Na Floresta, todas as formas de vida são interligadas. Desde os indivíduos microscópicos até os animais de grande porte. O macaco é um exemplo disso. Pertencente à biomassa de frugívoros – animais que consomem frutos – os macacos dispersam sementes e, consequentemente, regeneram a floresta. Entretanto, esse processo natural pode ser rompido quando houver, por meio da ação humana, o corte seletivo de árvores primárias.
A afirmação é do biólogo e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Wilson Roberto Spironello, que realizou a pesquisa “Efeito do corte seletivo de baixo impacto sobre a comunidade de primatas em floresta de terra firme Amazônica”.
O estudo teve como objetivo verificar o efeito dos cortes em áreas de manejo florestal nas comunidades de primatas. Para Spironello, somente após análise dos dados, como o levantamentos de senso populacional, caracterização da vegetação (tamanho e diâmetro das árvores e abertura de dossel), pôde-se verificar como o desmatamento afeta as comunidades de primatas.
O experimento foi realizado em área de manejo florestal, de 123 mil hectares, pertencente à empresa Mil Madeireira Ltda, localizada na estrada Manaus-Itacoatiara (AM 10 – Km 220). Durante a pesquisa, foram estudadas sete espécies existentes naquela localidade, entre as conhecidas popularmente como Guariba, Aranha, Parauacu, Cuxiú, Sagui Menor (Midas), Prego e Tucheiro, este último encontrado somente em áreas alagadas.
O pesquisador explicou que com o avanço do desmatamento da floresta amazônica, principalmente nas regiões de Rondônia e sul do Pará, houve a preocupação de se compreender todo o processo regenerativo da floresta.
“O fato é que, não se pensou, a longo prazo, na preservação de todos os ambientes existentes da floresta, como tipo de habitat e de espécies. Se nós conservarmos apenas as reservas em si ou áreas indígenas, ainda é insuficiente”, afirmou.
Outro motivador para a realização da pesquisa foi entender como as áreas de concessão de manejo florestal podem ser destinadas como Unidade de Conservação (UC). A partir daí, surgiu a ideia da aplicação do estudo e se este tem valor na conservação da biodiversidade.
Spironello salientou que os resultados foram apresentados após análise do ciclo de corte, no período de aproximadamente 12 anos em áreas de controles e de pós-exploração, iniciado em 2006.
Num primeiro momento, verificou-se o ambiente nos diferentes tipos de explorações, e controle para analisar se houve variação, durante o primeiro ciclo, em áreas de manejo florestal. Como resultado, houve uma variação da vegetação, por exemplo, nas áreas de controles em relação às exploradas, verificou-se 15% menos de árvores e 25%, também a menos, das exploradas comercialmente.
“Nesse sentido, percebemos que há uma pequena variação, todavia diminui com o tempo, ficando mais próxima do controle. Nessas condições houve um efeito mínimo nas comunidades de primatas. Num primeiro instante, a pesquisa demonstrou resultados positivos, pois não verificou grandes efeitos nas comunidades de primatas, entretanto, segundo o pesquisador, podem ser melhoradas e pontuadas outras variações do estudo no futuro. “Com o resultado é possível traçar políticas públicas em áreas de conservação e manejo florestal”, ressaltou.
A pesquisa foi financiada pelo Programa de Infraestrutura para Jovens Pesquisadores – Programa Primeiros Projetos (PPP) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).
Este programa, desenvolvido em parceria com o CNPq, consiste em apoiar a aquisição, instalação, modernização, ampliação ou recuperação da infraestrutura de pesquisa científica e tecnológica nas instituições públicas e particulares, sem fins lucrativos, de ensino superior e/ou de pesquisa sediadas ou com unidades permanentes no Estado de Amazonas, visando dar suporte à fixação de jovens pesquisadores e nucleação de novos grupos, em quaisquer áreas do conhecimento.
Fonte: Portal Amazônia