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“Uma escola que me entenda”

29 de setembro de 2016
2 min. de leitura
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Divulgação
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Era isto que a Luíza, de 07 anos de idade, estava procurando. Filha de pais vegetarianos, tomou a decisão de ser vegana. Na sua escola de origem, tinha dificuldade para ser entendida quando questionava alguma coisa, como a visita noturna ao zoológico: “Professora! Você não está lendo sobre as coisas que acontecem nos zoológicos”? Sentia-se desconcertada, porque nunca a consideravam no momento de um lanche especial. Se um adulto enfrenta barreiras ao tomar esta decisão, o que dizer de uma criança totalmente dependente dos pais e dos adultos a sua volta?
Como a escola irá lidar com essas crianças e jovens que, cada dia mais, se sensibilizam com a causa animal, com a crise ambiental e, em razão disso, demonstram interesse e vontade de diminuir ou abolir o consumo de carne? Mesmo sendo nós que amamos o passado, precisamos saber, conforme diz Elis Regina, “que o novo sempre vem”. Não é pecado não ter afinidade ou conhecimento sobre o assunto, entretanto o adulto que irá conviver com esses estudantes, se for, de fato, um educador ou mediador, precisa ter sensibilidade e não obstruir esta caminhada. O fato de não estarmos disponíveis para seguir o mesmo percurso, pelos mais diversos motivos, não nos autoriza a interditá-los para os outros. Não desestimular já é um bom começo.
O menor de idade dependente dos pais precisa de ajuda na escolha, compra e preparação dos alimentos. Inicia-se com um processo de ler rótulos, criar receitas, fazer substituições e muitas leituras sobre nutrição. O argumento de que dá trabalho, que irá alterar a rotina da casa ou que toma tempo é muito pequeno diante dos inúmeros ganhos que eles terão. Além da saúde, a escolha passa por uma questão existencial. Esta criança ou jovem está disposta a abrir mão e de renunciar àquilo que todos fazem e comem, em nome de algo que acredita. Demonstra compaixão e generosidade com os animais e isto sem ganhar nada em troca. Há algo grandioso aqui e que não deve ser desconsiderado. Como mãe, precisei fazer esse movimento para ajudar o meu filho que, na época, tinha 18 anos. Já independente, não deixaria de seguir sua decisão caso faltasse apoio familiar; ainda assim, hoje vejo o quanto tomei a decisão acertada em me abrir, sem julgamento e preconceito, para entendê-lo e conhecer suas razões. Fui a maior beneficiada. De forma lenta e gradual, a transição se deu. Hoje, convivo com muitas amigas, que são mães de adolescentes na mesma situação. Os filhos é que as mobiliza para a mudança.
Em 2017 a Luíza será transferida para a escola onde sou diretora. Que ela, assim como todas as crianças e jovens que também irão ingressar, possam encontrar um ambiente de respeito e escuta. Esse é o caminho.

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