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Traficantes de pássaros compram anilhas de criadores autorizados pelo Ibama

8 de fevereiro de 2010
3 min. de leitura
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Foto: Reprodução/Portal Exame

Capturar canários, curiós e araras nas matas, transportá-los escondidos no interior de malas, caixotes ou tubos de PVC e depois vendê-los por dezenas, e até milhares, de reais sempre foi um crime covarde. Agora, traficantes descobriram um jeito de torná-lo também mais fácil. O novo método consiste em “esquentar” pássaros retirados da natureza inserindo neles anilhas de identificação do Ibama – uma espécie de atestado de legalidade que os criminosos compram de criadouros autorizados.

Como não há fiscalização sistemática desses criadouros a tutores mal-intencionados, basta solicitar ao instituto um número de anilhas superior àquele necessário para identificar os filhotes nascidos no estabelecimento e usar o resto para abastecer o estoque dos traficantes. De cada dez anilhas distribuídas pelo Ibama, pelo menos sete acabam nas mãos de traficantes de aves silvestres, admite o instituto.

Para os criminosos, o expediente é altamente proveitoso. Além de aumentar o seu lucro, já que uma ave anilhada vale em média o triplo de uma sem anilha, ele possibilita o transporte, despreocupado e à luz do dia, de uma quantidade muito maior de pássaros. Já para os bichinhos, o sofrimento é indizível. Como, em geral, as aves capturadas são adultas e as anilhas não cabem nos seus pés – já que foram feitas para identificar filhotes –, na tentativa de encaixá-las à força, os traficantes as machucam sem piedade.

No Rio de Janeiro, o Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama, no município de Seropédica, abriga diversos pássaros com pés e dedos quebrados no processo (os que têm mais sorte portam anilhas alargadas, recurso também usado por traficantes). Outros exibem ferimentos recebidos durante o transporte ou cativeiro. Há tucanos de bico quebrado, sabiás despenados e periquitos mutilados.

As aves são capturadas pelos traficantes na Amazônia e no Nordeste, principalmente, e quase sempre se destinam ao mercado brasileiro – apenas uma pequena parte chega de carro à Argentina, de onde segue para a Europa. No país, o principal mercado consumidor está na Região Sudeste. Lá, nos estados de São Paulo e Rio, as aves são vendidas em feiras ou oferecidas a colecionadores e criadouros. Quanto mais bonito o seu canto, mais perseguidas pelos criminosos elas são.

Certas espécies, como o canário-da-terra, também são usadas em rinhas, muito frequentes na periferia e no interior paulista e fluminense. Nessas disputas, dois canários machos, incitados por uma fêmea, trocam bicadas dentro de uma gaiola até que um deles morra ou seja resgatado pelo dono. As apostas variam de 10 a 500 reais. O preço de um canário-da-terra no mercado clandestino gira em torno de 20 reais. Já aves ornamentais, como araras e papagaios, chegam a valer dez vezes mais.

O tráfico de animais silvestres movimenta de 10 a 20 bilhões de dólares por ano no mundo – valor do qual o Brasil participa com 15%. Trata-se de um crime pouco fiscalizado, com alta margem de lucro e punição branda. A pena para o tráfico de animais silvestres, tanto para quem é flagrado com uma arara em casa quanto para quem é pego vendendo 1.500 curiós, varia de seis meses a um ano de detenção – o que quer dizer que quase nunca é cumprida, já que pode ser transformada em prestação de serviços à comunidade.

“Traficar animais no Brasil é um negócio vantajoso e compensador”, resume o delegado Álvaro Palharini, chefe da Divisão de Repressão ao Crime contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da Polícia Federal. Azar do curió, do canário-da-terra, da arara-azul…

Fonte: Portal Exame


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