Por volta de 1998-1999, na época que eu ainda estava bastante inserido no mundo do Heavy Metal, comprava todo mês – quase que religiosamente – a revista Rock Brigate. Nela, geralmente na sessão de cartas, estavam as tiras de um tal Roko-Loko, feitas por Marcio Baraldi. Confesso que na época não dei muito valor, achava até uma ironia histórias que satirizavam o mundo do Metal estarem em uma revista como aquela. Isso não impediu de eu sempre as ler, já que minha outra paixão era as histórias em quadrinhos.
Me afastei da cena de música e passei a me dedicar somente às HQs. Não vi mais aquele tal de Roko-Loko, porém era comum me deparar com o traço de Baraldi. Parecia uma infestação! Tudo quanto é revista que eu pegava nas bancas havia uma tirinha dele. Era incrível! Passei a me acostumar com seus traços, a entender melhor sua forma de trabalhar e satirizar a sociedade. Demorou muitos anos para que a “ficha caísse”. Imagino que não teria sido tão demorado se o álbum Vale-Tudo tivesse sido lançado há mais tempo – e claro, se eu o tivesse lido!
No referido trabalho, Marcio Baraldi republica (e publica) suas primeiras histórias. O embrião do atual “Baraldão”. Como os originais foram publicados em preto-e-branco, ele recoloriu todas elas em modo digital. O leitor só teve a ganhar. Cores vibrantes e chapadas marcam esse trabalho. As temáticas? Bom, como o próprio título da coletânea bem diz, vale-tudo! Desde críticas à estrutura familiar, passando pelos Direitos dos Animais (Baraldi é vegetariano e assumidamente defensor da causa animal), até ao sistema religioso. Claro que um jovem sindicalista, como Baraldi, não deixaria de abordar as injustiças e contradições do sistema capitalista.
Pontos marcantes da publicação: Baraldão, em parceria com outros dois ícones dos quadrinhos brasileiros – e underground –, mais o penúltimo lançamento da – agora – extinta Editora Ópera Graphica. Os ícones dos quadrinhos a que me refiro são: Marcatti e Bira Dantas. O primeiro tem uma rápida colaboração numa HQ tão nojenta quanto estamos acostumados a ver sair da cabeça de Marcatti. Bira já mostrava seus belos traços e vem para completar e dar um clima especial às histórias em que colabora. A parceria rende até uma excelente piada de metalinguagem. Ah! Já estava por esquecer, o livro Vale-Tudo, além de marcar o fim de uma ópera, dá início a outra sinfonia, desta vez menos harmônica por se tratar de um rosnado: GRRR!…, ou pode-se ler como Gibi Raivoso, Radical e Revolucionário! O selo do Marcio Baraldi.
O livro ainda conta com duas introduções. Uma é escrita pelo jornalista Paulo Ramos e a outra pelo – também jornalista – Gonçalo Junior. Nas orelhas há a retrospectiva da vida de Baraldi dando uma boa base dos feitos desse que pode ser considerado um dos maiores e mais ativos cartunistas do país. Pontos negativos? Faltou mais páginas, mais histórias, mais tiras! Mas isso já é pedir demais! Recomendadíssimo. Se dúvida, leia-o; não irá se arrepender.