Os veterinários também criticam o sacrifício de cães, considerando que desde 1990 a OMS publica que na maior parte dos países, a eutanásia dos cães domésticos infectados se reserva, cada vez mais, para casos especiais
O CRMV (Conselho Regional de Medicina Veterinária) de Mato Grosso do Sul, publicou uma carta como resultado do “I Simpósio Sul-Mato-Grossense de Leishmaniose”, tornando público o que é defendido pela categoria como forma de combater o problema.
Um dos principais pontos levantados é a necessidade de investir em educação “Faz-se necessário o desenvolvimento de um programa de educação ambiental de controle da LV focado no vetor, já que ele, ao longo dos últimos anos, se adaptou bem ao ambiente urbano, é de fácil procriação e pode se deslocar a grandes distâncias levado pelas correntes de ar, sendo, portanto, o principal responsável pela expansão da doença, infectando os animais e o homem”.
O documento, resultado do simpósio que reuniu 150 profissionais (médicos veterinários, médicos e advogados, e também acadêmicos), citou Mato Grosso do Sul como um dos 10 estados brasileiros mais acometidos pela leishmaniose no País e Campo Grande, a capital que ficou em 3º lugar, em relação ao número de casos no país.
A categoria destaca pontos polêmicos, como a eficacia de algumas medidas. “Em face da atual portaria que proíbe o tratamento dos cães com medicamentos destinados a humanos ou sem registro e licença no MAPA, das evidências científicas apresentadas nos documentos oficiais dos órgãos internacionais citados sobre a ineficácia da eliminação canina e da forte comoção pública decorrente dessa eliminação, que as autoridades sejam instadas a rever a atual política pública de controle da leishmaniose visceral.”
Em resposta à preocupação dos veterinários, que querem a parceria de outros profissionais, conforme a carta, a partir de 2011, deverão ser feitos convites a outras entidades de classes para integrar a constituição da Comissão de Leishmaniose do CRMV/MS. O documento prevê que o convite também se estenda aos promotores Públicos do Meio Ambiente e da Saúde.
A leishmaniose visceral (LV), forma mais agressiva das leishmanioses, leva o ser humano à morte e é considerada uma das sete endemias mundiais prioritárias pela OMS (Organização Mundial da Saúde), destaca o documento.
Os veterinários também criticam o sacrifício de cães, considerando que desde 1990 a OMS publica que na maior parte dos países, a eutanásia dos cães domésticos infectados se reserva, cada vez mais, para casos especiais.
“São trabalhos que demonstram que a eutanásia canina, como forma prioritária de controle da LVC, não é uma prática cuja eficácia seja cientificamente evidenciada”, avalia o conselho.
O agravante, alega, é que há evidências científicas de que gatos e gambás, animais urbanos, têm a infeção e por isso podem se constituir em reservatórios do protozoário.
“A rotina das estratégias de controle contra o reservatório canino e os insetos vetores são baseadas em fracas e conflitantes evidências. As estratégias de controle e desenvolvimento de vacinas deveriam se constituir em prioridades nas pesquisas”, ressalta a categoria. “Deve-se levantar e defender a discussão ética em relação ao sacrifício de animais com resultados falso-positivos”, defende.
A proposta é de estratégia de controle, ações integradas com o diagnóstico e o tratamento precoce dos casos humanos; redução da população de flebotomíneos (vetor) com aplicação de inseticidas e correto manejo ambiental; controle de reservatórios domésticos infectados em área de transmissão e atividades de educação em saúde.
Outra observação é o encoleiramento, que chegou a ser suspenso pelo CCZ em Campo Grande. “A utilização das coleiras repelentes e a aplicação das vacinas nos cães são consideradas estratégias importantes no controle da LV e que, independentemente de serem adotadas pelo serviço público de saúde, devem ter seu uso amplamente propagado para minimizar aos efeitos deletérios da disseminação da doença”.
Os veterinários também sugerem maior aproximação com os médicos que atuam no combate a doença. A distância entre esses profissionais gera “entendimentos controversos sobre os procedimentos a serem adotados e sobre as orientações a serem fornecidas à sociedade, causando dúvidas e incertezas a todos”, esclarece a Carta de Campo Grande.
As do simpósio foram encaminhadas as autoridades competentes nas esferas federal, estadual e municipal e nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Fonte: Portal MS