Amanda Rehbein, pós doutoranda no Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), explica que “há indícios de que a precipitação na região estava sendo afetada durante os meses de setembro, outubro e novembro, com a estação chuvosa sendo reduzida e a seca aumentando. Então, nos perguntamos se os sistemas convectivos de mesoescala poderiam estar relacionados a esse fenômeno. Na Amazônia, não havia nenhum estudo sobre sistemas convectivos e mudanças climáticas”.

Ainda de acordo com a pesquisadora, entre as décadas de 1950 e 1960, a redução dos SCM´s  foi de 3%. Indo além, ela pontua: “É claro que, quando nos separamos por estações, conseguimos uma visão mais pontual do que acontece em cada período do ano. Mas, numa visão geral do passado para o futuro próximo, os SCMs tendem a diminuir…”, explica.

O estudo  foi realizado a partir da observação de imagens de satélites e também dados de estações de medição utilizadas pelo GOAmazon (programa integrado ao Experimento de Larga Escala na Biosfera-Atmosfera na Amazônia [LBA] e apoiado pela FAPESP), além de modelos do GOAmazon, focado na região central da Amazônia, resultou o primeiro recenseamento de nuvens do Brasil.

A conclusão do estudo aponta que os SCM’s ocorrem quando chove, cria-se uma camada fria na baixa atmosfera que “ajuda a levantar mais ar quente e retroalimenta (forma novas nuvens) a tempestade, que vai crescendo, aumentando, toma a dimensão de vários quilômetros e dura muitas horas” explica a cientista.

O Tapajós de Fato entrevistou Keyse Costa, agrônoma e trabalhadora rural, ela fala como a diminuição neste tipo de chuva na Amazônia pode impactar a vida das pessoas, principalmente a agricultura familiar. A agrônoma cometa que já percebe a diminuição desse tipo de chuva no seu dia a dia: “Essas chuvas rápidas e fortes que acontecem aqui na Amazônia são uma característica regional, então,  qualquer pessoa que viva que sabe que existe essa possibilidade de você sair e rapidamente ser atingido por uma chuva e isso não é novidade mas,  o que a gente tem notado ultimamente é essa diminuição dessas chuvas”, comenta

Keyse Costa fala ainda como isso tem impactado a produção familiar: “ não é nada bom, primeiro que para qualquer produtor rural essas chuvas já estão no nosso calendário e  quando elas não acontecem  a gente tem que buscar alternativas, meios de, pelo menos, amenizar as perdas que a falta dessa chuva vai gerar, né? E a gente sabe que o produtor familiar, o agricultor que está lá na roça não vai ter recurso pra fazer um sistema de irrigação na sua horta, no seu pomar, no que quer que ele esteja produzindo. Isso é muito preocupante”.

O impacto não é apenas nas produções, estas chuva amenizam o calor, diminuem a poeira e, como explica Keyse Costa: qualquer um no seu dia a dia que sinta aquele calor absurdo, essa sensação de abafamento já está sofrendo aí os efeitos, né? Das mudanças climáticas. Que estão atingindo a todos nós. Só que alguns sofrem muito mais, né? Justamente os que não possuem recursos suficientes para comprar um ar condicionado, um ventilador, para fazer a instalação de sistema de irrigação, enfim é muito preocupante essa mais essa consequência.

Foto: Tapajós de Fato

A alteração do ciclo de chuva pode comprometer todo o ecossistema. Por mais que sejam impactos em chuvas rápidas e concentradas em algumas áreas, elas contribuem significativamente não apenas para o equilíbrio local, mas para todo o planeta. Além do mais, a Amazônia sofre com o desmatamento, o que contribui para a diminuição das chuvas, comprometendo as culturas locais que, historicamente, estão adaptadas ao ciclo das águas.

Fonte: Tapajós de Fato

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