(da Redação)
Cientistas acabaram de descobrir a mais longa migração terrestre conhecida de mamíferos na África e, surpreendentemente, não é no Serengeti, área de reservas que abriga as maiores migrações de mamíferos do mundo. Esta refere-se a uma população de zebras que está viajando entre Botsuana e Zamíbia praticamente sem ser notada. As informações são da Care2.
Pesquisadores do World Wildlife Fund (WWF) e do Ministério de Turismo e Meio Ambiente da Namíbia (MET), em parceria com a Elephants Without Borders (EWB – “Elefantes sem Fronteiras”) e os Departamentos de Vida Selvagem de Botsuana e dos Parques Nacionais, colocaram coleiras de GPS em oito zebras fêmeas adultas da subespécie Burchell e monitoraram os seus movimentos por dois anos seguidos.
Eles descobriram que as zebras estavam indo e voltando entre as planícies de inundação do rio Chobe na Namíbia e as pastagens do Parque Nacional de Nxai Pan em Botsuana, que consiste em um percurso total de ida e volta de mais de 482 km. Mesmo que centenas de quilômetros não pareçam ser uma grande distância para viagens de mamíferos terrestres, considerando os obstáculos no caminho deste percurso em questão, sua jornada é tão impressionante quanto surpreendente. Segundo a WWF:
“A zebra completou a primeira metade da viagem em duas a três semanas em novembro e dezembro, provavelmente em busca de pastagens frescas no Parque Nacional de Nxai Pan. As amplas precipitações atmosféricas da estação de chuvas permitem que as zebras prosperem longe de fontes permanentes de água por uma média de dez semanas, antes de retornar ao rio Chobe na fronteira entre Namíbia e Botsuana para a estação seca”.
“Esta descoberta inesperada de resistência em uma época dominada pelos humanos, onde nós pensamos que sabemos tudo sobre o mundo natural, sublinha a importância em se continuar a pesquisa científica para a preservação”, disse o Dr. Robin Naidoo, cientista senior da área de preservação da WWF, em um comunicado.
De acordo com o cientista, a migração está ocorrendo inteiramente dentro da “Área de Conservação Kavango Zambezi Transfrontier” (Kavango Zambezi Transfrontier Conservation Area – KAZA), a maior área de preservação multipaíses do mundo, que se estende por 109 milhões de acres e engloba terras da Namíbia, Botsuana, Zimbabue, Zâmbia e Angola.
Conforme a reportagem, o fato de estarmos ainda sendo surpreendidos pela vida selvagem e descobrindo migrações de longa distância acontecendo ocultas nas planícies é outro testemunho das maravilhas da natureza em um mundo que está sendo crescentemente dominado pelos humanos, e de que mesmo com tudo o que sabemos, ainda temos muito a aprender.
Estudos de migrações como esse, de acordo com os cientistas, ajudam a determinar onde estão as rotas críticas e esclarecer a importância de se conservar largas áreas e manter corredores abertos para ajudar na sobrevivência de animais de espécies migratórias, “pois eles nunca irão entender ou obedecer as linhas arbitrárias que os humanos criam para eles e desenham nos mapas”.
“Animais selvagens como as zebras precisam de liberdade para se movimentar além de núcleos de preservação, algumas vezes mesmo através das fronteiras nacionais da humanidade. Esse aspecto se torna particularmente importante em um momento como o que vivemos, quando as mudanças climáticas causam alterações no meio e forçam espécies, sejam migratórias ou não, a mover-se conforme o tapete do habitat é puxado debaixo de suas patas e pés”, disse Jeffrey Parrish, diretor da WWF, à National Geographic.
Os pesquisadores afirmam que irão continuar a estudar as zebras para determinar se elas irão tomar exatamente a mesma rota todos os anos, e tentarão descobrir se essas rotas estão geneticamente codificadas ou se são passadas através de gerações por animais mais velhos que têm melhor conhecimento delas.
“Em um tempo em que as notícias de preservação são intrinsecamente negativas, a descoberta desse fenômeno natural deverá repercutir em todo o mundo. O comprometimento do governo em assegurar corredores migratórios chave serve para sustentar o crescimento da indústria do turismo em áreas selvagens. Nós planejamos continuar monitorando a migração para tentar preservar tais eventos naturais cada vez mais raros”, explicou o Dr. Mike Chase, fundador da Elephants Without Borders.
Nota da Redação: Apesar de surpreendente, o fato das zebras estarem migrando nessa proporção não representa motivo de comemoração. Esse movimento é a busca desesperada pela sobrevivência, dificultada cada vez mais pela degradação do meio ambiente em decorrência da ação humana. É desejo da ingenuidade humana acreditar que animais saibam ou devam saber o que signifique uma fronteira de um país. E se o monitoramento da migração tem seus méritos, ele tem seu lado questionável, pois pode ser mais um motivo de estresse e incômodo a esses animais.