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Por que a esquerda libertária precisa abraçar os Direitos Animais (Parte 1 de 3)

13 de junho de 2013
5 min. de leitura
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Aviso: Se você diz não gostar de “rótulos políticos” ou “ismos” ou acha que “não existe mais esquerda ou direita”, terá dificuldades em compreender o texto. Aqui é clara a divisão ideológica do espectro político entre esquerda e direita, embora não esteja estabelecida uma divisão rigorosa das pessoas entre esquerdistas e direitistas, visto que alguém pode ser ao mesmo tempo libertacionista para algumas causas e conservador para outras.

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A esquerda libertária contemporânea, que abrange desde o estatismo socialista de soberania democraticamente popular até o anarquismo, tem negligenciado uma causa que tem tudo a ver com ela – os Direitos Animais, a libertação dos animais não humanos do atributo moral forçado de coisas sob propriedade humana e da violência inerente a esse tratamento objetificante. Aliás, a maioria dos esquerdistas tem desprezado os DA, enxergando-os sob uma ótica deturpada, com direito a alguns os considerarem uma ideologia de direita e anti-humanista. E isso precisa ser consertado desde já.

Não é preciso muito malabarismo político para perceber que os Direitos Animais têm muitas características em comum com as das demais bandeiras da esquerda do século 21 e praticamente nada similar ao que a direita moderna defende, e isso os torna essencialmente uma causa a ser abraçada, defendida e praticada pela asa esquerda.

Respondendo logo à pergunta do título deste artigo: a esquerda libertária precisa abraçar os Direitos Animais porque os DA são uma causa libertária essencialmente de esquerda. Pelo menos as treze razões listadas e justificadas a seguir fazem o abolicionismo convergir excelentemente com temas canhotos como Direitos Humanos, pacifismo, igualdade e libertação social.

Isso não impede que quem se considera de direita continue defendendo a libertação animal. Tal atitude faz esses direitistas estarem sendo esquerdistas especificamente no tema DA, o que é contraditório a um ponto de vista holístico mas não é nada absurdo em um mundo onde todas as pessoas são liberais ou libertárias para alguns temas e conservadoras para outros. Isso não tem nada a ver com querer que os direitistas abandonem a causa animal por ela ser de esquerda. Não defendo que direitistas sejam expulsos da militância abolicionista ou a abandonem por conta própria, mas sim que eles estão agindo de acordo com o esquerdismo quando a ela se integram.

 

1. Os DA são uma causa igualitária

O abolicionismo defende basicamente a igualdade de direitos e de dignidade entre animais humanos e não humanos, tal como a esquerda defende a consideração moral e legal igualitária entre todos os seres humanos. Defender os animais não humanos torna-a muito mais profunda e libertadora, tal como o ambientalismo, ao ser incorporado por ela, tornou bem mais abrangente, forte e coerente seu portfólio de bandeiras e seu empenho na defesa da libertação das categorias oprimidas.

Esquerda que se preze defende direitos a todos aqueles que os merecem, inclusive o direito ambiental das plantas de não serem destruídas sem uma necessidade urgente. Corre o risco de ser incoerente e limitada ao defender libertação para uns e não para outros quando estes últimos demandam, nem sempre ativamente e sacudindo eles mesmos bandeiras na rua, o reconhecimento de suas necessidades e sua dignidade. Desprezar os Direitos Humanos fez o socialismo histórico do século 20 ser estigmatizado para muitos como uma “ideologia do mal”, e atrapalhou enormemente os esforços mesmo da esquerda libertária de se expandir à popularização. A mesma coisa periga, de alguma forma, acontecer em breve se esta continuar negligenciando os DA.

 

2. Os DA questionam a ordem e ideologia dominante vigentes e pretendem derrubá-las em prol de um mundo de justiça real

Eles fazem aquilo que a esquerda faz desde a época do Iluminismo, quando sentava à esquerda do rei francês: questionar o estado de coisas vigente e o ideário por trás dele e lutar para derrubá-lo em promoção de um novo status quo baseado na justiça e na igualdade. O sistema de escravidão animal que vigora hoje é, sem dúvidas, algo injusto, violento e explorador, tanto quanto o capitalismo, ou ainda pior que ele.

Aliás, exploração animal e capitalismo andam de mãos dadas, entrelaçadas e com alianças, visto que o último potencializa enormemente o primeiro, vide a sanha de pecuaristas, de empresários da pesca, de organizadores de rodeios, de fabricantes de equipamentos para biotérios e laboratórios de experimentação animal etc. por lucro; a industrialização da pecuária em fazendas-fábricas; a inibição do ativismo financeiro do veganismo (no sentido de provocar prejuízos ao caixa de empresas não veganas através apenas do boicote) etc.

Bombardear de questionamentos o sistema e lutar contra ele é algo que os Direitos Animais fazem com primazia, com expedientes muito semelhantes aos da esquerda política. Assim como um mundo melhor é algo que ambos defendem com o mesmo rigor e afinco.

 

3. Os DA se posicionam contra formas abusivas de propriedade privada: os animais se somam aos meios de produção no que tange a propriedades privadas a serem abolidas

A esquerda libertária e os DA compartilham a luta contra determinadas formas de propriedade privada (não incluí aqui propriedades como sapatos, celulares, armários, mesas, lençóis e outros objetos de uso doméstico). Enquanto a primeira defende a extinção da cultura de possuir privadamente os meios de produção, os últimos fazem o mesmo do tratamento dos animais não humanos como propriedade.

Aliás, ambos têm em comum a exigência de que sujeitos morais deixem de ser tratados como propriedade e explorados como tal, assim como a demanda pela extinção de modos de produção baseados na negação de direitos, como o capitalista e o pesco-pecuarista.

 

4. Os DA defendem a libertação de uma minoria política de um sistema de exploração violenta

Como defendem o fim de sistemas opressivos de propriedade e produção, os DA e o esquerdismo se opõem à exploração proporcionada por eles, assim como à ideologia dominante que os trata como algo “natural”, “inexorável” e “inabolível”. Os primeiros, aliás, parecem ser o passo seguinte da bandeira libertária da esquerda.

Na França pré-revolucionária, os jacobinos lutavam contra a exploração do Terceiro Estado (trabalhadores e burgueses) pelos dois primeiros (nobreza e clero). Marx, Engels e os marxistas, contra a do ser humano pelo ser humano. Os abolicionistas humanos do século 19, contra a dos escravos pelos seus senhores. @s feministas, até hoje, contra a das mulheres pelos homens. E agora temos os defensores dos DA em confronto contra a exploração dos animais não humanos pelos humanos. E nada, nada mesmo, torna racionalmente esta última mais aceitável do que as demais, ou algo em que a esquerda não pode atuar.

 

O artigo continua na sua segunda parte.

 

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