Por David Arioch
A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina, disse em discurso na Expointer, em Esteio (RS), e considerando as críticas recebidas pela agropecuária no cenário nacional e internacional por participação nas queimadas e no desmatamento da Amazônia, que os problemas enfrentados pelo setor são passageiros e que o ministério vai fazer tudo que esta ao seu alcance para beneficiar o agronegócio brasileiro.
“Não esmoreçam. Ataques vamos sofrer pelo gigantismo do nosso negócio. Teremos problemas que serão resolvidos. Não desistam, até para me dar forças. Vou até as últimas consequências em defesa do agronegócio brasileiro”, discursou.
Tereza Cristina citou como um “dos mais recentes avanços” a abertura do mercado indonésio para a exportação de carne halal brasileira, e não escondeu o fato de que o Brasil tem interesse em exportar gado em pé para o país asiático, onde 64% do volume de exportação de gado vivo é dominado pelo mercado australiano.
Em encontro com o ministro da Agricultura da Indonésia, Amran Sulaiman, Tereza Cristina prometeu em maio preços mais competitivos para aumentar a participação brasileira nesse tipo de exportação e reduzir a australiana.
Durante entrevista à Agência de Notícias Brasil-Árabe, a ministra justificou este mês que a exportação de gado em pé é uma alternativa para o pecuarista brasileiro, não para a indústria.
“Quando você vende, normalmente são bezerros ou garrotes, você traz até um certo equilíbrio [ao mercado]. Mas não é um mercado que pode ser muito maior. Hoje está em torno de 700 mil cabeças, tem gente que fala em um milhão de cabeças [a exportação anual de bovinos vivos]”, declarou.
E acrescentou: “Eu acho que podemos crescer [na exportação de bovinos vivos], mas para isso temos que ter porto, nós temos que ter as ZPEs [Zonas de Processamento de Exportação], que são onde esses animais ficam em quarentena para tomar as vacinas, para fazer a preparação sanitária para o embarque.”
A exportação de gado em pé é prática controversa considerada por organizações que zelam pelo bem-estar dos animais como inaceitáveis, já que as viagens são longas e nem todos os animais sobrevivem ao percurso, seja por negligência ou fatores climáticos. Além disso, o destino desses animais também é o abate halal, ou seja, sem insensibilização.
“Nós temos um problema hoje no Brasil e em outros países também com a questão do bem-estar animal. Há uma parte da sociedade que acha que o boi não deve ficar no navio tanto tempo. Mas eu acho que é um mercado que, pelo tamanho do rebanho brasileiro, tem que existir. A Austrália faz isso para a Ásia toda, ela é uma grande exportadora de gado em pé e eu acho que o Brasil tem aí um nicho nos países árabes”, defendeu a ministra em entrevista à Agência de Notícias Brasil-Árabe.
Ontem (30), na Expointer, depois de dizer que o agronegócio brasileiro deve ser mais forte do que as críticas, Tereza Cristina exortou os pecuaristas a participarem da Semana da Pátria. “Convoco todos os produtores rurais, aqueles que puderem, hasteiem uma bandeira na porta de sua fazenda. Vamos mostrar que nossa agricultura é pujante e sustentável.”
O que é o abate halal?
No abate halal, o animal não passa por nenhum suposto procedimento de insensibilização e recebe um corte no pescoço em movimento de meia-lua, que culmina no corte dos três principais vasos – jugular, traqueia e esôfago. Esse tipo de abate, assim como o kosher, tem feito parte de muitas discussões sobre bem-estar animal em diversos países.
No início do ano, por exemplo, a região de Flandres, na Bélgica, aprovou a proibição de abates halal e kosher, sob a justificativa de que como os animais não são submetidos a nenhum método de insensibilização, o sofrimento é ainda mais evidente.
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