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PERIGO

380 novas espécies descobertas na Ásia, já em risco

24 de maio de 2023
Por Carla Quirino
5 min. de leitura
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Calotes goetzi é uma espécie de lagarto da família das Iguanas

380 novas espécies de animais vertebrados e plantas vasculares foram descobertas na região do Grande Rio Mekong, na Ásia, em 2021 e 2022. Os especialistas alertam agora para a necessidade de preservação do habitat perante o frenesim da atividade humana. Se os ecossistemas não forem conservados, estas populações poderão, rapidamente, vir a fazer parte da já longa lista de animais em via de extinção.

No mais recente relatório da World Wildlife Fund (WWF) publicado na segunda-feira, investigadores do Camboja, Laos, Myanmar, Tailândia, Vietname descreveram quase 400 novas espécies de seres vivos encontradas nos últimos dois anos.
O documento da WWF dá a conhecer a grande variedade de novas espécies encontradas na zona do Grande Mekong. “Um morcego de polegar grosso; um novo krait venenoso com o nome de uma deusa cobra da mitologia chinesa; uma lagartixa descoberta perto da capital de Vientiane; uma enguia degoladora, apenas a terceira de sua espécie descrita em seu género; e uma planta parecida com o gengibre espalhada por formigas”.
Na região por onde corre um dos maiores rios do mundo – o Mekong -, foram documentadas desde 1997, pelo menos 3.389 novas espécies.
“Só no Laos, foram descobertas 40 e 13 novas espécies de plantas vasculares e animais vertebrados em 2021 e 2022, respetivamente”, avança o relatório.
Esta orquídea em miniatura é uma descoberta incomum, dizem os cientistas. “Foi identificada como uma nova espécie numa coleção de estufa, mas as tentativas de encontrá-la na natureza até agora não tiveram sucesso”. É proveniente das colinas de calcário da província de Vientiane, no Laos | WWF
“Essas espécies notáveis podem ser novas para a ciência, mas sobreviveram e evoluíram na região do Grande Mekong durante milhões de anos, lembrando a nós humanos que elas estavam lá muito tempo antes de nossa espécie se mudar para esta região”, sublinhou K. Yoganand, especialista de vida selvagem regional do Grande Mekong do WWF.

“Temos a obrigação de fazer tudo para impedir a sua extinção e proteger os seus habitats e ajudar na sua recuperação.”

“Lembrete da necessidade urgente de proteger espécies e habitats”
De acordo com o relatório da WWF, os cientistas descobriram 290 plantas, 19 espécies de peixes, 24 anfíbios, 46 répteis e um mamífero.
Se por um lado estas descobertas trazem boas notícias para a biodiversidade do planeta, os cientistas aproveitam para relembrar as crescentes ameaças à vida selvagem causadas pela invasão do homem nos ecossistemas.
O sapo verde-musgo Theloderma khoii foi encontrado nas montanhas arborizadas de calcário do nordeste do Vietname.
A desflorestação, a poluição e a superexploração dos recursos naturais, estão no topo da lista dos excessos humanos que provocam  a destruição dos habitats, afirma Truong Q. Nguyen, da Academia de Ciência e Tecnologia do Vietname, que assinou o prefácio das conclusões do WWF.
Mark Wright, diretor de ciência do WWF-UK reitera que enquanto este novo relatório nos lembra da “extraordinária diversidade e inventividade da natureza”, também serve como um “lembrete oportuno do perigo extremo que tantas dessas espécies e habitats enfrentam, e o risco que corremos em perdê-las se não houver uma ação urgente em sua defesa”.
“Sexta extinção em massa ”, desta vez impulsionado pelos humanos
No mesmo dia que são conhecidas quase 400 novas espécies, um estudo lançado na revista Biological Reviews, também na segunda-feira, afirma que a “perda global de vida selvagem é significativamente mais alarmante do que se pensava”.
Os autores do estudo analisaram mais de “70.000 espécies em todo o mundo”. Procuraram determinar como as populações desses mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e insetos cresceram, encolheram ou permaneceram estáveis ao longo do tempo.
Descobriram que “48 por cento dessas espécies estão a diminuir em tamanho populacional”. Apenas três por cento dessas populações cresceram.
Daniel Pincheira-Donoso, da Escola de Ciências Biológicas da Queen’s University Belfast, coautor do estudo, descreve estas descobertas são um “alerta drástico”.
“Outros estudos, baseados em números consideravelmente menores de espécies, mostraram que a atual ‘crise de extinção’ é mais severa do que geralmente se pensa”, explicou o especialista à CNN. “As nossas descobertas fornecem uma confirmação absoluta em escala global”. O estudo fornece uma “imagem mais clara sobre a extensão da erosão global da biodiversidade”, acrescentou.

“O que nosso estudo mostra não é se as espécies estão atualmente classificadas como ameaçadas ou não, mas se o tamanho das suas populações está se tornando rápida e progressivamente menor ou não”, observa Pincheira-Donoso. “As tendências descendentes na população ao longo do tempo são um precursor das extinções” argumenta.

Se os peixes e répteis são as espécies que parecem ter populações estáveis, os mamíferos, pássaros e insetos apresentam declínios.
Porém, os anfíbios foram identificados como as espécies mais afetadas. De acordo com o relatório os anfíbios “enfrentam uma infinidade de ameaças, incluindo doenças e alterações climáticas”.
O estudo também destaque que “os animais nos trópicos são os mais sensíveis a mudanças rápidas devido às temperaturas ambientais”, avançou Pincheira-Donoso.
Brendan Godley, professor na Universidade de Exeter, no Reino Unido, dedica a vida académica ao estudo da conservação da natureza. Explica que esta investigação “ao combinar minuciosamente as trajetórias populacionais, em vez de avaliações mais limitadas da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN, destaca a pressão que a vida selvagem sofre e está sob a influência humana e como isso é global entre os grupos de animais”.
Godley, que não participou no estudo, sublinha que “todos nós devemos ficar muito alarmados com estes resultados”. Deixa claro que “sem populações, espécies, habitats e ecossistemas prósperos, não podemos perdurar”.

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