Esta foi a primeira vez que um animal da espécie foi visto na região, tão perto da praia de Boa Viagem e a pouco mais de 20 metros de profundidade
Um mergulho na costa brasileira terminou com uma grande surpresa. A partida foi do Porto do Recife em direção ao alto-mar. Dia de sol, ideal para uma visita aos refúgios submarinos do litoral de Pernambuco. O casal Rodrigo Secato e Paula Bitencourt foi fazer o batismo: mergulhar pela primeira vez com equipamento autônomo. O instrutor Gabriel Gaba passou as últimas orientações para os estreantes. O barco avançou 12 quilômetros até encontrar a água azul.
São mais de 30 navios naufragados na costa de Pernambuco. Alguns são naufrágios históricos, do tempo da Segunda Guerra Mundial. Outros foram provocados por mergulhadores e pesquisadores, para se tornarem recifes artificiais. O grupo desceu no rebocador Taurus, que está a 24 metros de profundidade. Todos estavam prontos para cair na água.
Foi um dia especial. Uma grande surpresa deixou os mergulhadores sem ação. Primeiro, surgiu a sombra de um peixe gigante se movendo no fundo do mar. A pele malhada não deixou dúvidas: era um tubarão-baleia, o maior de todos os tubarões. O animal tinha uns oito metros. Mas há registro de tubarões-baleia que chegam a 20 metros de comprimento e pesam mais de 30 toneladas.
Raro é esse bicho aparecer na área dos naufrágios. Não é a rota natural dele. Foi o primeiro a ser visto na região, tão perto da praia de Boa Viagem e a pouco mais de 20 metros de profundidade.
Ele passou lentamente pela câmera, como se estivesse indo embora. Mas fez a volta e foi de frente para o cinegrafista. Imaginem a emoção de ver um bicho tão grande vindo assim em sua direção.
Mas o tubarão-baleia é inofensivo. Apesar do tamanho, ele se alimenta basicamente de plânctons – microorganismos que vivem na superfície dos oceanos – e às vezes também de lulas e pequenos peixes.
Em seguida, ele desceu em direção ao naufrágio. O Taurus foi afundado há cinco anos, para se integrar à vida marinha. Certamente, os autores do naufrágio não esperavam que em tão pouco tempo de afundamento o velho rebocador pudesse receber uma visita tão marcante.
Mais uma vez, ele ameaçou ir embora, para desespero do fotógrafo, que partiu atrás, na esperança de uma última foto. Naquele ritmo ele nunca alcançaria o tubarão. Mas o bicho parecia querer recompensar tanto esforço e voltou. Desfilou lentamente. O tempo todo ele teve ao lado um bejupirá de mais de um metro. Mas, perto do gigante, ele desapareceu.
E para alegria de quem ficou no barco sem saber o que estava acontecendo embaixo d’água, o tubarão-baleia subiu até a superfície e passou ao lado do catamarã. Todos pularam na água, mesmo sem equipamento de mergulho, para vê-lo de perto. O tubarão-baleia ficou mais de meia hora na companhia dos mergulhadores.
Na volta para o barco, todos relataram o encontro. “Foi muita emoção. Algo inesquecível – tanto para mim, que já mergulho há muito tempo, como para as pessoas que mergulharam pela primeira vez e tiveram a sorte de encontrá-lo”, disse o cinegrafista submarino George Moura, que tem 20 anos de mergulho.
“Há uma quantidade de plâncton na água muito maior do que o normal. Talvez por isso ele tenha seguido alguma corrente e chegado perto da costa”, comentou o mergulhador Gabriel Gaba.
“O naufrágio já foi surpreendente. Na hora que vimos o tubarão-baleia, então, foi de alucinar”, descreve o engenheiro Rodrigo Secato.
“Eu não esperava. Na verdade, eu tinha até medo de encontrá-lo. Mas quando vi todos pulando dentro d’água, eu fui junto”, contou a professora de educação física Paula Bitencourt.
Pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) estudam o tubarão-baleia nos penedos de São Pedro e São Paulo, um arquipélago a 900 quilômetros da costa do Rio Grande do Norte.
“É uma surpresa a ocorrência de tubarão-baleia aqui na costa. Atualmente, ele se encontra na lista de espécies ameaçadas da União Internacional de Conservação e também na lista brasileira de fauna ameaçada de extinção, como vulnerável. A captura e comercialização desse animal no Brasil são proibidas”, diz o biólogo Bruno Macena, da UFRPE.
Fonte: 360PE