Palmer afirma que os ativistas ficaram chocados pelo número e abrangência de animais usados nas pesquisas. Ela afirma que muitos dos procedimentos revelados tinham o objetivo apenas de repetir estudos já realizados. Além disso, inúmeros especialistas estariam convencidos de que os testes em animais não são uma boa forma para prever o que aconteceria com humanos.
O dossiê, chamado “Guerra Secreta – As vítimas invisíveis”, afirma que macacos, apesar de altamente inteligentes, eram engaiolados e “tinham apenas DVDs para estimulação visual”.
Testes também foram executados pelas universidades de Oxford, Cambridge e Birmingham.
“Alguns dos exemplos que encontramos incluíam 30 coelhos adultos que tiveram as pernas traseiras amarradas em grampos para ferimentos. Os pesquisadores então soltavam pesos nas pernas dos coelhos, equivalentes a até cinco vezes seu peso corporal. Bactérias eram então introduzidas nas feridas abertas. Esses animais sensíveis sofreram por sete dias até serem mortos”, consta no dossiê.
Em Porton Down, em 2013, houve 5.641 testes realizados em coelhos e 447 em porcos-da-índia. Alguns especialistas acreditam que os números do relatório são apenas “a ponta do iceberg”.
Muitos animais morrem como resultado dos testes. Quase todas as criaturas que sobrevivem a eles são mortas depois.
Há um desejo crescente no Reino Unido para que sejam proibidos os testes em animais vivos, em particular com primatas. Mas muitos apoiadores afirmam que os testes são essenciais para permitir que cientistas lutem contra doenças que atacam humanos.
Wendy Jarrett, presidente do grupo Understanding Animal Research (“Entendendo a Pesquisa com Animais”), afirma: “Experimentos com objetivos militares são desenhados para apoiar e proteger nossas tropas em situações perigosas ou para preparar para uma potencial situação de ataque químico ou biológico contra civis”.
“A lei é clara”, continua Jarrett, “que animais não podem ser utilizados se houver outro meio de conduzir os experimentos. Macacos não podem ser usados se a pesquisa puder ser conduzida em qualquer outro tipo de animal. É por isto que a pesquisa que usa primatas não-humanos é rara, sendo menos de 0,1% dos animais de laboratório no Reino Unido. A maioria são ratos e camundongos”.
Jarrett lembra que as diretrizes determinam que os pesquisadores devem minimizar o sofrimento das cobaias “quando possível”.
Já o Ministério da Defesa afirma que em alguns casos não há alternativa aos testes animais.
Um porta-voz afirmou que pesquisas feitas pelo Laboratório de Ciência e Tecnologia de Defesa (Lctd) do Ministério da Defesa têm salvado vidas de soldados britânicos ao desenvolver novos equipamentos protetores e tratamentos médicos que também beneficiam civis.
O Ministério também salienta que o laboratório responde por menos de meio porcento dos animais de laboratório no Reino Unido.
Nem todos os testes conduzidos na base de Porton Down são realizados para fins militares. O órgão governamental Public Health England também tem uma sede no local.
Ano passado, o jornal britânico Mirror revelou como porcos vivos eram amarrados e baleados na Dinamarca e depois atendidos por médicos britânicos para praticarem operações em ferimentos traumáticos, com os animais ainda vivos. Este tipo de treinamento está banido no território britânico.
Porton Down, uma base científica militar comandada pelo governo do país, foi inaugurada durante a I Guerra Mundial e é a mais antiga instalação de pesquisa de armas químicas do mundo. Esteve no centro de muitas controvérsias e já foi descrita como “sinistra” por um oficial da administração britânica.
De 1939 a 1989, Porton Down expôs mais de 3.400 cobaias humanas vindas das forças armadas ao gás de nervos. Teoricamente, todos deveriam ser voluntários, mas persistem alegação de que eles teriam sido enganados para tomar parte nas experiências e que muitos tiveram problemas de saúde de longo prazo.
Durante a II Guerra, cientistas da base fizeram experimentos com armas químicas como mostarda de nitrogênio e agentes biológicos como anthrax. Depois do fim do conflito, as pesquisas se concentraram nos efeitos de gás do nervo em humanos, usando cobaias militares, e passou a ser alvo de diversas alegações de experimentação antiética.
O piloto Ronald Maddison, 20, morreu em 1953 pouco depois de participar de um teste usando o perigoso agente nervoso chamado sarin.
Em 1970, o centro recebeu amostras do vírus ebola, quando a primeira epidemia da doença foi confirmada na África.