Eurico Santos, em seu livro Zoologia Brasílica, volume 5, página 271, descreve minuciosamente a pintura de uma avezinha discreta delicada que agrada nossos olhos com sua figura harmoniosa, higiene de penas impecável, o “Sporohila c. Caulescente”, o nosso papa-capim ou coleirinha. Mas não é dele que vamos falar, mas de um seu parente próximo. Apareceu e vivia sob observação, no “Recanto dos Pássaros”, de propriedade de José Valmir de Salvi, aqui em Serra Negra, um exemplar de coleirinha que aguçou a curiosidade dos amantes da ornitologia na região. “Cara-Metade”, nome de registro do pássaro tinha a sua razão de ser. Por um erro ou capricho da natureza, era um ginandromorfo (animal metade masculino e metade feminino) perfeito, pois mostra claramente na linha mediano do corpo, a divisão dos caracteres sexuais.
A parte direita é masculina com todos os detalhes da plumagem, sendo que a “coleira” (parte do corpo que originou o nome popular da ave), cessa na linha mediana do pescoço, sem que uma pena, por minúscula que seja, avance a demarcação; a parte esquerda reveste-se com traje feminino e, segundo Helmut Sick, autor de Ornitologia Brasileira, à página 755, isto “…reflete a regra de que em aves apenas o ovário é desenvolvido. No mesmo trecho Sick, o cientista das aves, ante o qual o mundo se curva por sua sabedoria, experiência, conhecimento, pesquisas, trabalhos divulgados, revela ter visto em toda a sua vida, apenas dois exemplares com essa anormalidade morfológica. O terceiro exemplar é o que viveu em Serra Negra. Os observadores de pássaros de nossa região confessam nunca terem ouvido falar. Até João Rosa, nos seus oitenta e poucos anos de atividades ligadas à sondagem e observação de pássaros silvestres, desconhecia.
Interessante é a corte dessa ave. A aproximação de uma fêmea, à parte masculina do “Cara-Metade”, este reage num galanteio carinhoso, exibindo a plumagem e fazendo tremular a asa direita enquanto solta o canto com todas as notas de macho-criado. Entretanto, quando um macho é colocado próximo ao seu lado feminino mostrando interesse e entusiasmo para o início de “namoro”, o lado masculino volta-se ameaçando briga como se o intruso tivesse avançado sua zona de influência como acontece em meados da primavera e durante todo o verão com qualquer macho acasalado o preparando o berço dos filhotes. (Esta matéria foi redigida com base em informações fornecidas por Benedito Gomes Tosa – Revista Brasil Ornitológico 54)
Fonte: O Serrano