Por Lilian Regato Garrafa (da Redação)
Quantas vezes ainda vamos ouvir falar de policiais perdendo a cabeça – e um monte de balas – quando se deparam com um animal? E o pior é que isso não acontece apenas em relação a cães.
Em Sacramento, nos EUA, está acontecendo a feira de exposições California State Fair. Este evento, anunciado como Big Fun (“um grande divertimento”), já se encontrava sob a mira dos grupos de direitos dos animais quando decidiu ter como atração um berçário de animais. Isso incluiria uma vaca dar à luz ao vivo diante de uma grande multidão. Uma atitude completamente desumana: mães em trabalho de parto precisam de calma e tranquilidade.
É bem provável que os organizadores da feira não tenham ficado satisfeitos com a repercussão negativa na imprensa, causada pela reação de tais grupos, mas eles sequer imaginavam o que viria em seguida.
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Na terça-feira (27), a vaca prenha foi levada à feira para ser colocada em exibição. No processo de descarregamento, de alguma forma ela se soltou e se afastou para explorar a área. A polícia passou mais de uma hora perseguindo o animal ao redor do recinto de feiras. A vaca, estressada depois de ser perseguida por um carro, ficou muito assustada após uma arma com tranquilizante ter falhado. Um dos policiais, então, sacou sua arma e atirou nela. E não foi um único tiro, nem dois… foi um total de onze tiros. A vaca e seu bezerro, que estava para nascer no dia seguinte, morreram.
Brian May, o diretor da exposição, tentou defender a ação extrema, alegando que milhares de pessoas “temiam por sua segurança”. Sério? Se uma vaca prenha está solta, disparar uma arma de fogo e meio a uma multidão é considerado seguro? Um vídeo do momento, filmado por um fornecedor, mostra a vaca vagando em meio a uma área praticamente vazia, e só se mostra agitada quando o carro começa a persegui-la bem de perto, uma reação que deveria ser esperada de qualquer animal. Assista à perseguição, segundos antes dos covardes disparos:
Dick Snider, um dos vários vendedores de feira que estavam se preparando para o dia, viu o confronto fatal e disse que não era necessário atirar. “Eu tentei convencê-los de que bastaria apenas pegar uma corda, aos poucos enrolar nela e levá-la de volta para o celeiro”. Snider viu a vaca passar por seu estande e confirmou que o animal não parecia agitado.
“Eu considerei o ato como cruel e excessivo. Fiquei verdadeiramente doente com aquilo”, disse o vendedor e técnico veterinário Nikki Sherman. “Se eles têm gado aqui, eles deveriam ser capazes de lidar com isso.”
Os grupos de direitos dos animais fizeram um novo protesto no dia seguinte, data que se marcou pela morte em vez do esperado nascimento.
“Estamos todos absolutamente chocados e horrorizados que um péssimo tratamento aos animais como este tenha lugar em uma propriedade do Estado, sob a orientação da Escola de Veterinária da Universidade da Califórnia”, disse Jennifer Fearing, diretor sênior da Humane Society dos Estados Unidos.
O grupo também está pedindo um fim às exposições de gado com animais gestantes.
“(As exposições) realmente são um anacronismo no âmbito de uma feira cujo foco é na verdade vender bolinhos e raspadinhas”, disse Fearing.
No entanto, eles ainda planejam continuar com performances de nascimentos ao vivo na feira, o que é extremamente decepcionante. Sacramento havia dado um passo à frente com uma nova lei para proteger os animais forçados a se apresentar em exposições itinerantes, como circos e rodeios. É lamentável que haja maior preocupação com o bem-estar dos elefantes do que exposições de gado.
Com informações de Animals Change e News 10
Nota da Redação: Como se não bastasse o profundo desrespeito aos animais, que são expostos como objetos em uma feira, sofrendo contínuo estresse e confinamento para deleite humano, sacrifica-se uma vida, uma mãe às vésperas do parto, por simplesmente ter-se soltado do grupo. Um crime covarde e comprovadamente desnecessário, que merece não só uma severa punição, mas uma reflexão sobre todo este fútil processo de exposição de animais, principalmente aqueles destinados ao consumo humano – que de uma forma ou de outra serão violentamente mortos. A ANDA expressa sua mais profunda indignação quanto ao sofrimento desse animal e de tantos outros maltratados pelos humanos, e oferece, neste momento, a todos os leitores que compartilham dessa tristeza e revolta as palavras proferidas por Clarice Lispector, em sua última entrevista concedida à imprensa: “que morreu com treze balas quando uma só bastava… o primeiro tiro me espanta… o décimo-segundo tiro me atinge, o décimo-terceiro sou eu… eu me tornava Mineirinho, massacrado pela polícia… qualquer que tivesse sido o crime dele, uma bala só bastava… o resto era vontade de matar, era prepotência”.