Alguém diz: “Não quero mais ser chamado de vegano por causa das pessoas, por causa da indiferença de alguns, ações com as quais não concordo, ódio de outros e por causa dos rumos do movimento.”
Serei bem honesto. Não sou vegano pelo que as pessoas acham ou deixam de achar. Sei o significado do veganismo e isso me basta. Sim, me identifico como vegano, mas não vejo o veganismo como um grupo, e sim um movimento com pessoas com opiniões e linhas de ações diferentes em inúmeros aspectos. Sim, há falhas nesse meio, porém não são nequices do veganismo, mas sim das pessoas, e isso pode ser corrigido.
E se não for, também não significa que essas paráclases irão implodir ou manducar visceralmente ações em prol de um bem maior, ou pelo menos impedir que as pessoas entendam que a mensagem é a de que os animais não devem ser vistos como objetos, comida, mão de obra, entretenimento; enfim, meios para um fim; e que podemos contribuir e fortalecer um conceito de unidade. Não tenho motivo para desacreditar figadalmente no veganismo.
Porém, como se trata de um movimento baseado em pessoas, logo variegado, as divergências sempre existirão, e cabe a nós estarmos preparados para lidarmos com elas. Buscar uma normatização ou uniformidade nesse sentido não é apenas utópico como talvez até mesmo sem sentido quando falamos de algo de proporção mundial, e que perpassa naturalmente por diferenças culturais.
Para mim, o mais importante é as pessoas terem consciência do que estão fazendo, entenderem o veganismo e serem veganas pelos motivos certos. Se alguém quiser falar que não sou vegano, também não vejo problema também. Mas o que acho interessante em divulgar o veganismo, e no fato das pessoas se colocarem como veganas, quando o fazem pelos motivos certos, que é a luta pelos direitos animais e pelo abolicionismo animal, é que permite que os outros logo façam uma rápida associação com o significado dessa filosofia de vida, e assim entendam cada vez mais o seu significado real e primordial.
Acho que poderíamos parar de querer ou exigir que todos os veganos sejam iguais. Porque nada na vida funciona dessa forma, e com o veganismo não seria diferente. Tenho sempre o cuidado de não achar que o que faço também deve ser feito pelos outros. Este sou eu explorando o que encaro como minhas potencialidades. A do outro podem não ser as mesmas, e devo respeitar isso. Apontar o dedo para o outro sem conhecer a sua real contribuição ou se negar a reconhecê-la me parece sempre um erro e que poderia ser evitado com a clássica razoabilidade.
Há quem critique quem não faz ativismo de rua, quem não tutela ou resgata animais, entre outras coisas. Parece que há sempre motivos para desmerecer o outro em vez de incentivá-lo, motivá-lo. Mas será que conhecemos ou entendemos a luta do outro o suficiente para criticá-lo ou menosprezá-lo? E esses conflitos não podem ser também um indicativo do ser humano se colocando novamente acima dos outros? E colocar-se acima dos outros será que combina com o veganismo?
Será que o outro não faz algo que eu ou você não fazemos? No mais, o veganismo tem um conceito que tem se fortalecido cada vez mais, e cada dia que passa mais ficam sabendo, mesmo que seja vagamente, o que é um vegano, e isso é bom porque é uma evidência de uma nova consciência em relação a forma como tratamos e devemos tratar os animais. Na minha opinião, o equilíbrio e a ponderação são capitais – absorver o que vale a pena e descartar o que não vale.