Por Loren Claire Canales (da Redação)
Após um período de 6 anos, as touradas voltarão a ser exibidas na RTVE, a televisão pública da Espanha, no próximo dia 1 de setembro, durante a Feira de Mérida.
A corporação pública decidiu deixar de transmitir as touradas por não ser uma atitude compatível com o seu Manual de Estilo e com a Lei Geral de Comunicação Audiovisual, que proíbe a exibição de conteúdo violento das 7h às 20h. Mas em fevereiro do ano passado, após a posse do novo presidente da RTVE, o conselho de administração decidiu eliminar do regulamento o parágrafo relacionado aos touros, tornando possível a sua programação.
O presidente do Senado, Pío García Escudero (PP), é apontado como o principal articulador do lobby do poderoso negócio das touradas, que chega a movimentar algo em torno de 2,5 bilhões de euros por ano na Espanha. Teria sido Escudero quem convenceu o presidente da RTVE, Leopoldo González Echenique a permitir a exibição desses espetáculos sangrentos inclusive durante o horário infantil.
A corrida de touros do próximo dia 1 será realizada à um mês da votação da Iniciativa Legislativa Popular (ILP) para a declaração da Tauromaquia como bem de interesse cultural, que visa proteger a festa dos touros em toda a Espanha. Nos últimos anos, municípios em regiões como país Basco e Galícia vem criando leis para proibir as touradas. Recentemente a região autônoma da Catalunha aboliu totalmente os espetáculos tauromáquicos, abrindo caminho para que cada vez mais esses eventos fiquem restritos à região da capital Madride ao sul do país, onde sempre foram mais populares.
A questão das Corridas de Touros na Espanha ultrapassa a discussão sobre a violência contra os animais. A direita espanhola, em sua maioria representada pelo PP no Parlamento, quer que as touradas sejam consideradas festas de interesse cultural para que os governos regionais não tenham capacidade para abolir este tipo de festividade e, principalmente, para proteger e firmar a identidade e “cultura” espanhola, fragilizada após a profunda crise econômica e de credibilidade da monarquia, levando o país a organizar-se junto a uma plataforma de esquerda a favor de uma Espanha Republicana. A abolição das touradas na Catalunha só destroçou mais ainda este cenário, já que o ato também ampliou o caminho independentista catalão.
“Galicia, melhor sem touradas”, se manifestou perante a decisão da TV pública: “A nossa coalizão já emitiu ao Conselho da RTVE na Galiza e ao Parlamento galego uma solicitação de Desconexão Territorial com base na “normativa de proteção a infância em matéria de conteúdo audiovisual”, a mesma normativa que protegeu o telespectador da transmissão das touradas durante 6 anos.
