Com eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, paralelo à preocupação com a segurança das próximas gerações, crescem também os temores sobre uma crise alimentar causada pelo desequilíbrio ambiental. Da irregularidade nas chuvas à redução da população de abelhas polinizadoras, uma série de fatores ligados à degradação climática ameaça a produção de alimentos – não só em quantidade, mas também em qualidade nutricional.
Apenas em 2022, uma alta recorde foi registrada nos preços dos alimentos em todo o globo. Conforme apontam números da FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, alguns dos ingredientes mais consumidos do planeta ficaram até 28% mais caros entre 2020 e 2021. Já em 2022, os mesmos itens sofreram uma alta de mais 18%.
Para além da guerra na Ucrânia e do rescaldo deixado pela pandemia da COVID-19, estudiosos já analisam o impacto do aquecimento global em altas como essa – e deixam um alerta sobre o futuro de algumas culturas. A seguir, confira os alimentos mais afetados pela crise climática:
Trigo
Considerado um alimento básico em todo o planeta, o trigo é consumido por 35% da população mundial. Com o avanço dos períodos de seca extrema, porém, estima-se a cultura também seja uma das mais ameaçadas pelas mudanças climáticas.
Em reportagem da Reuters divulgada em 2019, estudiosos alertaram que mais de 60% dos campos de trigo no planeta podem ser destruídos pela seca até o final deste século. Em mesmo sentido, conforme aponta o portal de notícias UOL, somente na África Subsaariana e entre 2015 e 2019, a produção de trigo e milho caiu, respectivamente, 2,3% e 5,8%.
Como resultado, mais de 160 milhões de pessoas precisaram de assistência humanitária devido a emergências alimentares.
Somada a outros fatores, como o aumento da população mundial e a expectativa de que a temperatura global continue a subir, perdas como essa podem afetar drasticamente a qualidade de nossas dietas. Isso fica claro quando nota-se que o grão corresponde a, em média, 20% das calorias consumidas diariamente em todo o globo.
Café
Sabe aquele cafezinho que te deixa mais produtivo de manhã? Ele também é um dos alimentos mais ameaçados pela crise climática. Segundo um estudo publicado em 2022, até 2050, alterações no ecossistema global podem eliminar até 50% dos campos de cultivo de café existentes hoje em todo o mundo.
Responsável por dois dos países que mais produzem café no mundo, Brasil e Colômbia, que ocupam o primeiro e o segundo lugar no ranking mundial, a América Latina seria especialmente afetada. Isso porque a degradação da cultura cafeeira por aqui pode chegar a 88%.
No caso do grão, o maior problema são as chuvas, bem como a umidade, que impedem a planta de se desenvolver ao máximo. Para além disso, outras consequências do desequilíbrio ambiental, como a proliferação de doenças e pestes, também estão no radar dos especialistas.
Arroz
Ainda mais popular que o trigo, o arroz é consumido por quase metade da população do planeta. Por essa razão, além de ser um dos alimentos mais ameaçados pela crise climática, eventuais impactos na produção desse grão teriam efeitos devastadores.
Com a alta no nível dos oceanos, plantações de arroz em áreas costeiras podem se tornar mais difíceis de manter. Por outro lado, a preocupação com os períodos de seca é ainda maior.
Atualmente, a maior parte do arroz consumido no planeta é produzida na Ásia, e países como Bangladesh – 3º maior produtor global do grão – já vivenciam os efeitos dos padrões de chuva irregulares e da estiagem. Estima-se que, no futuro, o mesmo deve acontecer com boa parte dos países insulares produtores de arroz.
De acordo com um estudo, apenas na Ásia, o aumento no nível do mar pode afetar até 200 mil fazendas costeiras nos próximos 120 anos. Da mesma forma, o impacto também deve ser maior para os pequenos produtores, responsáveis por 80% do arroz mundial.
Por fim, ainda que as projeções acendam um alerta, a biotecnologia pode oferecer uma saída. Isso porque novas variantes do arroz, mais resistentes à inundação dos campos e aos períodos de seca, também estão sendo desenvolvidas.
Milho
Cultivado em grande escala nas Américas, o milho é utilizado em inúmeros pratos, além de servir para a produção de diversos alimentos industrializados, a partir do amido e da frutose. Com isso, é de se esperar que qualquer expectativa de redução em suas colheitas seja objeto de real preocupação em todo o mundo.
Assim como outras culturas da lista, a produção de milho está ameaçada por ser sensível às irregularidades nos períodos de chuva, bem como ao aumento da temperatura global. Em razão disso, algumas projeções, como a divulgada recentemente pela NASA, apontam para uma queda de até 25% na produção mundial do grão durante os próximos 20 anos.
Cacau
Ao mesmo tempo em que se espera um aumento na demanda mundial de cacau, a África, continente onde a maior parte do fruto é produzido (cerca de 70%), está entre as regiões mais vulneráveis ao aquecimento global.
Sensível ao calor e aos períodos de seca, o Cacau também não é muito resistente a pestes ou à degradação do solo.
Tal combinação de fatores, uma vez exacerbadas pelo aumento de um ou dois graus na temperatura média do planeta, poderiam facilmente tornar o chocolate, bem como outros derivados do fruto, um verdadeiro artigo de luxo – tal como no tempo da civilização maia.
Frutas também estão no radar
Para além dos citados acima, a lista de alimentos mais afetados pela crise climática também inclui frutas, como pera, maçã e banana, além de carne e derivados do leite.
A estimativa é oriunda de um estudo recente de pesquisadores de Sydney, na Austrália, e que analisa os possíveis impactos do aquecimento global em nossas dietas até 2030. Conforme aponta o estudo, os maiores vilões da produção desses alimentos são o calor excessivo e eventos climáticos extremos, como os ciclones.
Até a próxima década, os estudiosos concluíram que, somente na Austrália, a produção de carne pode cair em até 45%, seguida por uma baixa de 40% na produção de laticínios. Já no caso das bananas, o cenário é especialmente dramático, uma vez que as projeções mais pessimistas apontam para uma redução de 90% nas plantações.
Fonte: Inova Social