“Uma pessoa omissa, ainda dá para tolerar. Agora, uma nação inteira,
160 milhões de engabelados, isto é um fenômeno intolerável!”
(Ezio Flavio Bazzo em A arte de cuspir ou
A dialética dos porcos, 1994)
Observem a propaganda política e a quantidade de candidatos ligados à religião e ao exército.
Observem algumas cidades que falam muito em turismo, mas que não têm a menor vocação turística, praticamente espantando os visitantes…
Estas e outras observações dizem muito sobre o rumo do país nos últimos tempos.
Sou natural de Esteio, a cidade da Expointer, e há alguns anos passo frequentemente de metrô pela cidade e também no interior dela, onde se nota visivelmente que a cidade continua a mesma desde uns vinte anos atrás mais ou menos. As pequenas favelas na frente da Expointer continuam iguais, o lixo derramado por todos os lados, invadindo os trilhos do trem.
A maior feira do agronegócio, que alguns da área do turismo defendem com a própria alma, e à qual mídia inteira só faz elogios, trouxe poucas mudanças para a cidade que a abriga; até mesmo os que visitam a feira, na sua maior parte, se hospedam em Porto Alegre.
Conheço pessoas que lá trabalham. São sempre as mesmas pessoas, e a maior parte vem de outros lugares do Estado.
A mídia se empenha em mostrar que a exploração dos animais na feira é um grande investimento para o Estado. Mas esquece de alertar que apenas alguns poucos têm acesso a estes investimentos. Alguns políticos se agarram à Expointer, esperando votos da população.
O vereador Adeli Sell, do PT de Porto Alegre, recentemente vem denunciando corajosamente irregularidades no Acampamento Farroupilha, gastos exorbitantes, e cobrando prestações de conta, que ao que tudo indica já foram feitas. Mais um evento “turístico” que interessa apenas a uma pequena parte da população, mas seguramente não a toda população.
Apostar (e muito) dinheiro público em atividades como esta apenas leva adiante o negócio de poucos, mas não a prosperidade do Estado a longo prazo.
Estes eventos, onde os animais são coisificados e explorados à luz do dia, não deveriam ser orgulho de uma população que tem diversos problemas em outras áreas da sua vida.
Na hora de votar, deveríamos considerar projetos mais adequados às nossas necessidades, e pessoas isentas de apego ao conservadorismo religioso e militar. Para não falar nos candidatos ligados a times de futebol e tradicionalismo. Como se o fato de pertencer a este ou aquele time, esta ou aquela tradição fosse garantia de bom caráter e de que a pessoa fará algo para o povo e não para ela mesma apenas.
Pois o país continua importando trigo, por exemplo, enquanto exporta gado (e com ele os milhões de litros de água, poluição e desperdício em termos ecológicos e financeiros que a criação de animais representa ao Brasil).
Algumas cidades continuam com os mesmos buracos, embora a propaganda política esteja cheia de candidatos que já foram governantes por anos nestas cidades.
Vote em candidatos que se preocupem realmente pelos animais e pelas pessoas, mas antes dê uma busca por seus trabalhos e projetos, pois tem muita gente dizendo que apoia os animais.
De fato, há um ponto positivo. Talvez agora, que nós, ativistas, colocamos a questão animal em evidência, as pessoas tenham mais coragem de defender esta proposta política abertamente, pois do contrário estaria passando por “radical”. Todos nós já ouvimos esta palavra, típica de um povo que passou por um regime militar, onde naquela época, tudo o que era defendido com atitude era considerado “radical”. Quem vive chamando os outros de radical deveria questionar de onde vem esta palavra e por que ela é tão usada aqui no Brasil.
E quem ainda não se decidiu por quem votar, observe atentamente o clima de conservadorismo e, por que não, retrocesso em algumas das propostas que os candidatos apresentam.