Dos 299 animais disponíveis para adoção nos CCZs (Centros de Controle de Zoonoses) da região do ABC paulista, 45 são pit bulls, ou 15% deles. Trata-se de um cão forte, resistente, musculoso, valente e determinado, que muitas vezes é associado à guarda e proteção. Por essa fama injusta de mau’, os pit-bulls acabam tendo mais dificuldades de serem adotados que outros cães de raça abandonados.
São Bernardo é a cidade que, atualmente, tem mais pit bulls aguardando por um lar: são 25, entre os 112 animais do CCZ, incluindo um cavalo (leia abaixo). Em seguida vem Santo André, com 13 cães entre os 75 bichinhos, São Caetano, com seis de 46, e Diadema, com um entre 41. No CCZ de Ribeirão Pires não há nenhum pit-bull entre os 25 animais abrigados. Mauá e Rio Grande da Serra não responderam.
Especialistas afirmam que, se os pit-bulls forem bem tratados, vacinados e alimentados, não são violentos. A convivência com crianças e outros cães é possível, principalmente se forem adotados filhotes.
A gerente de controle de zoonoses do Departamento de Vigilância à Saúde de Santo André, Andréa Sampaio Bonatelli, explicou que o nível de violência depende da forma como o cão é treinado. “Se cresceram solitários, podem ser violentos com outros animais, mas se conviveram com outros bichos, vivem numa boa”, disse.
Ainda segundo Andréa, a raça é brincalhona e pode ser ótima companhia para adultos e crianças.
No CCZ de São Caetano é possível comprovar a afirmação: lá, um casal de pit-bulls de quatro anos recebeu a reportagem do Diário com empolgação.
Enquanto eram fotografados, abanavam o rabo e pulavam, querendo brincar. “Eles são dóceis e foram abandonados pelo dono depois que ele foi despejado”, explicou o veterinário Fábio Agostini.
Para ele, os pit-bulls sofrem hoje o mesmo preconceito que os dobermans sofreram no passado. “A força desses cães é descomunal, e alguns acidentes podem ser fatais. Mas, estatisticamente, a raça que mais morde é o dachshund, o ‘salsicha’. Porém, a proporção do estrago é menor porque é um cão de porte pequeno.”
Exepriência
A professora universitária e jornalista Marli dos Santos, 52 anos, é adepta do pit-bull como cão de companhia. Ela é tutora de Olga, uma fêmea de 3 anos, e há dois meses adotou Max, que foi encontrado atropelado na Rodovia Anchieta, em São Bernardo, e precisou passar por duas cirurgias.
Após dois meses, Max ainda está em recuperação, mas vive com regalias: só dorme dentro de casa. “Eles são animais fortes e musculosos. Se você treina para ser agressivo, ele pode ser uma máquina mortífera, mas eu criei com afeto, amor e carinho e eles são supergentis”, destacou.
Claro que nem todos pensam assim: os vizinhos já reclamaram dos cachorros várias vezes e eles só saem para passear de focinheira. “Eles discriminam a raça, coisa de quem não conhece. Infelizmente tenho de lidar com isso”, lamentou. Para Marli, porém, o esforço compensa.
Em São Bernardo, égua aguarda um lar
Ela é arisca e não se deixa capturar fácil. Enquanto se alimenta, é tranquila, mas, quando vê seu território ser invadido, foge para os fundos do cercado. Madame Min é uma égua de cerca de 10 anos que aguarda um novo lar no CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) de São Bernardo.
Quem levar Madame Min ganhará de presente um potrinho, pois ela está prenhe. O médico veterinário Gustavo Mercatelli explicou que o CCZ da cidade chegou a ter 12 cavalos de uma só vez disponíveis para adoção.
“Eles vêm principalmente de regiões rurais, tais como o Riacho Grande e o Alvarenga”, explicou.
Mercatelli destacou ainda que os animais de grande porte, como cavalos e bois, só são capturados pelo CCZ se estiverem soltos e oferecendo risco de acidentes. O animal fica disponível por sete dias para que o tutor possa retirá-lo, prazo que Madame Min completou ontem.
“O responsável só pode retirar se comprovar que o cavalo é dele por meio de foto ou documentação e pagar a estadia no CCZ”, disse.
Rigor
Passado o período de uma semana, o animal vai para a lista de adoção. O procedimento é rigoroso: só pode adotar quem tem propriedade com mais de 10 mil metros quadrados e um veículo apropriado para transportar o cavalo.
“Também precisa apresentar comprovante de residência, CPF e RG. Além disso, fazemos um exame para ver se o animal não tem anemia equina e emitimos a Guia de Transporte Animal. Sem ela o cavalo não sai daqui”, afirmou Mercatelli.
Madame Min não deve esperar muito por um dono. Segundo Mercatelli, a adoção de equinos é rápida. “Sempre há interessados e eles não passam muito tempo por aqui”, destacou.
Fonte: Diário do Grande ABC