O El Niño, evento climático natural que provoca o superaquecimento das águas do Pacífico, acaba de começar no oceano – o que significa que, provavelmente, vai adicionar ainda mais calor ao Planeta, já aquecido devido às mudanças climáticas. Cientistas americanos confirmaram nesta quinta-feira (8) que o El Niño teve início, e especialistas apontam que isso provavelmente fará de 2024 o ano mais quente já registrado, isso se 2023 já não bater o recorde antes. Eles temem, ainda, que isso ajude a empurrar o mundo para além de um marco de aquecimento de 1,5°C.
O fenômeno deve afetar o clima mundial, potencialmente levando seca para a Austrália, mais chuva para o sul dos Estados Unidos e enfraquecendo as monções da Índia. O evento provavelmente durará até a próxima primavera – depois disso, estima-se que seus impactos diminuirão.
Durante meses, pesquisadores estimaram que um evento El Niño, que não era registrado há alguns anos, estava prestes a surgir no Oceano Pacífico.
“Está aumentando agora, houve sinais em nossas previsões por vários meses, mas realmente parece que atingirá o pico no final deste ano em termos de intensidade”, disse Adam Scaife, chefe de previsões de longo prazo do Met Office, serviço nacional de meteorologia do Reino Unido, em entrevista à BBC. “Um novo recorde de temperatura global no próximo ano é definitivamente plausível. Depende de quão grande será o El Niño – um grande El Niño no final deste ano aumenta a chance de termos um novo recorde de temperatura global em 2024”, completou ele.
Este fenômeno natural é a flutuação mais poderosa no sistema climático em qualquer lugar da Terra. A Oscilação Sul do El Niño, ou ENSO, como é apropriadamente chamada, tem três fases diferentes: quente, fria ou neutra. A fase quente, chamada El Niño, ocorre a cada dois a sete anos e vê as águas quentes virem à superfície na costa da América do Sul e se espalharem pelo oceano, empurrando quantidades significativas de calor para a atmosfera.
Anos quentes recordes, incluindo 2016, o mais quente já registrado no mundo, geralmente acontecem no ano seguinte a um poderoso evento El Niño. O fenômeno, explica a MetSul, muda o clima no mundo todo com mais extremos de chuva e seca, ou mais ou menos ciclones tropicais, conforme a geografia. Em escala planetária, o El Niño, por conta do aquecimento oceânico, eleva ainda mais a temperatura do mundo.
Super El Niño
Pesquisadores acreditam que o evento que começa este ano tem 84% de chance de exceder a força moderada até o final de 2023, e também estimam que há uma chance em quatro de este evento ultrapassar os 2°C em seu pico, o que significa entrar no território de um “super El Niño”.
Os impactos do início do El Niño provavelmente ficarão para trás por alguns meses, mas serão sentidos em todo o mundo. Além de provocar consequências como mais secas na Austrália e em partes da Ásia, com potencial enfraquecimento das monções na Índia, deixando estados do sul dos EUA mais úmidos no inverno, o El Niño normalmente fortalece as condições de seca na África.
Estima-se que o forte El Niño de 1997-98 custou mais de US$ 5 trilhões (aproximadamente R$ 23,6 trilhões), com cerca de 23 mil mortes por tempestades e inundações. Há também uma forte probabilidade de que a versão deste ano empurre 2024 para além de 2016 como o ano mais quente do mundo, aponta a BBC.
As temperaturas globais estão atualmente pairando em torno de 1,1°C acima da média no período de 1850-1900. Mas um evento El Niño pode adicionar até 0,2°C a esse número, empurrando o mundo para um território de temperatura desconhecido e muito próximo do valor simbólico de 1,5°C, um elemento-chave do acordo climático de Paris.
Fonte: Um Só Planeta