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Razão e emoção juntas pelo reconhecimento dos Direitos Animais

6 de março de 2014
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É inegável que os Direitos Animais têm um fato biológico como sua base ética: a senciência de muitas espécies animais, cada vez mais reiterada pela Ciência – a Declaração de Cambridge, que atestou a consciência neurológica para mamíferos, aves e moluscos cefalópodes, não deixa mentir. Mas esperar pela Biologia é problemático quando se trata de se escorar completamente numa hipotética confirmação de que a senciência deles é igual à humana para se tornar vegano, postura de algumas pessoas da área de Biologia. Também constitui problema esnobar as descobertas científicas em promoção de critérios subjetivistas sobre por que respeitar ou não determinados seres.

Ao contrário do que esses indivíduos pensam, nem a Ciência – seja lá em que métodos e conceitos se baseie – nem a subjetividade emocional pessoal devem ser o único fundamento do nosso reconhecimento e respeito aos interesses individuais dos animais não humanos.

Desde o seu surgimento enquanto prática ética, o veganismo se fundamenta tanto na confirmação científica da senciência animal como também na alteridade, na empatia, na compaixão intuitiva. Ambas trabalham em conjunto, de tal forma que não precisamos esperar que a Biologia comprove por a+b que a senciência deles é exatamente igual à nossa para só assim nos tornarmos contra, por exemplo, as pesquisas cientificas em cobaias.

Na verdade, essa comprovação jamais vai chegar, visto que o indivíduo humano não pode se tornar completamente ciente da experiência da consciência e sensibilidade de nenhum outro ser fora ele mesmo. Não podemos saber nem o quão senciente nossos pais, irmãos ou namorados são. E nem por isso nós os consideramos moralmente inferiores a nós ou esperamos a Ciência dizer algo sobre a senciência de uns humanos ser maior do que a de outros.

Esperar só pela Biologia para nos dar uma certeza sobre se devemos reconhecer os direitos, por exemplo, dos camundongos explorados em laboratórios ou das abelhas exploradas pela apicultura é um cientificismo. É escorar toda a ética humana em verdades científicas em detrimento de outros meios de atestarmos o desejo do outro de viver fisicamente íntegro, como a observação cotidiana – que nos mostra todos os dias que mesmo os menores insetos têm um desejo, ainda que não abstraído por eles, de continuar vivos e inteiros – e o benefício da dúvida – que nos dissuade de considerar terminantemente que, por exemplo, ostras e gafanhotos não são sencientes como os mamíferos e podem ser comidos por isso.

No ser humano, Razão e emoção, mente e coração, funcionam em conjunto. Interligam-se quando sentimos a necessidade de respeitar o outro, sem que nos escoremos totalmente em um em detrimento do outro. Mesmo quando não temos provas científicas de que insetos têm avançados consciência neurológica e desejo de viver, a intuição empática e compassiva nos faz respeitá-los, da mesma forma que temos empatia por outros seres humanos mesmo quando não sabemos se eles querem, tanto quanto nós, viver e ser felizes.

Isoladamente, nenhum dos dois é suficiente para nos fazer prestar o autêntico respeito ao outro senciente. Ser isoladamente racional e escorado na Ciência nos faz correr o alto risco de estarmos violando os interesses daquele cujas características não conhecemos totalmente, e também nos faz prestar um respeito frágil e não compassivo pelo outro. E ser apenas emocional no respeito, não dando nenhum crédito ao racional e ao científico – seja lá como o método científico for – , pode nos inundar de crenças falsas e prejudiciais, como acreditar que plantas sentem dor e são conscientes – mesmo havendo evidências científicas contrárias a isso –, e isso ou ameaçar fazer a pessoa restringir demais seu direito de interagir com o meio ambiente, ou achar que a dor e a consciência, por serem supostamente onipresentes, não podem nos fazer respeitar os animais a ponto de não comê-los.

Portanto, não convém esperar pela Ciência para nos dar todas as certezas sobre senciência animal ou nos escorarmos exclusivamente em nossas mais emocionais e falíveis crenças. Precisamos da razão e da emoção ao mesmo tempo e agindo em conjunto para respeitarmos os animais não humanos. Sem emoção, faltará compaixão e empatia. Sem razão, faltará convicção e motivação pelo qual prestarmos esse respeito.

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