O derretimento de gelo no Ártico vinculado ao aquecimento global tem um impacto inesperado nas renas do oeste da Groenlândia, reduzindo o nascimento de filhotes e elevando sua taxa de mortalidade, revelou um estudo publicado nesta terça-feira.
O degelo acelerado fez com que a temporada de crescimento das plantas na Groenlândia começasse mais cedo, em média cerca de 16 dias antes em 2011 em comparação com 2002, escreveram estudiosos em artigo divulgado na revista Nature Communications.
A temporada de nascimento de filhotes, no entanto, se manteve igual. Isto significa que os recém-nascidos e suas mães precisam comer plantas mais velhas que já passaram de seu pico nutricional.
As renas da Groenlândia, grandes animais semelhantes aos alces dotados de grandes chifres, são parentes próximas da rena selvagem, e há 3 mil anos migram do oeste para o leste do final de maio ao início de junho em busca de plantas jovens, como salgueiros-do-ártico, ciperáceas e ervas florescentes de tundra, quando estão prestes a dar à luz.
Comer plantas jovens suculentas nesta época aumenta as chances de terem filhotes saudáveis.
Após passarem um longo inverno ártico tendo que cavar a neve para encontrar líquens, “os animais aparecem esperando uma fartura de comida, mas acabam descobrindo que a cafeteria já fechou” por causa da temporada de crescimento alterada, disse Jeffrey Kerby, estudante de pós-graduação da Universidade Penn State, que contribuiu para este estudo.
O declínio atual no gelo marinho tem sido associado a temperaturas terrestres mais altas em muitas regiões do Ártico. As plantas respondem às temperaturas mais quentes ajustando o ritmo de seu crescimento, destacaram os autores do estudo.
Mas as renas, cujos ciclos reprodutivos são determinados por mudanças sazonais na duração da luz diurna ao invés da temperatura, continuam a dar à luz quase na mesma época da primavera.
“Este cenário é o que nós chamamos de desacordo trófico – uma desconexão entre o momento em que as plantas são mais nutritivas e o momento em que os animais são mais dependentes delas para a sua nutrição”, disse Kerby.
O co-autor do estudo, Eric Post, professor de Biologia da Penn State, começou a estudar o relacionamento entre o nascimento de renas e a temporada de crescimento vegetal na Groenlândia 20 anos atrás.
Os dois também usaram dados de um estudo dos anos 1970, quando havia uma produção muito maior de filhotes e de sobrevivência na região.
“O gelo marinho é parte de um sistema climático mais amplo que claramente tem efeitos importantes tanto nas plantas quanto nos animais”, disse Post.
“Exatamente como o declínio de gelo marinho pode afetar as interações entre as espécies neste e em outros tipos de cadeias alimentares terrestres no Ártico é uma questão que merece maior atenção”, concluiu.
Fonte: Terra