Por Patricia Tai (da Redação)
Hatch, um Tigre-de-Bengala macho de 10 anos de idade, vive em uma jaula com espaço de 6×5 metros, com paredes de cimento e nada verde à vista desde que foi vendido para o Villa Dolores Zoo, após ter passado seus três primeiros anos em um circo. Ao lado, uma jaula igualmente sombria é a “casa” de uma tigresa fêmea sem nome. Um cartaz próximo às jaulas diz que tigres “adoram água” e “banhar-se em dias quentes, nadando através de rios e lagos”.
Mas estes felinos não têm sequer uma piscina artificial infantil.
Agora, o zoológico municipal de Montevidéu está “desistindo” dos dois tigres, por um lado cedendo à pressão por parte de ativistas de direitos animais e, por outro, devido a falta de recursos para criar um ambiente mais saudável para eles. Os animais serão enviados a um santuário nos Estados Unidos. As informações são do Huffington Post.
Muitos zoológicos estão tentando se transformar em sociedades de preservação de animais, substituindo jaulas de ferro apertadas por currais mais naturais e promovendo a preservação do habitat para apoiar animais remanescentes na natureza. Em consonância com uma estratégia global de preservação elaborada em 1993 pela Associação Mundial de Zoos e Aquários, o London Zoo renovou neste ano o recinto de seus tigres – uma área de um terço do Zoológico de Montevidéu, a um custo de 4,8 milhões de dólares.
“Isso é impossível para nós”, disse Eduardo Tabares, diretor do Zoo.
O compacto zoológico urbano não tem espaço para crescer, e segundo estudo que Tabares para a criação de um ambiente mais confortável aos tigres, o projeto custaria 600 mil dólares, muito alto para ser absorvido pela cidade.
O município gasta cerca de mil dólares por mês só para alimentar os tigres, mas a pressão social tem uma importância maior que o dinheiro, de acordo com as autoridades.
“Recentemente, alguém libertou um tucano de sua gaiola”, disse Tavares, “e ninguém quer que se repita o que aconteceu em um zoológico de Atlantida, um resort à beira-mar no município de Canelones. No dia 27 de julho, um grupo que se denominava “Direct Action” (“Ação Direta”) abriu 16 jaulas, e declarou no Facebook que não iriam parar “até que todas as jaulas estivessem vazias”.
Dentro de horas, uma capivara, um lhama, dois papagaios, um coelho, três porquinhos-da-índia e uma lebre da Patagônia (“Patagonian Mara”) estavam mortos. Alguns foram atropelados, outros se afogaram em lagos ou morreram de stress. Outros dez animais desapareceram, disse Juan Carbajal, que gerencia os dois zoológicos municipais.
“Há pessoas que têm muito boas intenções de respeitar os animais, mas há outras fazendo coisas que não servem a nenhum propósito”, acrescentou Tabares.
De acordo com a World Wildlife Foundation, a população de tigres selvagens despencou em mais de 95% desde 1900, de aproximadamente 100 mil animais para míseros 3200. E, no entanto, há um excedente de felinos em cativeiro. Eles são mais desejados por zoológicos e circos, mas não podem ser mais soltos na natureza e nem serem entregues a pessoas que não têm ambiente adequado para abrigá-los.
Tabares disse que tentou encontrar um zoológico argentino disposto a receber os tigres, e Carbajal informou que ninguém que ele contatou quis adotar o par de onças de 16 anos de idade que ele ofereceu.
Enquanto isso, em uma tendência atual que não para de crescer especialmente nos Estados Unidos, milhares de pessoas ainda querem tigres para criar como animais domésticos, e estão dispostos a pagar preços que vão desde 1500 dólares – pelos mais comuns Tigres-de-Bengala, até 7 mil dólares por um raro Tigre-de-Bengala branco, conforme informado por Juan Villalba Macias, ex-diretor da Traffic para a América do Sul, uma organização global que combate o comércio de vida selvagem.
“Há entre 10 e 15 mil felinos de grande porte em mãos de tutores particulares, em lugares tão diversos como porões, quintais e exposições itinerantes. No Texas, há mais tigres domésticos que a população inteira de tigres selvagens sobreviventes na Ásia”, declarou Villalba, que agora conduz uma reserva particular de vida selvagem em uma região rural do Uruguai.
A cidade de Montevidéu finalmente encontrou uma solução quando encontrou a Animals Without Homes, uma organização uruguaia que trabalha com zoológicos e circos para mover animais indesejados para ambientes melhores. A organização está atualmente em conversas com o Wild Animal Sanctuary no Texas e o National Tiger Sanctuary no Missouri. O plano é transferir os animais sem compensação ou custo para a cidade, segundo o porta-voz da ONG, Eduardo Etcheverry.
“Eu gostaria que os zoológicos não existissem, mas eles existem e têm muitos animais que não podem ser reintroduzidos na natureza. Nós tentamos ajudar a estes animais, para que tenham a melhor qualidade de vida possível”, afirma Etcheverry. “A administração de Montevidéu reconheceu, e nós agradecemos a eles por isso, que eles não têm meios para manter os tigres sob sua custódia”.
Eduardo Rabellino, diretor interino de Artes e Ciências de Montevidéu, disse que os tigres estão apenas esperando pelos documentos de despacho. “A ideia é fazer a transferência neste ano”, informou ele.
Com a partida dos dois tigres, o pequeno zoológico de Montevidéu incidirá os cuidados sobre as criaturas menores, “que são mais fáceis de manter”, disse Tabares. O último elefante do zoológico morreu no ano passado de artrose, uma doença óssea comum a animais em cativeiro. Funcionários do zoológico também esperam encontrar novos lares para uma girafa e um hipopótamo.
Carbajal disse que também está em negociações com grupos de direitos animais, e que “estamos de acordo a nos movermos para fechar zoológicos tradicionais”.
De acordo com a reportagem, um tigre em cativeiro podem viver até 25 anos. Aqueles que trabalham na transferência de Hatch esperam que ele seja capaz de passar a segunda metade de sua vida andando pela grama, e talvez “até mesmo dar um mergulho em uma lagoa”.
Nota da Redação: Os zoológicos, como já dito aqui em diversas matérias, não conseguem garantir a sobrevivência dos animais sob responsabilidade. Além disso, eles contribuem para a noção de que animais são mercadorias, de que se deve pagar para ver um animal exótico, que dificilmente seria visto na cidade. Nenhum animal é objeto de exposição e se estes animais não seriam vistos na cidade, se os zoológicos são a única opção para vê-los, então não é justo que essa vontade seja satisfeita.