O Parque Nacional dos Vulcões em Ruanda é um triunfo da conservação. Centenas de gorilas-das-montanhas residem na área, mas o ressurgimento também trouxe consequências, já que agora esses animais lutam por espaço para que possam crescer e prosperar.

A cordilheira de Virunga abrange Ruanda , Uganda e a República Democrática do Congo, e possui oito vulcões na região povoada dos Grandes Lagos da África, que assim como a floresta Bwindi de Uganda, é o único habitat desses animais. Os oficiais do parque estão orgulhosos da regeneração dos primatas ser um sucesso. De acordo com o guarda florestal Felicien Ntezimana, um censo realizado em 2015 mostrou o aumento do número de gorilas de 880 para 1063.

Devido a esse feito, o gorila da montanha passou a ser listado apenas como um animal em perigo pela União Internacional da Conservação da Natureza, enquanto outros animais ainda constam como ameaçados.

Os gorilas-da-montanha percorreram uma grande jornada desde os anos 80 por conta da caça, que resultou em uma queda na sua população para apenas 250 animais na cordilheira de Virunga. Até mesmo o famoso primatologista Dian Fossey foi morto supostamente por conta da luta contra a caça. Por isso medidas de segurança mais efetivas e fortes, assim como o convencimento de moradores locais, ajudaram a mudar a história dos gorilas.

Hoje, dez por cento do valor de cada ingresso para visitação do parque vai para projetos comunitários, e outros cinco por cento são usados como fundo de compensação dos moradores da área. Os gorilas agora são vistos como a chave do futuro financeiro da comunidade, de acordo com Jean-Baptiste Ndeze, morador idoso da cidade de Musanze, que faz fronteira com o parque.

No entanto, a conservação do parque levou a consequências imprevisíveis. O turismo e a interação dos gorilas com os pesquisadores acostumou os animais aos humanos, e agora esses gorilas têm cada vez menos medo de se aventurarem nas áreas povoadas, à medida que seu habitat natural vai ficando restrito.

Em entrevista para a Agência France Presse, o diretor da Dian Fossey Gorilla Fund em Ruanda, Felix Ndagijimana, disse que gorilas já foram vistos saindo do parque e procurando comida fora, e que esses animais tendem a se afastar mais da borda do parque.

Os resultados dessas situações podem ser terríveis, considerando que um gorila macho pode pesar até 200 quilos, além desses animais serem vulneráveis a doenças como gripe, pneumonia e ebola. O aumento da população desta espécie também aumentou a probabilidade de brigas entre esses animais, algo que pode ser fatal para os gorilas mais novos.

Um estudo conduzido por Felix Ndagijimana e seus colegas mostrou um aumento de infanticídios em 5 vezes, o que segundo Ndagijimana, pode ter um impacto negativo no crescimento da população de gorilas.

Esse tipo de problema é mais presente em Ruanda. Para tentar resolver o problema, a Ruanda pretende aumentar seu parque, adicionando 23% de área no decorrer da próxima década. O projeto deve começar no ano que vem, deslocando 4000 famílias de agricultores. Segundo o diretor do parque, Prosper Uwingeli, oficiais estão conduzindo estudos e desenhando detalhadamente os locais de realocação.

As autoridades pretendem indenizar as famílias deslocadas e colocá-las em vilas-modelo, com escolas e apartamentos. Apesar do governo insistir que a mudança irá beneficiar os agricultores, algumas famílias que vivem na fronteira do parque estão preocupadas com a situação, já que dizem que o solo do novo local é infertil.