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CASO BIOPARQUE

PF resgata 15 girafas após encontrar animais feridos e em baias sujas

27 de janeiro de 2022
5 min. de leitura
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Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Policiais federais resgataram ontem (26)  15 girafas em um resort safari, em Mangaratiba, litoral sul do Rio de Janeiro. A ação faz parte da investigação sobre as mortes de três das 18 girafas importadas da África do Sul e que seriam levadas para o Bioparque, o zoológico do Rio, para serem exploradas para entretenimento humano.

Dois homens responsáveis pela manutenção dos animais foram presos em flagrante e conduzidos à Superintendência da Polícia Federal no Rio, onde foi feito um termo circunstanciado de ocorrência por maus-tratos, crime previsto na lei de crimes ambientais. Depois, os homens foram liberados.

Os animais apreendidos foram entregues ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Além dos presos, representantes do Grupo Cataratas, dono do Bioparque, também foram levados para a delegacia.

Os animais estavam há mais de 75 dias num galpão onde ficavam presos em espaços de quarenta metros quadrados.

A operação

Nessa quarta (26), agentes da Polícia Federal verificaram as condições em que as girafas estavam sendo mantidas, num galpão dentro do resort Porto Bello, em Mangaratiba. Lá, os agentes encontraram muita sujeira acumulada no chão das baias e até ferimentos nos animais.

Além da PF, o Ministério Público Federal investiga a ocorrência de crime de maus-tratos contra as 15 girafas que ainda permaneciam em Mangaratiba. O MPF está também está apurando se a importação dos animais seguiu as normas brasileiras e internacionais.

“Tanto o Ibama quanto a Polícia Federal que estiveram hoje [quarta-feira] no local caracterizaram aquela situação das girafas como crime de maus-tratos. Por esse motivos, os responsáveis do Grupo Cataratas foram levados à Polícia Federal “, explicou o procurador da República Sergio Suiama.

O que diz o Bioparque

Em nota, o Bioparque disse que não houve maus-tratos dos animais e que as denúncias são infundadas. Acrescentou, também, que está à disposição dos órgãos competentes para prestar todos os esclarecimentos necessários e que o processo de importação foi devidamente aprovado pelos governos brasileiro e sul-africano.

A importação

No dia 11 de novembro do ano passado, 18 girafas chegaram ao Rio num avião jumbo. A importação, a maior de animais de grande porte já feita pelo Brasil, foi autorizada pelo Ibama.

Do aeroporto, foram levadas para Mangaratiba, a duas horas do Rio, e depois para o Portobello Resort & Safári, que tem 300 mil metros quadrados.

Numa área isolada fica o galpão onde estavam as girafas. Há mais de 75 dias, elas permaneceram no local só com luz do sol entrando pelas janelas, já que a única tentativa de caminhada ao ar livre não acabou bem.

Numa parte externa, seis atravessaram a cerca, fugiram e foram recapturadas. Três morreram horas depois.

As girafas não saem mais para o espaço ao ar livre desde o dia 14 de dezembro. Cada baia de 40 metros quadrados tem três girafas. A previsão é de que os animais saiam para o ar livre nos próximos dias.
“É um processo de transição, de habituação, onde o animal precisa criar uma relação positiva com o novo tratador, com a nova equipe. E, após esse processo, que pode demorar um mês, dois, três, até seis dependendo do indivíduo, eles vão lentamente tomando confiança, segurança, até que possam vir para cá”, disse Claudio Mass, responsável técnico pelo Bioparque.

Proposta do Bioparque

As 18 girafas vieram da África do Sul compradas pela empresa que ganhou a concessão para administrar o zoológico do Rio.

Após reformas, o espaço foi aberto com outro nome, Bioparque, e a proposta de criar um centro de conservação. Esta foi a maior importação de animais de grande porte já feita pelo Brasil, segundo várias entidades de defesa da vida selvagem.

Foi preciso fretar um jumbo para trazer as 18 girafas. Os responsáveis dizem que elas fazem parte de um projeto de conservação, vieram de reservas privadas de manejo sustentável de fauna e não foram capturados na natureza.

Afirmam também que a instituição de origem foi aprovada pelos órgãos competentes brasileiros e sul-africanos.

“O objetivo da vinda desses bichos para o Brasil é compor um pool genético para revigorar a população brasileira. Uma parte desses animais (…) vai para o Bioparque ou para outros mantenedores de acordo com as recomendações genéticas dos grupos de zoológicos que trabalham com esses animais, hoje, no Brasil”, afirma Claudio Mass.

Animais retirados da natureza

O Ibama concedeu uma licença que tem selo da Cites, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da flora e fauna selvagem em perigo de extinção. A mesma letra aparece em toda a lista de animais: w, de wild, selvagem em inglês.

A classificação é feita pela Cites, que define o código W – animais retirados da natureza. Uma portaria do Ibama estabelece que não será autorizada a importação de animais da fauna silvestre exótica provenientes de captura da natureza e destinados ao comércio.

Três instituições,  Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA), o Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal e a Ampara Animal, entraram na terça-feira (25) com uma ação na Justiça do Rio pedindo esclarecimentos e a cobrança de multas de R$ 50 mil por dia, além de R$ 1 milhão por danos coletivos, por causa das três girafas mortas.

“Espaços mínimos, animais que passaram por uma situação muito estressante. E quais foram os protocolos que foram usados para evitar que acidentes como esse acontecessem?”, questiona Vania Nunes, diretora do Fórum Nacional de Proteção Animal.

“Não faz sentido, em termos de conservação, você trazer 18 animais de origem de vida livre para um projeto inexistente no Brasil de conservações de girafa. Isso é um contrassenso na biologia da conservação”, afirma Mauricio Forlani, gerente de projetos da Ampara Animal.

Os projetos de conservação destas espécies costumam ter um plano com a participação de outros zoológicos.

“Nós não concordamos em tirar animais da natureza, ponto. Se a gente não sabe o que tem em cativeiro e se a gente não sabe ainda o diagnóstico, não tem porque trazer”, diz Mara Cristina Marques, presidente da Associação de Aquários e Zoológicos do Brasil.

O Ibama afirmou que está ciente da situação e vai apurar eventuais irregularidades cometidas pelo importador e que a autorização para a importação das 18 girafas foi emitida após avaliações de regularidade e da capacidade do importador de receber os animais.

Fonte: G1

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