Por Giovanna Chinellato (da Redação)
As pessoas vêm julgando Steve Best de várias maneiras em seus 30 anos na universidade UTEP, no Texas (EUA). Alguns o chamam de criador de problemas, de radical e até de terrorista por defender os direitos dos animais.
Ele diz que é sua posição de titular que o mantém no emprego de professos de filosofia. Pois é conhecido por apostar com a carreira quando protesta sobre a política ambiental da universidade, ou quando apoia abertamente movimentos “criminosos” para libertação de animais em laboratórios ou matadouros.
“Hey, se Martin Luther King não tinha medo de perder sua vida, eu não devo ter medo de perder meu emprego”, Best afirma.
Ele viaja por todo o país e tão além quanto a África do Sul para falar de abuso contra animais. Em 2005, O Reino Unido baniu Best de seu território por apoiar o uso de violência para defender os direitos animais.
Em 2004, na Universidade de Iowa, Best defendeu as ações da Animal Liberation Front (Frente de Libertação Animail). Isso foi meses depois de os membros da organização invadirem os laboratórios universitários, removerem cerca de 400 animais e destruírem equipamentos.
“Eu não considero a destruição de bens como violência”, alega Best, “eu considero destruir vidas de animais como violência”.
O senado dos Estados Unidos convocou-o para uma audiência sobre ecoterrorismo, mas Best negou o convite. Apesar de sua ausência, Best foi tema de uma séria discussão no Capitólio. O Center for Consumer Freedom (Centro pela Liberdade do Consumidor) criticou Best por seu contato com ativistas que haviam sido presos pela polícia ao invadir fazendas de criação.
Um desses contatos é com o ativista Gary Yourofsky, que visita as aulas de Best como palestrante convidado todo semestre. Yourofsky já foi preso mais de doze vezes por ataques de libertação animal e ficou seis meses em uma prisão de segurança máxima no Canadá. E Yourofsky estará na sala de aula de Best segunda-feira que vem.
É difícil para os outros entenderem a posição radical de Best, a filosofia do filósofo.
“Minha posição é querer fazer da filosofia um perigo novamente. Ela é muito segura”, Best diz, “filosofia é uma profissão. Costumava ser algo perigoso. Sócrates foi morto por filosofar”.
E é assim que Best vive sua vida – no limite.
“Posso ser demitido qualquer dia”, ele disse.
Também disse que foi uma série de epifanias que o levou ao veganismo, renomado estudioso, impopular entre muitos professores do departamento e advogado em um caso difícil.
Best nasceu em Chicago, no dia 20 de dezembro de 1955. Seu pai morreu de doença no fígado quando Best tinha apenas cinco anos. Quando fez 11, sobreviveu a um acidente de avião que matou seu irmão mais velho. Os dois eventos modelaram sua personalidade.
“Eu cresci frustrado com a sociedade. Todas as crianças tinham um pai,”, Best disse, “isso fez-me independente e desconexo. Sentia-me bastante alienado”.
Ele assumiu envergonhadamente ter judiado de abelhas quando era pequeno, prendendo-as em potes de vidro e estourando bombinhas no recipiente. “Sinto-me mal por isso”.
Best cresceu em subúrbios de Chicago com uma irmã menor e três irmãos mais velhos. Rapidamente enjoou da escola e da vizinhança. Foi expulso do colégio por não prestar atenção nas aulas. “Eu era geralmente indisciplinado, mal comportado, mas principalmente entediado”.
Ele começou a trabalhar como motorista de caminhão e tocava guitarra em bares até adquirir tendinite no pulso direito. Certa vez, passou uma semana na cadeia de Cook County por brigar num bar, quando era adolescente.
“Eu gosto da mantra de Malcolm X, ‘nasci um problema’”, Best disse.
Quando tinha 22 anos, ele voltou à escola para conseguir um diploma em artes numa faculdade comunitária. Acerca daquela época, ele descreve o dia em que parou de comer carne durante um jantar no restaurante White Castle.
“Eu estava comendo um cheeseburguer, e estava tão exagerado, tão grotesco e nojento, derramando carne e sangue e violência. Percebi pela primeira vez em minha vida que eu não estava comendo algo que viera do supermercado, mas algo que viera de um matadouro.”
Ele cuspiu a “refeição”.
Best se tornou vegetariano e começou a se envolver com movimentos de direitos humanos na década de 1970.
“Eu estava me tornando um tanto político, então me voltei à filosofia”, ele disse.
E começou a agir segundo suas crenças, inclusive escondendo refugiados de El Salvador em igrejas locais.
Best recebeu o diploma de bacharel em filosofia na Universidade de Illinois em 1983. Concluiu o mestrado em filosofia na Universidade de Chicago em 1987.
Sua vida e dieta mudaram para sempre naquela época, quando leu um livro de Peter Singer chamado Libertação Animal.
“Aquilo revirou minha mente”, Best diz, “eu aprendi o que acontece em um circo, laboratório e matadouro”.
Antes de ir para El Paso, completou um doutorado na Universidade do Texas em Austin, em 1993.
Best diz que El Paso estava para direitos animais assim como Montgomery, Ala., estava para direitos civis em 1955.
“El Paso seria um ótimo lugar para expandir algumas consciências e erguer um inferno”, Best pensava na época.
E ele viveu um “show” em El Paso.
Em 1999, Best conseguiu levar Sissy, a elefanta do zoológico de El Paso, para um santuário no Tenesse. Os empregados do zoológico tinham acorrentado suas patas. A situação virou escândalo na comunidade quando um vídeo foi levado a público. O prefeito na época, Carlos Ramirez, forçou a demissão do diretor do zoo, David Zucconi.
“Eu acho que nenhum animal merece um zoológico”, Best diz, “eles ficam entediados e deprimidos”.
Em 2001, depois do ataque de 11 de setembro, a polícia prendeu Best e outras quatro pessoas num restaurante do West Side por terem acusado o dono de comprar galinhas vítimas de maus-tratos.
Best disse que abriu a porta do restaurante e viu a polícia e seguranças prontos para prendê-los. Ele sabia que tinha cerca de dois segundos para subir na mureta e abrir sua jaqueta para mostrar a camiseta que dizia “Este lugar está fechado para a crueldade”.
Em 2007, Best estava entre um grupo que tentou, sem sucesso, mandar outros dois elefantes ao Tenesse, Savannah e Juno. Mas a câmara municipal decidiu manter os animais no zoo de El Paso.
Best usou seu cargo de professor para encorajar estudantes a unirem-se a ele em protestos e levou estudantes a encontros de aconselhamento. Em 2000, ele organizou um protesto com 200 pessoas, a maioria estudantes, na frente da câmara municipal, pedindo um novo abrigo para animais.
“Eu queria mostrar aos estudantes não só como pensar, mas também como agir como cidadãos, porque somos treinados para ser pagadores de impostos e consumidores. Não somos treinados para sermos cidadãos e pensadores críticos”, Best disse.
Ele disse que seus supervisores o advertiram a parar de encorajar estudantes à desobediência civil. Num comitê do Senado em 2005, o Center for Consumer Freedom alegou que Best usava sua posição acadêmica para engajar estudantes ao Animal Liberation Front.
“Terei sorte se fizer meus alunos se manifestarem por comida livre de crueldade. Agora, se uniram a uma organização criminosa?”
Embora Best diga não ter cometido nenhum crime com o grupo, é listado como conselheiro e porta-voz do Animal Liberation na América do Norte.
“Sou o único acadêmico do país que apoia a organização”, Best alega.
Os que temem o grupo modificaram uma lei em 2006 para dar ao Departamento de Justiça mais autoridade para agir contra grupos de defesa animal. O Animal Entrprise Terrorism Act agora protege lugares acadêmicos e comerciais para vender ou usar produtos de origem aniamal.
Best disse que a comoção pelos direitos animais foi demais para a UTEP. Ele conseguiu uma cadeira no departamento de filosofia em 2000. Porém, foi pedida sua reposição, que aconteceu em 2005.
Howard Daudistel, reitor de artes liberais na universidade, disse que as atribuições de cadeiras não são permanentes e passam por certo rodízio.
“Se o departamento quer fazer uma mudança, é comum que seja recomendada uma substituição”, disse Daudistel.
Embora Best dê a si mesmo nota 6 como parte do departamento, ele alega que não merecia ser removido. Sentiu-se traído e alienado pelo departamento.
“Eu fui deposto por razão políticas e por colegas que fingiram ser um problema administrativo, quando na verdade era uma questão de ideais.”
Jules Simon, membro do departamento, disse que Best estava desfocado demais com o movimento para liderar um departamento.
“Parte da razão é que ele fica muito ocupado com suas atividades, pesquisa e ativismo pelos animais”, Simon diz. “Esse foi provavelmente o principal motivo”.
Best pediu para ser promovido de professor assistente para professor propriamente dito. Porém, ele diz que os oficiais da universidade disseram-lhe que precisa de mais comunhão social para conseguir a promoção. Best diz que também perdeu uma caixa cheia de materiais.
“Não acho que estejam me tratando com justiça na UTEP”, ele disse.
Natalicio, presidente da UTEP, estava fora da cidade e não conseguiu ser localizado para comentar. Daudistel disse que ele não comentaria sobre Best não ser promovido.
“Os administradores gostam de pessoas passivas e que dão dinheiro para a universidade, então assumo que não estavam entusiasmados comigo”.
Atualmente, Best toma conta de oito gatos numa casa de pátio aberto em Anthony, uma “utopia felina”, segundo ele mesmo diz.
A casa, pintada de branco e azul, é antiga e cheia de artefatos ecléticos de lugares como Egito e Inglaterra. Ele tem fotos de animais penduradas em todas as paredes.
Best nunca se casou e diz que nunca irá, apesar de ter tido namoradas.
“Sou um bacharel dedicado. Um bacharel em filosofia. A liberdade é parte do meu comprometimento”, ele disse, “e, além disso, quem iria me querer?”
Best diz que nunca quis ter filhos, e é por isso que fez a vasectomia 10 anos atrás.
“Não gosto de crianças. Gosto de gatos”, ele diz. “Existem pessoas demais nesse planeta”.
Na sala de aula, estudantes prestam bastante atenção ao que ele diz. Best frequentemente ergue a voz e usa as mãos para enfatizar tópicos.
Ydali Cervantes, que participa das aulas de ética, diz gostar de se manifestar.
“Eu gosto da matéria em questão”, Cervantes diz, “e ele nos encoraja a pensar por nós mesmos”.
Do auditório da UTEP para a África do sul, Best continuará a pregar os direitos animais pelo mundo. Esqueça as cartas de ódio e ameaças de morte.
“Aconteça o que acontecer, estou preparado”, ele diz.
Fonte: El Paso Times