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GASES NA ATMOSFERA

Principal indicador da crise climática: concentração de CO2 bate recorde em março de 2024

O mundo vive uma emergência climática e o principal indicador da crise – que se traduz no aumento da temperatura global – é a concentração de CO2 na atmosfera.

8 de abril de 2024
José Eustáquio Diniz Alves
3 min. de leitura
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Em 1958, o cientista Charles Keeling instalou no alto do vulcão Mauna Loa o primeiro equipamento para medir as concentrações de CO2 na atmosfera. Isto possibilitou, a partir de uma sólida série de dados, que houvesse a medição direta da concentração de gases de efeito estufa (GGE). A série da curva de Keeling mostra que a concentração de CO2 na atmosfera, na média anual, estava em 316 ppm em 1959, atingiu 401 ppm em 2015, ano do Acordo de Paris, e alcançou 422 ppm em 2023, conforme mostra o gráfico acima.

Este crescimento exponencial apresentado pela curva de Keeling é um fato inédito na história da humanidade e nunca, nos últimos 14 milhões de anos, havia ocorrido concentrações de CO2 na atmosfera acima de 420 ppm. Segundo o artigo “Toward a Cenozoic history of atmospheric CO2”, publicado na revista acadêmica Science (08/12/2023), a última vez que a atmosfera registrou 420 partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono foi entre 14 e 16 milhões de anos atrás, quando não havia gelo na Groenlândia e os ancestrais mais próximos dos humanos (hominídeos) ainda não existiam. Este novo estudo indica que isto é muito mais antigo do que os 3 a 5 milhões de anos indicados por análises anteriores.

No nível atual e no ritmo de aumento da concentração de CO2, a humanidade não vai conseguir evitar que a temperatura média global ultrapasse os 2ºC estabelecidos como limite máximo do Acordo de Paris. Para evitar um colapso climático, a concentração anual de CO2 precisa diminuir e ficar abaixo de 350 ppm.

Mas em vez de diminuir, a concentração de CO2 na atmosfera está aumentando e, o pior, está aumentando de forma acelerada. Na década de 1960, a concentração aumentava em média 0,86 ppm ao ano, na década de 1970 passou para 1,29 ppm aa, na década seguinte foi 1,61 ppm, caiu ligeiramente na década de 1990 para 1,51 ppm aa, subiu para 1,97 ppm na primeira década do século XXI e atingiu 2,43 ppm na média anual entre 2010 e 2019, conforme mostra o gráfico abaixo.

Com as deliberações do Acordo de Paris, de 2015, esperava-se que as emissões de gases de efeito estufa fossem reduzidas e que o ritmo de aumento da concentração de CO2 na atmosfera diminuísse. Porém, a concentração continua aumentando e bateu todos os recordes em 2023, com 3,36 ppm de aumento no ano passado.

Depois de um aumento tão forte e inédito em 2023, era de se esperar uma redução no ritmo de aumento em 2024. Mas os 3 primeiros meses do atual ano está apresentando dados ainda mais assustadores. No mês de fevereiro de 2024 a concentração de CO2 atingiu 424,55 ppm, um valor 4,25 ppm acima do registrado em fevereiro de 2023.

Em março de 2024 a concentração de CO2 atingiu o recorde histórico de 425,38 ppm, valor 4,39 ppm acima de março de 2023. A primeira semana de abril registrou novo recorde de 426,71 ppm, valor 4,07 ppm acima da semana correspondente de 2023, conforme mostra o gráfico abaixo. Novos recordes virão até o mês de maio que é, normalmente, o pico das concentrações anuais.

Portanto, a civilização está percorrendo uma rota perigosa. O aumento da concentração de CO2 na atmosfera contribuiu para o fato de termos 10 anos seguidos (2014 a 2023) de recordes de temperatura, sendo que as temperaturas de 2023 foram as mais elevadas em 125 mil anos. O mundo já teve 506 dias com anomalias da temperatura acima de 1,5ºC, 100 dias com anomalia acima de 1,75ºC e 6 dias acima de 2ºC, colocando em xeque as metas do Acordo de Paris.

Como disse o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres: “Estamos no caminho para o inferno climático”. Se esta rota não for alterada, as consequências serão catastróficas para os ecossistemas, a economia e a população mundial. O efeito estufa trará custos enormes e as sociedades não estão preparadas para pagar o alto preço de limpar no futuro a sujeira feita no passado e no presente.

Fonte: EcoDebate

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