Construções de grandes estradas, hidrelétricas, ferrovias e linhas de transmissão de energia são importantes para o desenvolvimento das cidades e para o dia a dia da população. No entanto, a área ocupada por esses grandes empreendimentos sofre com o impacto ambiental. Por isso, leis como a do resgate de fauna são indispensáveis na preservação das espécies locais.
Regulamentado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), a norma prevê ações voltadas aos animais provenientes, direta ou indiretamente, de uma área impactada.
Captura, coleta, transporte e destinação dos indivíduos resgatados para refúgios naturais são algumas das etapas que garantem a sobrevivência da fauna. “Os programas de salvamento também têm a função de minimizar os impactos dos empreendimentos sobre as comunidades biológicas locais e garantir as interações ecológicas e o equilíbrio dos ecossistemas naturais”, explica o biólogo Renato Gaiga.
De acordo com o especialista, a captura dos animais silvestres deve ser feita somente quando o animal encontrado tem dificuldades naturais de locomoção ou está debilitado. “A captura deve ser bem elaborada e planejada para possibilitar a contenção do animal sem que ele se sinta estressado. Além disso, ela só poderá ser feita após requerimento enviado ao Ibama”, alerta Gaiga, que também ressalta os cuidados necessários para o transporte e a destinação dos animais.
O transporte deve ser feito com cuidados para que eles não se estressem. A fauna resgatada precisa receber tratamentos especiais com o acompanhamento de profissionais habilitados
— Renato Gaiga, biólogo
Quando resgatados, os indivíduos podem ser levados para áreas de soltura ou para centros de triagem, onde biólogos irão identificar as espécies e veterinários irão avaliar o estado de saúde dos animais. “Assim eles poderão ser reabilitados e soltos novamente na natureza, em áreas determinadas pelos órgãos ambientais”, explica o biólogo.
O local de triagem deverá estar equipado com recintos, equipamentos hospitalares veterinários e um pequeno laboratório para procedimentos
Após a triagem e a soltura, é necessário ainda monitorar as áreas em questão. “Os biólogos avaliam a região de soltura ao longo do tempo, assim como acompanham os indivíduos ali realocados”, completa Gaiga.
Oferta e demanda
Previsto pela legislação ambiental, a atividade é obrigatória, mas pouco valorizada no âmbito da conservação. “Os empreendedores sabem da necessidade do serviço, mas não encaram como investimento em sustentabilidade e preservação. Na maioria das vezes tratam como ‘gasto’ e empecilho da obra”, lamenta o biólogo, que também problematiza a escassez de informação quanto ao resgate de fauna nas faculdades.
“Você não encontra muitas informações sobre o resgate de fauna. As universidades não detalham o mercado e nem os serviços que podem ser prestados por biólogos e veterinários”, relata.
De modo geral, as faculdades de biologia e veterinária não abordam serviços técnicos de consultoria focados em animais silvestres. Sendo que esse campo é vasto e promissor
— Renato Gaiga, biólogo
Assim, o biólogo incentiva a especialização em espécies silvestres. “No caso dos biólogos, há ainda a necessidade de se especializar em um grupo faunístico específico, como anfíbios e répteis, ou mamíferos, aves e insetos”, explica Renato, que entende o resgate de fauna como iniciativa imprescindível para a preservação das espécies em áreas afetadas, além de oportunidade para os profissionais.
Dicas da Gente
Visto a escassez de conteúdo, Gaiga e o colega veterinário, Leonardo Schwab, ministrarão uma aula online sobre o resgate de fauna.
“Foi pensando nessa carência de informações que resolvemos dar essa aula, a fim de orientarmos e inspirarmos estudantes e profissionais que sonham em trabalhar com animais silvestres e ainda não sabem quais os passos necessários para trilhar uma carreira sólida na área”, diz o biólogo.
A aula “Os bastidores do resgate de fauna: o passo a passo para a excelência”, tem duração de duas horas, é gratuita e necessita de inscrição.
“Para se inscrever gratuitamente, basta acessar o link, cadastrar seu e-mail e ficar de olho nas próximas instruções que serão enviadas”, explica Renato, que convida estudantes a participarem da iniciativa.
“Queremos mostrar que a pessoa pode começar a se capacitar ainda na graduação. O inscrito terá acesso a um conteúdo que ajudará a entender o que é de fato o resgate de fauna e como começar a trabalhar na área”, completa.
A aula online será transmitida hoje às 20 horas.
Fonte: G1