Já não é novidade para ninguém que a humanidade vem caminhando para um egoísmo sem limites. Mas agora a coisa fica mais evidente, pois já não há mais necessidade de esconder comportamentos egoístas. Já fazem parte do dia a dia a indiferença, o não tomar conhecimento, e até mesmo a falta de educação de algumas pessoas parece ser normatizado em nossa sociedade.
A proposta de um dia sem carne gera revoltas nas pessoas e entidades – que refletem essa mentalidade – que apenas estão pensando em seus negócios, nos milhões perdidos e, principalmente, na ameaça do que este dia pode significar, pois pode fazer com que pessoas reflitam e aí está boa parte do perigo.
Interessante é observar o comportamento de pessoas que frequentam restaurantes da capital gaúcha, tanto os que vão aos restaurantes vegetarianos quanto os que frequentam os outros tipos de restaurantes.
Sentada em frente a um restaurante vegan observei pessoas diante de um mural onde havia, entre propagandas de yoga, meditação e teatro, um cartaz sobre a crueldade com os animais e as doenças que a criação de animais provoca aos humanos.
Achei muito curioso o fato de tais pessoas comentarem efusivamente sobre teatro, yoga e coisas do tipo, mas, ao verem o cartaz dos animais, fazerem aquela cara de deboche e as piadinhas idiotas que todos nós já ouvimos um dia.
Pessoas que se preocupam mais com sua saúde, seu equilíbrio da “alma”, mas que diante do sofrimento dos outros se acovardam, debocham ou ficam indiferentes. Numa demonstração de egoísmo e infelicidade extrema!
A busca da “paz” a qualquer custo faz as pessoas ficarem obcecadas e indiferentes para a realidade que as cerca. Um jornal aqui da região, num de seus textos intitulado “Nova era”, aconselhava o desligamento das coisas externas. Conselho que não é preciso dar, pois a sociedade vive nessa busca, todos os dias do ano. As pessoas fazem questão de não tomar conhecimento do sofrimento do outro, ignoram, buscam somente livrar-se a si mesmo.
A religião é a muleta, é o que faz os indivíduos cada vez mais preocuparem-se em salvar a sua própria alma. Enquanto isso o resto do mundo que se exploda, os animais podem sofrer à vontade, afinal cada religião terá sua teoria para explicar os sofrimentos e nos deixar tranquilos.
Ajudar o próximo? Só se for para aparecer, ou para ganhar alguma vantagem diante de um deus que nos vigia. Já que nas escrituras religiosas não há nada preciso sobre os animais, ninguém se dá o trabalho de ajudá-los. Não vamos perder tempo, temos que salvar nosso couro!
Pode ser trágico, mas um passeio pelas ruas mostrará isso e muito mais.
Costumo comprar em brechós beneficentes, pelos animais. Aqui em Porto Alegre tem vários: Bichos e Amigos, Brick Animal, Duas Mãos Quatro Patas, Gatos e Amigos, e outros.
É impressionante o que são alguns clientes dessas feiras. Não todos, obviamente.
Gosto de chegar e escolher minhas coisas, depois ficar um tempo conversando e observando as pessoas.
Elas pensam só em si. Não conseguem sequer ler o cartaz que diz que a feira é para ajudar animais carentes.
Então vemos de tudo: pechinchas absurdas, pedir fiado para levar um monte de coisas e pagar quando puder, reclamar dos produtos que “são usados”, esquecendo que é uma feira beneficente e não uma loja comum. Presenciamos de empurra-empurra e até pessoas furtando objetos!
Curiosamente essas mesmas pessoas não vão fazer o mesmo nas grandes lojas de departamento da cidade, mas aqui no brechó beneficente elas fazem isto, mostrando claramente o quanto é moda pensar só no seu próprio ego e de maneira que já nem disfarçam mais.
Não é espanto algum que uma proposta de um dia sem carne poderia gerar convulsões no setor pecuarista e demais setores que praticamente são escravos deste.
Quando surgiu a Internet, também houve choro e convulsões de que os datilógrafos perderiam o emprego, de que o livro iria sumir, de que não haveria mais papel e de que o homem seria substituído pela máquina, lembram? As fábricas de máquinas de escrever tiveram que mudar, mas ninguém saiu ferido, todos se adaptaram para algo melhor e mais prático.
Eu mesma tenho em meu currículo dois ou três cursos de datilografia, que faço questão de manter lá, pois meus pais pagaram para mim. Não serviu para nada, mas estou aqui trabalhando num computador que eu mesma comprei, superei a “era da tecnologia” e a uso para ajudar os animais.
Mas estes mesmos argumentos aqui são usados para apenas um dia na semana sem carne: desemprego, perda de rendimentos etc. Coisa que obviamente não irá acontecer.
A economia se adapta, mesmo que a pecuária vá diminuindo até acabar. Todos sabem disso, mesmo os que fazem alarde.
O veganismo, isto é, o vegetarianismo radical pelos animais, é uma postura que se preocupa com o outro. Um outro que não sabemos quem é, que pode ter muitos rostos, desconhecidos e diversos. Essa postura beneficia a longo prazo e a curto prazo pelo exemplo, e aqui no Brasil é particularmente uma luta, pois, apesar de ser conhecido em outros países, aqui ainda é visto como algo de outro mundo. Daí o preconceito e a dificuldade de encontrar alimentos livres de produtos animais.
Em outros lugares do mundo o setor econômico, que não é ingênuo como aqui no Brasil, já inventou uma infinidade de queijos de soja que são fiéis ao original. De pato assado vegano até peru de natal, totalmente livre de carne, leite e ovos. Coisas que são vendidas no supermercado ao lado dos produtos convencionais. Alternativas que vêm crescendo a cada dia aqui no Brasil também, pelo menos no setor de bebidas (leite) de soja.
O veganismo é uma opção para ajudar o próximo, os animais que sofrem no silêncio de suas falas específicas, de sua linguagem própria, que não temos capacidade nem merecimento para entender.
O veganismo surge como uma opção, assim como o dia sem carne, para quem sabe pensarmos além de nossos estômagos, de nossa barriga, de nosso dia a dia medíocre e limitado ao nosso ego humano.
O dia sem carne serve-nos de exemplo para avaliarmos como reagem as mentalidades de nossa época, totalmente alheias às coisas que não sejam apenas humanas, apenas referentes ao seu próprio bem-estar. Essa mesma mentalidade que vem destruindo a Terra de maneira uniforme, lenta e sem possibilidade de retorno, como afirmam muitos especialistas.