Duas semanas atrás, uma equipe do Santuário do GAP em Sorocaba concluía com perfeição um resgate no Zoológico da cidade paulista de Leme, que estava sendo desativado. Duas leoas, de nome Isa e Salena, e o chimpanzé Tôto foram anestesiados, colocados em caixa de transporte e levados por nosso caminhão ao seu novo destino.
Quando a equipe voltava, me telefonou e senti que algo não estava bem. Ao indagar, rapidamente percebi que a angústia que o leão Chicão refletia em seu olhar e suas reações sensibilizaram a nossa equipe e a do Zoológico, já que perceberam que a separação daquela família de felinos era um drama que ia deixar profundas sequelas.
Não poderíamos separar o leão das fêmeas, talvez uma dela sua mãe. Ele não podia entender o que acontecia, como aqueles seres chamados humanos o deixavam para trás, e sua família desaparecia com um rumo desconhecido. Acionamos as autoridades ambientais estaduais e com apoio do pessoal do Zoológico, uma ordem de transferência para o Zoo de Limeira foi cancelada e outra para o Santuário do GAP em Sorocaba foi emitida. Esta vez a burocracia teve sentimentos e a união familiar prevaleceu.
Na terça-feira (03 de junho), enquanto o amistoso da Seleção Brasileira de Futebol se desenrolava no Estádio Serra Dourada em Goiânia, e o Brasil derrotava um rival incrementado pelo marketing televisivo, um leão chegava para o reencontro com seus seres queridos.
Um leão que com seus gestos e seu olhar fez todos os envolvidos refletirem. Um novo resgate de animais, exibidos estupidamente em zoológicos, para divertir uma humanidade ignorante, mostra para o mundo que a separação familiar no Reino Animal é um sofrimento tão cruel, ou talvez maior ainda do que quando acontece entre Homo sapiens.